Por dentro da Azimut 74, iate de R$ 23 milhões pensado para o boat office
O isolamento inaugurou uma nova modalidade de trabalho à distância. Nômades digitais náuticos podem usar iates como a Azimut 74 como escritório
Matheus Doliveira
Publicado em 1 de novembro de 2021 às 08h30.
Última atualização em 10 de fevereiro de 2022 às 13h28.
Passando pelo anywhere office e pelo road office, as possibilidades de trabalho à distância dilataram-se desde o último ano. Entre os afortunados que podem comprar um barco, um novo termo em inglês está ganhando força: é o boat office. “Aqui na marina de Itajaí alguns donos de barco passaram a trabalhar ancorados”, afirma Francesco Caputo, diretor da Azimut Yachts, fabricante italiana conhecida como a Ferrari dos iates nas praças náuticas. Pensando em atender os que podem se dar ao luxo de cumprir o expediente no mar, a filial catarinense da marca — diga-se de passagem, a única fora da Europa — começou a fabricar por aqui a Azimut 74, um iate com planta interna redesenhada para atender às necessidades de lazer e de trabalho num mesmo espaço.
Mais compacto do que outros modelos da marca, a Azimut 74 mede 23 metros de uma ponta a outra. É 4 metros a menos de comprimento em relação ao 27 Metri, que também é fabricado em Santa Catarina e tem, entre os compradores, personalidades como Cristiano Ronaldo. Ainda assim, o espaço do 74 foi projetado para ser mais funcional e parecer maior do que realmente é. No convés principal, janelas que vão até o teto dão a impressão de que o mar é mais um elemento que compõe a sala de estar, iluminada por lustres circulares embutidos no teto e nos móveis.
Nesse mesmo pavimento, que não tem degraus, para facilitar a circulação e convivência, um sofá na cor creme em forma de “C” centraliza o ambiente de ares minimalistas, mas que não dispensa madeiras nobres, mármore e marfim. Na parte central do convés principal, uma cozinha totalmente equipada antecede a bancada esculpida em carvalho — feita para o boat office, com direito a internet via satélite. Já no pavimento inferior, onde a água chega a bater nas janelas durante a navegação, o barco abriga quatro suítes, o suficiente para oito pessoas pernoitarem.
Do lado de fora, o flybridge, terraço de lazer famoso no terceiro piso das Azimut, possui impressionantes 40 metros quadrados. É possível usar o espaço coberto ou como solário: para isso basta retrair o teto por controle remoto. O peso foi reduzido em até 30% com o uso de fibra de carbono em toda a estrutura principal, o que garante uma velocidade máxima de 60 quilômetros por hora. “Ninguém precisa de um barco de 23 milhões de reais, mas a pandemia ensinou aqueles que podem ter um a aproveitar melhor o agora”, diz Caputo. No dia em que visitamos o estaleiro em Itajaí, a primeira Azimut 74 fabricada no Brasil ainda não havia sido entregue para o comprador, um empresário do Paraná. Na fábrica da náutica, outros cinco exemplares estavam em produção — todos já vendidos.
“O Brasil tem 7.500 quilômetros de costa náutica. É um potencial gigantesco que começa a ser percebido”, diz Caputo. No ano passado, em plena pandemia, as vendas de iates aumentaram 25% na filial brasileira da Azimut, que chegou por aqui há 11 anos. O faturamento foi de 250 milhões de reais, o melhor resultado da década. Atualmente, a marca trabalha para aumentar a capacidade de sua fábrica de 20.000 metros quadrados em 20% e dobrar a produção em três anos. A marca não deverá encontrar muita dificuldade para isso. Segundo a Associação Brasileira de Construtores de Barcos e Implementos, o setor náutico brasileiro deverá faturar 840 milhões de reais em 2021, um crescimento de 10% em relação a 2020. No ano passado, o setor movimentou 761 milhões de reais, alta de 20% sobre 2019. Resta saber se a redução do isolamento vai trazer os nômades digitais náuticos de volta à terra firme.