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Woody Allen não mostra seu melhor truque em "Magia ao Luar"

O mais novo longa da fase europeia do diretor centra-se na tentativa de desmascarar uma médium norte-americana

Diretor Woody Allen chega para a pré-estreia do filme "Magia ao Luar", em Nova York (Lucas Jackson/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 27 de agosto de 2014 às 17h37.

São Paulo - O segredo de uma boa mágica consiste em ludibriar os olhos do espectador.

Neste sentido, o trabalho do ilusionista é bem semelhante ao do cineasta, que também deve iludir o seu público ao ponto de fazê-lo acreditar, mesmo que seja somente naqueles instantes, no que está vendo na tela.

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Woody Allen é, sem dúvida, um dos grandes mágicos da área ao tornar tanto uma coisa simples quanto um caso absurdo em algo verdadeiro quando transposto em seus filmes .

No entanto, nem toda plateia se deixará ser enganada em seu último truque, Magia ao Luar.

O mais novo longa da fase europeia do diretor centra-se na tentativa de desmascarar Sophie Baker (Emma Stone), uma médium norte-americana cujos dons anunciados têm impressionado uma rica família, também dos Estados Unidos, hospedada no sul da França, que deseja financiar um projeto dela de estudos sobre o oculto.

O encarregado desta missão é Stanley Crawford (Colin Firth), um inglês que roda o mundo se apresentando como o famoso ilusionista chinês Wei Ling Soo – uma referência ao norte-americano William Ellsworth Robinson, que se apresentava como o mágico chinês Chung Ling Soo, no século 19 – e é um especialista em descobrir os truques usados por falsos místicos e outros tipos de charlatões.

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Convidado pelo seu amigo de infância e colega de ofício, Howard Burkan (Simon McBurney), para desvendar o mistério sobre a garota que se comunica com o falecido marido da Sra. Catlegde (Jacki Weaver) e faz o caçula da família, Brice (Hamish Linklater), cair de amores por ela – com direito a constrangedoras serenatas de ukelele –, ele deixa sua turnê em Berlim e parte para a charmosa Cote d’Azur de 1928.

Hospedado na casa de sua querida tia Vanessa (Eileen Atkins), Stanley espera uma vigarista ao encontrar com Sophie e sua mãe (Marcia Gay Harden), mas tão logo a bela moça revela detalhes da vida dele que lhe pareciam secretos, o cético, como em um passe de mágica, começa a duvidar de seus próprios conceitos.

O fato do protagonista acreditar tão rápido na ocultista pode ser relevado se for levado em conta que o recente trabalho do diretor tem um tom de homenagem às comédias românticas clássicas.

Por isso, tamanha inocência e leveza que levam ao escasso desenvolvimento dos conflitos da trama.

Aliás, a reconstituição de época do filme é destaque, sendo realizada cuidadosamente pela direção de arte de Anne Seibel, pelo figurino de Sonia Grande e pela trilha sonora, que conta com nomes como Cole Porter, além de muito jazz e músicas de cabaré, a la Charleston.

Tudo isso completa a excelente fotografia em 35mm de Darius Khondji, cuja câmera desliza pelas belas paisagens do sul da França sob a luz do Sol, ressaltando o azul do mar de Cote d’Azur e as cores das plantas e ervas da Provence.

Ela também destaca a beleza de Emma Stone que, além da graça e carisma habituais, consegue imprimir o tom cômico exato a sua personagem, fazendo com que o espectador, tal qual Stanley, se deixe levar pelos seus encantos e não se atente em saber se ela o engana ou não.

Colin Firth como o típico misógino presente nas obras de Woody está bem como seu egocêntrico protagonista, principalmente por não ser um mímico de Allen, como é comum aos intérpretes dos filmes do cineasta.

A química entre os dois em cena é suficiente para que o público não se preocupe com a diferença de 28 anos de idade entre eles.

Mesmo assim, ambos não são capazes de sustentar, sozinhos, os 97 minutos da produção.

Os diálogos longos nem sempre funcionam e o sarcasmo usual do texto de Allen se perde em repetições e bifes – falas adicionais, não tão imprescindíveis à história – que não chegam a divertir tanto. Com isso, o filme oscila em seu ritmo.

O roteiro se baseia em arquétipos que representam várias dualidades, seja entre homem e mulher ou entre cientificismo e misticismo, respectivamente, o qual pretende discutir.

E assim, no meio desse debate que o longa propõe, Woody Allen fala, direta e indiretamente, sobre a necessidade humana de, às vezes, abandonar a lógica e crer em uma fantasia para suportar a dureza e os infortúnios da vida.

No fim, percebe-se que Magia ao Luar é também uma obra sobre o próprio cinema e como a ilusão por ele criada é necessária a todos. Contudo, acreditar nesta magia dependerá, não só do conhecido mágico, mas também do espírito do espectador.

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