Estudo indica como a covid-19 alcança o cérebro dos infectados
Principal suspeita até o momento é a de que o vírus consegue alcançar determinadas células no cérebro dos doentes. Mas como ele consegue chegar lá?
Tamires Vitorio
Publicado em 1 de dezembro de 2020 às 08h56.
Última atualização em 1 de dezembro de 2020 às 08h58.
Cientistas reconheceram que o novo coronavírus não é puramente uma doença respiratória. Isso porque foi comprovado, em pouco menos de um ano desde que a doença começou a circular na China, que o vírus também impacta diretamente o sistema cardiovascular, o trato gastrointestinal e o sistema nervoso central --- mais de uma pessoa a cada três, por exemplo, apresentam sintomas neurológicos, como perda de olfato e paladar, dores de cabeça, fadiga, tontura e náusea.
Em algumas pessoas, o efeito da covid-19 é tão forte que pode levar a derrames ou outras condições sérias de saúde. A principal suspeita até o momento é a de que o vírus consegue alcançar determinadas células no cérebro dos doentes. Mas como ele consegue chegar lá? É essa a resposta que cientistas da Charité - Universitätsmedizin Berlin, na Alemanha, parecem ter conseguido responder.
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Analisando amostras de tecidos de quatro regiões diferentes do cérebro e da mucosa olfativa de 33 pacientes, com idade média de 72 anos, que morreram após contrair o SARS-CoV-2, os cientistas descobriram que todos eles apresentaram evidências virais --- sendo que a maior carga viral foi encontrada na mucosa olfativa. E é exatamente por meio dela que o vírus consegue alcançar o cérebro das pessoas.
“Os dados apoiam a noção de que a covid-19 é capaz de usar a mucosa olfativa como uma porta de entrada para o cérebro. Uma vez dentro da mucosa, o vírus parece usar conexões da neuroanatomia, como o nervo olfativo, para chegar no cérebro”, afirmou Frank Heppner, professor e coautor do estudo.
Helena Radbruch, professora e coautora do estudo, explica que o que os dados mostraram é que o vírus é capaz de se mover de célula nervosa para outra até conseguir chegar no órgão central do corpo humano. “É provável também que o vírus seja transportado por veias, uma vez que evidências dele foram encontradas nas paredes sanguíneas no cérebro”, disse ela. Outros vírus também devem usar o mesmo mecanismo, como a herpes e a raiva.
Apesar disso, ainda não se sabe exatamente como o vírus se move de uma célula do sistema nervoso para outra. O próximo passo dos cientistas é, agora, entender como isso ocorre.
Os cientistas também estudaram como o sistema imunológico responde às infecções por covid-19. Foram encontradas células imunes ativas no cérebro e na mucosa olfativa, sendo que, em alguns dos casos estudados, foram encontrados tecidos afetados por derrames causados pelo tromboembolismo venoso, que é a obstrução das veias sanguíneas por coágulos. Isso, segundo os pesquisadores, explica como os sintomas neurológicos do vírus acontecem.
“Também encontramos o SARS-CoV-2 em áreas do cérebro que controlam funções vitais, como a respiração. Não podemos descartar que, em pacientes com quadros graves, a presença do vírus nessas áreas terão um impacto exacerbado na função respiratória, adicionando problemas de respiração diferentes daqueles causados no pulmão”, explica Heppner.
Heppner nota que é importante “enfatizar que os pacientes envolvidos no estudo tiveram casos graves da doença”, pertencendo ao grupo no qual a covid-19 se torna fatal. “Não é necessariamente possível, então, transferir os mesmos resultados para casos leves ou moderados da doença”, afirmou ele.