Ciência

Cientistas descobrem nova forma de matar tumores cerebrais de fome

A pesquisa testa a privação de energia das células cancerosas, evitando assim seu crescimento

 (KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

(KATERYNA KON/SCIENCE PHOTO LIBRARY/Getty Images)

Mariana Martucci

Mariana Martucci

Publicado em 12 de abril de 2021 às 18h48.

Última atualização em 14 de abril de 2021 às 13h53.

Cientistas da Queen Mary University, de Londres, financiados pela Brain Tumor Research, descobriram uma nova maneira de matar tumores cerebrais de fome. A pesquisa testa a privação de energia das células cancerosas, evitando assim seu crescimento.

A pesquisa pré-clínica, que apresentou respostas animadoras, foi realizada em amostras de tecido humano, linhagens de células humanas e camundongos. Se os resultados forem confirmados também nos ensaios clínicos com humanos, o tratamento poderá ser usado em crianças com meduloblastoma, um tumor cerebral de alta incidência em crianças.

Cerca de 70 destes casos são diagnosticados no Reino Unido por ano. A taxa de sobrevivência é de 70% nos pacientes que o tumor não se espalha, sendo quase sempre fatal em casos recorrentes.

A pesquisa, publicada na revista Nature Communications, analisou o hexafosfato de inositol (IP6), um composto de ocorrência natural presente em quase todas as plantas e animais. As análises mostraram o modo como ele inibe o meduloblastoma e pode ser combinado com a quimioterapia para matar as células cancerígenas.

A principal pesquisadora do estudo, Silvia Marino, afirmou que o meduloblastoma ocorre em quatro subgrupos distintos (WNT, SHH, G3 e G4). "Apesar de nosso crescente conhecimento das diferenças moleculares entre esses subgrupos, as opções atuais são cirurgia junto com radioterapia e/ ou quimioterapia para todos os pacientes. Precisamos desesperadamente entender os principais eventos moleculares que impulsionam o crescimento do tumor em cada subgrupo para projetar novos tratamentos direcionados que sejam menos tóxicos."

“O meduloblastoma G4 é o menos compreendido de todos os subgrupos, apesar de ser o mais comum e associado a mau prognóstico", afirmou a pesquisadora. "Identificamos uma nova maneira de este tipo de meduloblastoma ser capaz de se adaptar ao seu metabolismo e crescer de forma descontrolada. Também descobrimos como esse suprimento de energia pode ser bloqueado."

As células normais são capazes de ligar e desligar genes específicos conforme necessário para controlar seu crescimento. Conhecido como epigenética, esse processo pode ser interrompido no câncer, levando à superprodução de proteínas específicas que contribuem para o desenvolvimento e crescimento de um tumor.

Já se sabe que alterações epigenéticas podem contribuir para o desenvolvimento do meduloblastoma. Além disso, uma proteína envolvida neste processo -- conhecida como BMI1 -- é encontrada em níveis elevados em inúmeros tipos de cânceres, incluindo tumores cerebrais. No meduloblastoma, níveis elevados são encontrados no subgrupo G4, onde é sustentado o crescimento do tumor.

A equipejá havia demonstrado que, além de altos níveis de IMC1, as células de meduloblastoma G4 também carecem de uma proteína chamada CHD7. Acredita-se que essa combinação de alterações, ou assinatura, contribua para o desenvolvimento do meduloblastoma G4.

Agora a equipe mostrou que altos níveis de BMI1 permitem que as células cancerosas adaptem seu metabolismo e cresçam agressivamente. Esta alteração pode ser revertida tratando as células com hexafosfato de inositol (IP6). A equipe também mostrou que, quando o IP6 foi combinado com a quimioterapia -- neste caso a cisplatina --, eles observaram um aumento na capacidade de matar as células cancerígenas em camundongos.

Acompanhe tudo sobre:CâncerDoençasPesquisas científicas

Mais de Ciência

Sonda Parker realiza aproximação recorde ao Sol em missão revolucionária

O próximo grande desastre vulcânico pode causar caos global — e o mundo não está preparado

Cientistas constatam 'tempo negativo' em experimentos quânticos

Missões para a Lua, Marte e Mercúrio: veja destaques na exploração espacial em 2024