Lollapalooza adiado de novo? T4F sugere que sim e fecha UnimedHall
Paralisada pela pandemia, a companhia de Fernando Alterio, a Time 4 Fun, desiste de sua principal casa de shows, o antigo Credicard Hall, e dá a entender que grandes eventos com concentração de público não voltam em 2021
Daniel Salles
Publicado em 31 de março de 2021 às 10h38.
Última atualização em 31 de março de 2021 às 11h39.
A inauguração foi marcada pelo mau humor de João Gilberto. Escalado para o primeiro show do Credicard Hall, em setembro de 1999, o cantor não engoliu a acústica daquela que nasceu como "a maior casa de espetáculos da América Latina". Reclamou no palco e parte do público o vaiou. A tréplica do pai da Bossa Nova foi entoar o refrão de “Vaia de bêbado não vale.”
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Administrado pela Time For Fun, que responde pelo Lollapalooza Brasil, o espaço ganhou o nome de UnimedHall em 2019. E é com ele que chega ao fim. Em anúncio publicado hoje na Folha de S.Paulo, Fernando Alterio, CEO e maior acionista da T4F, homenageou a casa de espetáculos e, de maneira um tanto confusa, revelou que a história dela ganhou um ponto final.
“Fecham-se as cortinas de mais um palco no Brasil”, escreveu. “Dia desses me vi sozinho, de pé, dentro de um enorme anfiteatro vazio. Um corte seco na cena de um filme em tempo real. Após um ano atravessando uma pandemia tão devastadora, olho para cima, já não há refletores. Olho para a plateia, já não há cadeiras nem mesas. Há apenas o silencio. Ausência de música, de gente, de som”.
Lembrou que pelo endereço, em 23 anos, passaram mais de 12 milhões de pessoas, que assistiram a mais de 3.500 apresentações. “Construí o sonho. Cuidei de cada detalhe. E vi brotar no terreno antes vazio a maior casa de shows da América Latina”, afirmou. “Um lugar criado para oferecer uma experiencia de entretenimento em dimensões inéditas no país”.
Outro trecho da carta: “Atravessamos um luto coletivo. No setor cultural o impacto é sem precedentes. Fomos os primeiros a fechar as portas e seremos os últimos a reabri-las. Posso garantir que jamais imaginei algo assim em meus 40 anos na indústria de entretenimento”.
“A música, parceira antiga, sempre me ensina muitas coisas. Hoje, ela me diz que é tempo de pausa. E que esse silêncio não é o fim do movimento. Mas sim, um outro andamento. E que estamos, juntos, em transformação. Rumo ao futuro. À construção de novos sonhos. Meus sinceros agradecimentos a todos que fizeram parte dessa história”, concluiu o empresário.
Com o fim do UnimedHall, a sede da TF4 passa a ser o Teatro Renault, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo, também administrado pela companhia.
As operações foram interrompidas por nove meses no ano passado. No primeiro trimestre, a empresa diminui em 45% o quadro de colaboradores e reduziu ou suspendeu a jornada de outros 17%. Apesar de tudo, fechou 2020 com 201,9 milhões de reais de caixa bruto e caixa líquido de dívida financeira de 80,9 milhões de reais.
Em 2021, com o recrudescimento da pandemia no Brasil, optou pela redução adicional de 36% do toral de colaboradores no país e anunciou um plano de demissão voluntária na Argentina, que perdeu um quarto dos funcionários – a TF4 administra um teatro em Buenos Aires, o Opera Orbis Seguros.
“Passaremos a dedicar esforços à operação do teatro em Buenos Aires e da Ticketek, empresa líder na venda de tickets na Argentina”, afirma a companhia de Alterio, na apresentação dos resultados de 2020, divulgada nesta terça (30). “No Brasil, por sua vez, novo epicentro da pandemia, a situação mostra-se tão grave que não estamos vislumbrando o retorno de grandes eventos com concentração de público em 2021”.
Equivale a dizer que o próximo Lollapalooza Brasil, marcado para setembro, deve ser adiado novamente – originalmente ocorreria em março do ano passado. Não há posição oficial, no entanto, a respeito da realização ou não do festival neste ano. Recentemente, dois shows da cantora Taylor Swift foram cancelados pela Time For Fun.
“Estamos em constante monitoramento do mercado e negociação para reconstituir o pipeline de eventos conforme a possibilidade de retorno das operações. Nesse sentido, dispomos de informações que indicam uma oferta de artistas bem maior do que o normal, especialmente para 2022. O número de artistas disponíveis com capacidade para fazer shows de estádio, com turnês agendadas para 2022 é quase o dobro do que foi observado em anos anteriores. Por outro lado, visualizamos uma demanda reprimida muito alta, de modo que esperamos que 2022 seja um grande ano para o mercado de entretenimento”, informou a companhia.