Ciência

Malhar dá fome? Estudo sugere que exercício não afeta apetite

Fatores como aroma e sabor de um prato de comida oferecido após o treino tem mais impacto na fome do que atividades leves, revela pesquisa

Para a maioria de nós, o exercício afeta o peso e a fome de maneiras inesperadas e às vezes contraditórias (Cienpies Design/StockXchng/Divulgação)

Para a maioria de nós, o exercício afeta o peso e a fome de maneiras inesperadas e às vezes contraditórias (Cienpies Design/StockXchng/Divulgação)

AO

Agência O Globo

Publicado em 1 de dezembro de 2021 às 08h11.

Ser ativo nos deixa famintos depois e propensos a comer mais do que talvez devêssemos? Ou diminui nosso apetite e torna mais fácil pularmos aquela última e tentadora fatia de bolo? Um novo estudo fornece pistas oportunas, embora cautelosas.

A pesquisa, que envolveu homens e mulheres sedentários e com sobrepeso e vários tipos de exercícios moderados, descobriu que as pessoas que malharam não comeram demais em seguida. Mas elas também não pularam a sobremesa ou economizaram nas porções. As descobertas oferecem um lembrete: embora os exercícios tenham inúmeros benefícios para a saúde, nos ajudar a comer menos ou perder peso pode não estar entre eles.

Para a maioria de nós, o exercício afeta o peso e a fome de maneiras inesperadas e às vezes contraditórias. De acordo com vários estudos científicos, poucas pessoas que começam a se exercitar perdem tantos quilos quanto o número de calorias que queimam durante o treino.

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Algumas pesquisas recentes sugerem que isso ocorre porque nossos corpos tentam obstinadamente se agarrar aos nossos estoques de gordura, uma adaptação evolutiva que nos protege contra escassez de alimentos (improváveis) futuras. Portanto, se queimamos calorias durante o exercício, nosso corpo pode nos forçar a sentar com mais frequência ou realocar a energia de alguns sistemas corporais para outros, reduzindo nosso gasto energético diário geral. Dessa forma, compensa inconscientemente muitas das calorias que queimamos ao praticar exercícios, reduzindo nossas chances de perder peso com o exercício.

Mas essa compensação calórica acontece lentamente, ao longo de semanas ou meses, e envolve gasto de energia. Logo, não está claro se e como os exercícios influenciam nossa ingestão de energia — isto é, quantas porções de comida consumimos — especialmente nas horas imediatamente após o treino.

As evidências até agora foram confusas. Alguns trabalhos indicam que o exercício, especialmente se for extenuante e prolongado, tende a diminuir o apetite das pessoas, muitas vezes por horas ou no dia seguinte. Esse fenômeno os leva a ingerir menos calorias nas refeições subsequentes do que se não tivessem se exercitado. Mas outros estudos sugerem o contrário, descobrindo que algumas pessoas sentem mais fome depois de treinos de qualquer tipo e logo substituem as calorias que gastaram — e mais algumas — com uma ou duas porções extras na refeição seguinte.

A nova pesquisa foi publicada em outubro na Medicine & Science in Sports & Exercise, por cientistas das universidades de Utah e do Colorado e de outras instituições americanas. Eles analisaram 24 homens e mulheres, com idades entre 18 e 55 anos, que estavam com sobrepeso ou obesos e geralmente inativos, e descobriram que pelo menos uma caminhada rápida ou levantamento de peso leve pode não afetar nossa alimentação subsequente tanto quanto "outros fatores", como o aroma e as delícias gustativas de um determinado prato de comida (eles ofereceram lasanha, pãezinhos amanteigados e torta…), disse Tanya Halliday, professora assistente de saúde e cinesiologia da Universidade de Utah, que liderou o novo estudo.

Os hormônios do apetite das pessoas podem ter caído um pouco após os treinos, mas essas diminuições não tiveram muito efeito sobre o quanto elas comeram depois. Mesmo assim, é preciso considerar que o exercício queima cerca de 300 calorias a cada sessão, menos do que as quase 1 mil calorias que os voluntários consumiram em média no almoço, mas centenas a mais do que quando não se exercitavam, disse ela. Ainda segundo Halliday, essa diferença pode ajudar no controle de peso.

Ainda são necessários mais estudos sobre o assunto, incluindo aqueles com grupos mais diversos e que ocorram em longos períodos de tempo. Mas a descoberta não deixa de ser fascinante, pois sugerem que “ as pessoas não devem ter medo de que, se fizerem exercícios, comam demais”, disse Halliday. Além disso, o Natal “é apenas um dia” e não afetará seu peso a longo prazo.

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