"Uma Noite de Crime" faz retrato sangrento dos EUA
Escrito e dirigido por James DeMonaco, suspense parte do mesmo princípio do prazer maligno de reality shows em ver os outros sofrendo
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2013 às 15h34.
São Paulo - Reality shows usam um princípio que fascina perversamente desde a antiguidade: o sacrifício alheio. Basta lembrar as peças e mitos do passado, até chegar ao presente, na televisão, cinema e literatura, de "Big Brother" a "Jogos Vorazes" e afins.
O suspense futurista "Uma Noite de Crime" parte do mesmo princípio do prazer maligno em ver os outros sofrendo, sendo humilhados e, finalmente, morrendo. O ano é 2022 e o mundo se tornou um pesadelo distópico. Durante uma noite todos os anos, todo tipo de crime é permitido sem qualquer restrição.
James Sandin (Ethan Hawke) é um funcionário e pai exemplar, casado com Mary (Lena Headey), com quem tem um casal de filhos, Charlie (Max Burkholder) e Zoey (Adelaide Kane). Quando o jogo começa, ele protege sua casa, cobrindo janelas e portas, certificando-se de que ninguém entre, transformando o local numa verdadeira prisão.
Para que esse cenário de uma noite de crime possa existir, os Estados Unidos voltaram novamente a ser um país próspero, onde o desemprego não passa de 1 por cento. Nessa noite, quando os homens de bem podem liberar seus demônios, nem a polícia nem os médicos interferem. Ninguém será julgado pelo que cometeu, e assim, podem viver felizes e sem culpas nos outros 364 dias e meio do ano.
James DeMonaco, que escreve e dirige o filme , tem algo a dizer sobre o mundo contemporâneo. "Uma Noite de Crime" é uma sátira, e, como tal, depende de referenciais que estão nos Estados Unidos de hoje.
Obviamente, o filme não fala do futuro, mas opera numa chave que permite ler o presente e aponta o dedo: há algo de errado nessa sociedade. Embora tal afirmação esteja longe de ser novidade ou se aplicar apenas aos EUA, é sintomático, por exemplo, que o personagem central trabalhe numa empresa de segurança e as casas tenham se transformado em verdadeiras fortalezas.
Quando os Sandin se isolam e se protegem em sua casa, percebem que não estão sozinhos, nem dentro, nem fora, onde uma multidão enfurecida pede que um deles seja jogado para fora. DeMonaco não é Michael Haneke, e "Uma Noite de Crime" não é "Funny Games - Violência Gratuita".
Por isso, ele vai para caminhos mais explícitos, desarmando, aos poucos o clima de horror e estranhamento que construiu com esforço. O sangue se torna banal e mancha a tela mais do que o necessário. O comentário social que pretendia estampar no filme acaba se perdendo em mais uma história em que poças de sangue ditam as regras.
Veja o tailer do filme:
//www.youtube.com/embed/DkhQhmki-gk
São Paulo - Reality shows usam um princípio que fascina perversamente desde a antiguidade: o sacrifício alheio. Basta lembrar as peças e mitos do passado, até chegar ao presente, na televisão, cinema e literatura, de "Big Brother" a "Jogos Vorazes" e afins.
O suspense futurista "Uma Noite de Crime" parte do mesmo princípio do prazer maligno em ver os outros sofrendo, sendo humilhados e, finalmente, morrendo. O ano é 2022 e o mundo se tornou um pesadelo distópico. Durante uma noite todos os anos, todo tipo de crime é permitido sem qualquer restrição.
James Sandin (Ethan Hawke) é um funcionário e pai exemplar, casado com Mary (Lena Headey), com quem tem um casal de filhos, Charlie (Max Burkholder) e Zoey (Adelaide Kane). Quando o jogo começa, ele protege sua casa, cobrindo janelas e portas, certificando-se de que ninguém entre, transformando o local numa verdadeira prisão.
Para que esse cenário de uma noite de crime possa existir, os Estados Unidos voltaram novamente a ser um país próspero, onde o desemprego não passa de 1 por cento. Nessa noite, quando os homens de bem podem liberar seus demônios, nem a polícia nem os médicos interferem. Ninguém será julgado pelo que cometeu, e assim, podem viver felizes e sem culpas nos outros 364 dias e meio do ano.
James DeMonaco, que escreve e dirige o filme , tem algo a dizer sobre o mundo contemporâneo. "Uma Noite de Crime" é uma sátira, e, como tal, depende de referenciais que estão nos Estados Unidos de hoje.
Obviamente, o filme não fala do futuro, mas opera numa chave que permite ler o presente e aponta o dedo: há algo de errado nessa sociedade. Embora tal afirmação esteja longe de ser novidade ou se aplicar apenas aos EUA, é sintomático, por exemplo, que o personagem central trabalhe numa empresa de segurança e as casas tenham se transformado em verdadeiras fortalezas.
Quando os Sandin se isolam e se protegem em sua casa, percebem que não estão sozinhos, nem dentro, nem fora, onde uma multidão enfurecida pede que um deles seja jogado para fora. DeMonaco não é Michael Haneke, e "Uma Noite de Crime" não é "Funny Games - Violência Gratuita".
Por isso, ele vai para caminhos mais explícitos, desarmando, aos poucos o clima de horror e estranhamento que construiu com esforço. O sangue se torna banal e mancha a tela mais do que o necessário. O comentário social que pretendia estampar no filme acaba se perdendo em mais uma história em que poças de sangue ditam as regras.
Veja o tailer do filme:
//www.youtube.com/embed/DkhQhmki-gk