Pela primeira vez em 119 anos, romaria de SP a Aparecida não terá fiéis
O arcebispo de São Paulo pediu que as pessoas acompanhem virtualmente as celebrações e não viajem para o Santuário por causa do coronavírus
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de abril de 2020 às 21h40.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 22h49.
Mais antiga peregrinação do Estado, a 119ª Romaria da Arquidiocese de São Paulo a Aparecida será realizada no dia 3 de maio, um domingo, sem a participação dos romeiros.
O arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, enviou carta aos bispos auxiliares, padres, diáconos, religiosos e leigos da arquidiocese, na quinta-feira, 23, pedindo que as pessoas acompanhem virtualmente as celebrações e não viajem para o Santuário Nacional de Aparecida, devido à pandemia do coronavírus . No ano passado, 18 mil pessoas compareceram à missa.
Segundo ele, os fiéis devem se organizar para acompanhar a celebração da Missa da Romaria pela televisão e redes sociais.
"Neste ano, não será possível realizar a romaria com a participação do povo, como seria desejável e belo, e como vem acontecendo ao longo de 119 anos. Estamos em plena crise sanitária e ainda deverão ser evitadas as aglomerações que favorecem o contágio, quer na viagem, quer no santuário", recomendou d. Odilo.
Apenas o próprio arcebispo e os bispos auxiliares, "com algumas pouquíssimas outras pessoas", irão a Aparecida representando toda a arquidiocese na celebração.
O cardeal pede que o clero, religiosos e povo fiquem em casa, rezando juntamente com os celebrantes. A missa será transmitida pela TV Aparecida, a rádio do santuário e redes sociais.
"Rezaremos especialmente pelos pobres e os doentes, e por aqueles que cuidam deles. Pediremos a Nossa Senhora, ‘Auxílio dos Cristãos’ e ‘Saúde dos Enfermos’, que olhe por todos com carinho maternal."
A missa pedirá também a intercessão da Virgem Aparecida pelo sínodo arquidiocesano, que teve as atividades suspensas devido à pandemia, "mas que serão retomadas assim que for possível".
D. Odilo sugere aos padres, religiosos e leigos que usem os meios virtuais para que todos se unam à distância à romaria anual e, nos quatro dias anteriores, promovam a oração do santo rosário católico e da ladainha de Nossa Senhora.
"Como sinal da participação na romaria, peço que em todas as igrejas os sinos sejam tocados por três minutos, no dia 3 de maio, após a bênção final da missa. E as paróquias que o desejarem poderão organizar uma carreata, sem concentração de povo, pelas ruas, com a imagem de Nossa Senhora Aparecida, dando bênção ao povo", pediu.
A assessoria de comunicação do Santuário Nacional informou que a missa da romaria será celebrada com as portas fechadas, sem público.
As instalações do santuário, incluindo a igreja principal, permanecem abertas durante a pandemia, mas sem atividades que geram aglomeração.
Com a rede hoteleira e comércio fechados, poucas pessoas circulam pelo santuário. Mesmo assim, as três missas diárias continuam sendo celebradas, mas com portas fechadas e transmissão pela TV, além das redes sociais.
A concessionária da Dutra, principal rodovia de acesso a Aparecida, informou que essa romaria não envolve peregrinações pela estrada, ao contrário das romarias que acontecem no mês de outubro, em comemoração à Nossa Senhora Aparecida.
O deslocamento de São Paulo para Aparecida acontece em vans e micro-ônibus. Com a orientação do bispo para que os fiéis acompanhem a missa pela televisão, não é esperado aumento de trânsito na rodovia nessa data.
A romaria da arquidiocese de São Paulo surgiu em 1900, por iniciativa do então bispo d. Antônio Cândido de Alvarenga, que se fez acompanhar por 1.200 romeiros.
O evento se manteve anualmente com grupos cada vez mais numerosos de participantes, oriundos das seis regiões episcopais paulistanas.
A peregrinação só é menor em público que as romarias de 12 de outubro, dia da Padroeira do Brasil. O hino ‘Viva a Mãe de Deus e Nossa’, que passou a ser utilizado pelo santuário nas celebrações marianas, foi composto em 1905 para a romaria de São Paulo.