Ciência

Cachorra "falante" do TikTok intriga cientistas. Treino ou inteligência?

Bunny é uma cachorra de mais de um ano de idade que consegue se comunicar com seus donos por meio de botões com palavras

Bunny: cachorra falante é sucesso no TikTok (I Am Bunny / Instagram/Reprodução)

Bunny: cachorra falante é sucesso no TikTok (I Am Bunny / Instagram/Reprodução)

Tamires Vitorio

Tamires Vitorio

Publicado em 12 de novembro de 2020 às 08h00.

Última atualização em 12 de novembro de 2020 às 09h29.

Que o TikTok virou um fenômeno mundial ninguém duvida, mas um perfil em especial chamou a atenção dos cientistas da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos. Bunny, uma cachorra da raça sheepadoodle, tem intrigado os pesquisadores por um simples fato: aparentemente ela é capaz de se comunicar com os humanos, não por latidos ou lambidas, mas sim por um mecanismo de botões que permite com que ela "fale" com os seus donos.

É até engraçado pensar que Alexis Devine, a dona (ou "humana") da cachorra, começou a treiná-la despretensiosamente para que ela conseguisse comunicar melhor suas vontades e pensamentos.

Quer conhecer os melhores fundos que investem no exterior? Descubra com o guia de fundos da EXAME Research

Tudo começou quando Devide assistiu a uma série de vídeos da patologista Christina Hunger que estava ensinando a sua cachorra, Stella, a usar um mecanismo de botões com palavras já gravadas. O tabuleiro usa um guarda-chuva de termos com símbolos para gerar dispositivos de fala --- usado comumente para a comunicação de pessoas que têm algum distúrbio de fala.

A inspiração veio de imediato e Devine treinou Bunny desde filhote, criando um sistema próprio com botões que podem ser apertados um de cada vez. Agora, com mais de um ano de idade, a cadela é capaz de identificar mais de 70 botões e usá-los para pedir e reclamar sobre diversas coisas.

Em um dos vídeos publicados em seu perfil no TikTok, Bunny parece pedir para que seu dono "cale a boca", apertando uma série de botões que, em tradução literal, significa "pare com o barulho".

@whataboutbunny

The sass🤣#BiggestFan #fyp #tiktokdogs #talkingdog #whataboutbunny

♬ original sound - I am Bunny

Em entrevista ao jornal The News Tribune, Devine afirmou que as palavras mais usadas pela cachorra são "praia" e "parque", sempre que ela decide que quer passear. Em uma determinada ocasião, Bunny apertou os botões "te amo, mãe" --- um dos vídeos mais assistidos no perfil.

Com mais de 5 milhões de seguidores no TikTok, a cachorra se tornou um fenômeno estudado até pela ciência. A principal teoria por trás do conhecimento de Bunny sobre o significado das palavras sempre que ela aperta um botão é o condicionamento. Isso porque toda vez que ela aperta um determinado botão, ela recebe uma reação diferente dos donos --- e se acostuma proporcionalmente a elas.

Se, por exemplo, ela aperta o botão "praia", e Devine ou seu parceiro a levam para passear, automaticamente, por associação, ela vai entender que esse botão será capaz de levá-la para fora de casa.

Quando a cadela aperta o botão "mãe", Devine automaticamente responde, o que ensina a cachorra que aquela é a forma adequada de conseguir a tão sonhada atenção da dona. Bunny não é capaz (ainda) de formar sentenças completas e coesas, mas se expressa da forma que pode.

Outro vídeo compartilhado no TikTok mostra que, quando Devine diz "tchau" para a cachorra a caminho de uma saída de casa, Bunny rapidamente usa o seu tabuleiro de palavras para perguntar "por que tchau?". Antes disso, Bunny chamou Devine apertando os botões "venha, mãe".

@whataboutbunny

This interaction seems incredible in so many ways: questioning/ referencing the past/ empathy. #fyp #doggyanthem #empathy #talkingdog

♬ original sound - I am Bunny

Foi por causa dos vídeos de Bunny que os pesquisadores do Laboratório Comparativo de Cognição da UC San Diego estão tentando descobrir mais sobre a senciência dos animais. Ainda sem respostas, segundo o site americano The Verge, a ideia no momento é juntar o máximo de dados possível para conseguir entender melhor como um cachorro é capaz de se comunicar de forma tão assertiva com os seres humanos --- e se isso está dentro deles ou faz parte apenas de um condicionamento.

A partir deste mês, os pesquisadores devem começar a terceira fase de estudos interativos para entenderem como funciona a aprendizagem dos cachorros para botões que emitem palavras.

O número de participantes será pequeno, segundo a Universidade. A segunda fase do estudo, com um piloto finalizado em julho, tem a hipótese de que "o melhor dado de botões que usaremos vem de câmeras que estão constantemente gravando os animais conforme eles aprendem a usá-los". "Isso torna possível a visualização de como o uso dos botões muda ao longo do tempo, bem como se existe um impacto entre o uso dele e a interação com a pessoa envolvida", explicam os cientistas.

A ideia, então, é analisar o comportamento dos animais para entender melhor o que está acontecendo e se "não-humanos" conseguem realmente usar algo parecido com a linguagem humana para se comunicar. Até o momento, mais de 700 gatos, cachorros e cavalos estão participando dos estudos. E a popularidade de Bunny foi essencial para a entrada de mais voluntários no estudo.

No ano que vem, o objetivo é avaliar se os animais que usam o mecanismo conseguirão se comunicar com pessoas que não são os seus donos e as quais eles não estão habituados para definir o quanto, efetivamente, eles entendem sobre a comunicação humana.

Para definir se é realmente possível que animais se comuniquem com humanos, é preciso juntar uma quantidade não informada de dados. Em entrevista ao The Verge, Federico Rossano, diretor do laboratório da UCL San Diego, afirmou que "precisa ser muito cuidadoso em afirmar o que está acontecendo".

Até que experimentos ocorram para determinar se a comunicação não-verbal de um animal é totalmente ligada às ações de seus donos, nenhuma conclusão será divulgada sobre a capacidade de Bunny (ou de outros animais) em relação à linguagem humana.

Fiquemos com os latidos e os miados.

Acompanhe tudo sobre:AnimaisCachorrosEstados Unidos (EUA)GatosPesquisas científicasRedes sociaisTikTok

Mais de Ciência

'Super Júpiter': James Webb descobre planeta 1 bilhão de anos mais jovem que sistema solar

Gripe aviária pode infectar humanos? O que se sabe sobre a nova doença

Oxigênio produzido sem luz? Conheça a nova descoberta dos cientistas

"Alternativas" de Wegovy e Ozempic criam mercado paralelo bilionário

Mais na Exame