Glaciar Thwaites: maior manto gelado da Antártica. (NASA / OIB / Jeremy Harbeck/Divulgação)
Vanessa Barbosa
Publicado em 5 de fevereiro de 2019 às 06h01.
Última atualização em 5 de fevereiro de 2019 às 14h19.
São Paulo - Um buraco gigantesco, com dois terços da área do distrito americano de Manhattan e quase 300 metros de altura (equivalente a da Torre Eiffel), está se abrindo debaixo do Glaciar Thwaites, o maior da Antártica. A descoberta relatada em um novo estudo liderado pela agência espacial dos Estados Unidos (Nasa) foi classificada como "perturbadora" pelos cientistas, que alertam para os perigos do degelo subterrâneo no Polo Sul associado ao aquecimento global.
A península Antártica é um dos lugares em aquecimento mais rápido no Planeta. As temperaturas na costa oeste subiram cerca de 2,9 graus Celsius (ºC) nos últimos 60 anos, cerca de três vezes a média global, enquanto as temperaturas da superfície do mar subiram mais de 1ºC.
O tamanho e a taxa de crescimento do novo buraco, no entanto, surpreenderam os pesquisadores da Nasa. Ele é grande o suficiente para conter 14 bilhões de toneladas de gelo, e a maior parte desse gelo derreteu nos últimos três anos. A cavidade gigantesca encontra-se sob o tronco principal da geleira a oeste, o lado mais distante da Península Antártica Ocidental.
A descoberta é relevante porque a extensão da cavidade debaixo de uma geleira influencia seu derretimento. Quanto mais calor e água sob a geleira, mais rápido ela derrete, com implicações para o aumento do nível do mar global.
Com quase o tamanho da Flórida, nos EUA, o Glaciar Thwaites contém gelo suficiente para elevar o oceano em pouco mais 65 centímetros e funciona como um pivô na região, protegendo as volumosas geleiras vizinhas de se desintegrarem e causarem um aumento adicional de 2,4 metros no nível do mar.
Desequilíbrio
O estudo mostra como a borda submarina do Glaciar, também chamada “linha de aterramento”, está mudando. Ao representar o limite entre a geleira e seu apoio sobre o leito marinho, a linha de aterramento é um indicador-chave da instabilidade do manto de gelo, porque as mudanças em sua posição refletem o desequilíbrio com o oceano circundante e afetam o fluxo do gelo interno.
"Nós suspeitávamos há anos que a geleira Thwaites não estava fortemente ligada ao leito de rocha abaixo", disse em comunicado Eric Rignot, da Universidade da Califórnia, em Irvine, e do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, em Pasadena, Califórnia. Rignot é coautor do estudo, publicado nesta semana na Science Advances. "Graças a uma nova geração de satélites, podemos finalmente ver em detalhe", disse ele.
Registros desse processo são importantes para os cientistas avaliarem a escala do desequilíbrio. Desde 1992, a geleira vem descolando de uma cordilheira no leito rochoso a uma taxa constante de cerca de 0,6 a 0,8 km por ano. Apesar da taxa de recuo da linha de terra ser considerada estável, a taxa de derretimento subterrâneo deste lado da geleira é extremamente alta.
Segundo os cientistas, essas diferenças enfatizam a natureza complexa da instabilidade das camadas de gelo em todo o continente e a própria relação gelo-oceano, destacando a necessidade de observações mais detalhadas do que se passa abaixo das geleiras antárticas, e não apenas na superfície, para entender os diferentes mecanismos de recuo e calcular a rapidez com que o nível global do mar aumentará em resposta à mudança climática.
No final de 2019, uma colaboração internacional, envolvendo a National Science Foundation dos EUA e o British National Environmental Research Council, do Reino Unido, iniciará um projeto de campo de cinco anos para responder às questões mais críticas sobre os processos e características do Glaciar de Thwaites em um mundo em aquecimento.