Estudo: Mulheres olham mais para o que outras ganham que hiato de gênero
O efeito é causado pela certeza de que não serão equiparadas aos pares masculinos que ocupam a mesma função
André Lopes
Publicado em 18 de abril de 2022 às 08h02.
Última atualização em 18 de abril de 2022 às 10h52.
Tornar público o salário de todos deveria ser um grande equalizador, mas um novo estudo mostra que mulheres se preocupam mais umas com as outras do que em diminuir a disparidade de gênero.
Um relatório publicado pela Comissão Europeia, o braço executivo da União Europeia, apresenta uma descoberta surpreendente - e preocupante: as mulheres dão como certo que ganharão menos do que seus pares do sexo masculino e, portanto, usam a transparência salarial para verificar se estão alinhadas com outras mulheres na mesma empresa.
Essa conclusão pode impactar os resultados de legislação pioneira que está atualmente em debate. O Parlamento Europeu votou no início deste mês que as empresas com pelo menos 50 funcionários devem divulgar dados sobre remuneração.
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As regras aprovadas também proíbem essas empresas de impedir os trabalhadores de compartilharem informações de remuneração. As propostas estão sujeitas a possíveis alterações e a uma decisão final antes de se tornarem lei, o que pode levar meses. Os legisladores disseram que o objetivo era acabar com a disparidade salarial entre homens e mulheres.
“O fato de as mulheres reagirem mais às diferenças salariais quando se comparam com outras mulheres, do que quando se comparam com os homens, implica que devemos estar atentos a este mecanismo na promoção da transparência salarial, se o objetivo é capacitar mulheres a reagirem às disparidades salariais entre homens e mulheres”, disse a autora Marianna Baggio, economista comportamental da Comissão Europeia, em entrevista na terça-feira.
Desigualdade salarial
O novo estudo lança dúvidas sobre se o aumento da transparência por si só pode corrigir a diferença entre os salários de homens e mulheres.
A pesquisa pediu a 1.800 pessoas na Alemanha, Espanha e Polônia - três dos países mais avançados no objetivo de adotar legislação de transparência salarial - para concluir uma tarefa em troca de fichas. Durante o experimento, os trabalhadores foram informados se eram bem ou mal pagos em comparação com os outros.
Quando as mulheres descobriram que estavam sendo pagas menos do que outras mulheres, elas ficaram menos motivadas a fazer um esforço extra – que não lhes daria recompensa – do que quando descobriram que os homens ganhavam mais.
Uma maneira mais eficaz de incentivar as mulheres a pedir aumentos salariais pode ser dar-lhes mais retorno sobre seu desempenho, disse a coautora Ginevra Marandola, economista do Ministério da Economia e Finanças italiano.
“Talvez as mulheres precisem aumentar sua autoestima para que se sintam no direito de reagir à diferença salarial entre homens e mulheres”, disse ela.
O estudo também descobriu que os homens tendem a se esforçar menos em uma organização com mais chefes do sexo feminino, o que Baggio disse que poderia ser porque os homens viam as mulheres como uma “ameaça ao seu status”. As mulheres trabalhavam melhor com gerentes do sexo feminino.