O sapateiro brasileiro que quer conquistar Nova York
O gaúcho Vinicius Dapper, fundador da grife com seu nome e sócio da Zeferino e da Twins for Peace, investe no mercado internacional
Ivan Padilla
Publicado em 10 de março de 2020 às 15h39.
Última atualização em 12 de março de 2020 às 15h05.
O nome é daquelas coincidências tão grandes que parecem até inventadas. Dapper, em inglês, é um adjetivo que significa algo como extremamente elegante. Esse é o sobrenome verdadeiro, de origem alemã, do gaúcho Vinicius Dapper, um homem bastante aprumado. Sapateiro por profissão, ele fundou a marca com seu nome, de modelos masculinos, feitos artesanalmente. Sapatos igualmente alinhados.
Os sapatos Vinicius Dapper custam a partir de 990 reais e podem chegar a 2.800, no caso do York, um modelo feito em tressé, técnica que utiliza trançados feitos a mão. Com sola dupla de couro, de qualidade reconhecida no mercado, leva 45 dias para ficar pronto no ateliê em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
Dapper fundou sua grife em 2012. Natural de Santo Antônio da Patrulha, cidade a 70 quilômetros de Porto Alegre, ele se mudou aos 17 anos para Novo Hamburgo para estudar desenvolvimento de calçados. Passou pelos grupos Dass, que fabrica sapatos de exportação para marcas como Puma e Umbro, e Alpargatas, até que resolveu empreender.
O ritmo de produção em seu ateliê, instalado lá mesmo em Novo Hamburgo, cresceu depois que ele se associou a Nana Baffour, investidor de empresas de tecnologia nascido em Gana, com cidadania americana e residente no Brasil. A nova empresa de calçados foi chamada de NVH, iniciais de Nana, de Vinicius e de um terceiro sócio que já deixou a empresa.
Com know how na área de calçados, e agora com capital, Dapper partiu para a aquisição de outra marca, dessa vez feminina. Em 2017, ele adquiriu a Zeferino, grife com boa fama no mercado e lojas em dois shoppings de luxo, o Iguatemi e o JK Iguatemi, em São Paulo. “Encontramos uma empresa bem construída como marca, com posicionamento claro e alto valor agregado, mas com produtos desatualizados e de baixa performance”, conta Dapper.
Logo teve início um processo de transformação digital da marca. O trabalho de back office englobou a reformulação de controle de estoque, cálculo de entrega, BI para entender o perfil do consumidor. “Tivemos de reestruturar completamente a empresa”, conta Vinicius. “A operação já tinha 11 anos, e depois passou a fazer parte de uma holding, com outra cultural organizacional. Fizemos uma série de mudanças de processos.”
Com o aporte do novo sócio, valor que eles não revelam, a ideia desde o começo era internacionalizar a empresa. A NVH já tinha uma marca masculina e uma feminina. Faltava algo voltado para o público jovem. E a resposta estava na França.
No fim de 2017, Dapper conheceu Yoann Corbin, CEO da marca de sneakers Twins for Peace. De propriedade de Maxime e Alexandre Mussard, da família herdeira da Hermès, a empresa produzia os tênis em Portugal, mas a relação com os fornecedores era muito difícil e as contas não estavam fechando. A saída era vender.
Os tênis Twins for Peace já eram vendidos na Acaju, uma loja multimarcas nos Jardins, em São Paulo, e portanto já conhecidos por uma parcela do público paulistano. O design era bonito e a o produto, feito de materiais sustentáveis. Era também uma marca bem posicionada na Europa, com um e-commerce bem estruturado, quatro lojas em Paris e uma em Bruxelas.
O negócio foi fechado. “Acreditei tanto na marca e na minha relação com os donos, de quem fiquei amigo, que começamos a trabalhar juntos antes mesmo do contrato fica pronto”, conta Dapper.
Com as três marcas no portfólio, a NVH está focada em crescer fora. Dapper está morando em Nova York, onde mantém um escritório da empresa. Seu dia a dia é na rua, em peregrinações por lojas multimarcas para colocar seus sapatos à venda.
No ano passado, a empresa faturou 8 milhões de reais, com a venda de 10 mil pares de sapatos. Desse total, 75% vem da Zeferino , 15% da Twins for Peace e 10% da Vinicius Dapper. A meta para 2020 é agressiva: chegar a 15 mil pares comercializados e um faturamento de R$ 14 milhões. “Acreditamos que a Twins for Peace tem espaço para crescer, a cultura do sneaker é muito forte nos Estados Unidos”, diz Dapper. “Mas acreditamos também em um crescimento lento mas contínuo no Brasil. Quero ser uma sapataria nacional e um player global.”