Imagem do fime "A Paixão de Cristo" (Reprodução/Reprodução)
Lucas Agrela
Publicado em 19 de julho de 2020 às 16h57.
Última atualização em 19 de julho de 2020 às 17h05.
A imagem real de Jesus permanece um mistério, apesar de sua representação mais conhecida ser a de uma pessoa loira com olhos claros, típica da Europa, e não da região de Israel.
Jesus é descrito na Bíblia como alto e bonito e como “bonito como uma criança”, mas os registros são contraditórios porque Jesus também é descrito como alguém sem beleza ou majestade. “O Jesus histórico tinha olhos marrom e pele como a de judeus do primeiro século da Galileia, uma região bíblica de Israel”, diz Anna Swartwood House, professora assistente de história da arte na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos.
O primeiro retrato de Jesus é descrito como um autorretrato. Chamado Acheiropoieta, a imagem não teria sido criada por mãos humanas. Tais figuras têm autoria atribuída a Jesus e à Virgem Maria.
Richard Viladesau, teólogo que estudou a história de Jesus, acredita que a imagem que temos hoje do messias do Cristianismo é uma combinação de características: cabelo longo típico da Síria, barba como a do deus grego Zeus e Sansão, figura emblemática do Velho Testamento.
No entanto, do século XV ao XVII, as representações artísticas do messias ganharam características regionais, o que acontecem em regiões como a Etiópia, a Índia e, claro, a Europa. Foi na Renascença que foram pintados quadros de importância histórica sem precedentes, como a Santa Ceia, de Leonardo DaVinci. Nessas obras, Jesus passou a ser retratado de forma mais similar aos brancos europeus daquela época.
Sucesso de marketing
Warner Sallman, um pintor -- que também trabalhou com publicidade --, é o autor da imagem de Jesus Cristo que povoa a mente de grande parte das pessoas desde 1940. A obra é chamada “Cabeça de Cristo”.
“Nos anos 1990, Cabeça de Cristo, de Sallman, tinha sido impressa mais de 500 milhões de vezes e tinha atingido o status de ícone global”, escreve, Edward Blum e Paul Harvey, no livro “The Color of Christ: The Son of God and the Saga of Race in America”, de 2012. Os autores ouviram fieis que, apesar de reconhecer que a imagem provavelmente não representa Jesus de forma realista, agradecem a Sallman por dar-lhes uma imagem de Jesus à qual podiam se agarrar em momentos difíceis.
Recriações da aparência de Jesus
Em 2010, com simulações computacionais em 3D, especialistas em computação gráfica recriaram o rosto de Jesus a partir de detalhes da face registradas no Santo Sudário. A experiência foi exibida no documentário "The Real Face of Jesus?".
Em 2015, a imagem de jesus foi novamente recriada com ajuda de programas de computador e mostraram uma representação bem diferente daquela vista em obras de arte renascentistas.
Agora, em 2020, uma releitura da Santa Ceia com um Jesus negro foi instalada em da catedral de St Albans, no Reino Unido. A obra causou manifestações de mais de mil pessoas, mas foi instalada como uma forma de apoiar o movimento “vidas negras importam”, que ganhou projeção global com a morte de George Floyd por um policial nos Estados Unidos. Historiadores de todo mundo ainda divergem sobre a aparência real de Jesus. Entre as poucas coisas que sabem, uma delas é de que o messias do Cristianismo não era branco nem tinha olhos claros.