(Getty Images/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2018 às 10h51.
Última atualização em 28 de agosto de 2018 às 16h18.
Lauri Nummenmaa apresenta vários estudos na sequência, concluindo cada um deles com uma piada. A plateia invariavelmente ri, tirando dele um sorriso de satisfação. Se após a palestra ele fosse submetido a uma tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês), provavelmente as imagens geradas pelo aparelho mostrariam uma ativação dos receptores de opioides endógenos do cérebro do professor da Universidade Turku, na Finlândia.
A relação entre a capacidade de fazer rir e a construção de laços sociais é um dos temas de pesquisa de Nummenmaa. Seus estudos das emoções, com e sem o uso da PET, foram assunto de palestra realizada na São Paulo School of Advanced Science on Social and Affective Neuroscience. O evento, realizado na Universidade Presbiteriana Mackenzie até 31 de agosto, tem apoio da FAPESP.
Usada para exames oncológicos e cardíacos, entre outros, a PET não é tão empregada em estudos do cérebro. “No entanto, ela é muito mais potente para o nosso campo do que se imagina”, disse Nummenmaa.
A resistência ao uso do aparelho se dá em parte porque quem é submetido a ele tem injetado na corrente sanguínea algum material com radiação. O funcionamento de vários tecidos pode ser visualizado quando a tomografia detecta na corrente sanguínea o decaimento dos isótopos radiativos. “A quantidade de radiação é muito pequena e completamente segura”, disse o pesquisador.
Atualmente, ele usa o equipamento para estudar o comportamento dos receptores de opioides endógenos no cérebro, que regulam o processamento motivacional e do prazer. Sua ação no funcionamento do cérebro de pessoas obesas foi tema de um estudo apresentado durante sua palestra.
Publicado este ano na Nature Communications, o artigo mostra que, apenas olhando fotos de comidas palatáveis, algumas pessoas têm ativadas regiões do cérebro ligadas ao sistema de recompensa.
“Variações nesses receptores podem explicar por que algumas pessoas sentem uma urgência em comer quando são sugestionadas, aumentando o risco de ganho de peso e obesidade”, disse.
De tempos em tempos, os estudos de Nummenmaa aparecem na imprensa especializada graças à explicação de certos comportamentos humanos.
Em um deles, ele partiu de estudos que afirmam que macacos usam o toque para manter e reforçar estruturas sociais. Então, submeteu 1.368 pessoas de cinco países europeus a um teste para mostrar o papel do toque nos vínculos humanos.
Os voluntários deveriam colorir, em um desenho de uma silhueta humana, que partes do corpo alguém da sua rede estavam autorizadas a tocar (pai, mãe, cônjuge, amigo etc.).
Em todas as culturas testadas (Finlândia, França, Itália, Rússia e Reino Unido), a área corporal em que o toque era permitido estava diretamente ligada à relação emocional que o voluntário tinha com a pessoa, independentemente de quando ela o encontrou pela última vez.
“Conhecidos próximos e membros da família eram tocados por mais razões do que indivíduos menos familiares”, disse. Em seguida, Nummenmaa levou a plateia aos risos ao exibir um gráfico mostrando que, na média, as pessoas do Reino Unido são as menos propensas a se deixarem ser tocadas por outras de seu círculo social.
Em 2014, outro estudo publicado por seu grupo na PNAS ganhou repercussão ao revelar outros mapas do corpo humano, dessa vez das partes envolvidas em diferentes emoções.
As imagens mostram desde um corpo quase todo inativo (depressão), até outros bastante ativos na região da cabeça, tórax e abdômen (amor).
Segundo Nummenmaa, as técnicas de escaneamento cerebral dão uma visão tão detalhada do cérebro que podem ajudar a desvendar a origem de condições psiquiátricas e mesmo no desenvolvimento de novos tratamentos.
“Técnicas como a PET são excelentes no sentido de que podemos realmente nos aproximar dos fundamentos moleculares e biológicos de várias sensações no cérebro”, disse à Agência FAPESP.
“Isso significa que, de um ponto de vista mais amplo, elas podem ser usadas para a identificação e desenvolvimento de novas drogas. Quando tentamos entender a afetividade no cérebro nesse nível, isso pode ajudar quem desenvolve novos medicamentos e moléculas a entender como certas condições são desencadeadas”, disse.
Mais informações sobre a Escola: www.mackenzie.br/en/eventos/universidade/sao-paulo-school-of-advanced-science-on-social-and-affective-neuroscience/.