O novo Fasano de Nova York: os bastidores da aguardada inauguração
Gero Fasano alimentou por 30 anos o sonho de ter um restaurante em Manhattan; a abertura foi destaque no New York Times
Ivan Padilla
Publicado em 25 de fevereiro de 2022 às 06h30.
Última atualização em 7 de março de 2022 às 11h52.
Gero Fasano inaugurou finalmente um restaurante onde sempre quis. Aos próximos, ele sempre comentou que a cidade de Nova York, com suas infinitas e invejáveis opções de gastronomia, é a prova de fogo para um estabelecimento. Quem faz sucesso por lá, faz sucesso em qualquer lugar do mundo.
O dia 25 de fevereiro de 2022 vai ser sempre uma data emblemática para ele. Nesta sexta-feira Gero inaugura o Fasano de Nova York, na 49th Street com a Park Avenue. O menu de autoria do chef Nicola Fedeli será do norte da Itália, com pratos típicos como ossobuco com risotto à milanesa e o tortelli di vitelo. A carta de vinhos tem curadoria de Manoel Beato e Dânio Braga.
A abertura do restaurante foi destaque esta semana no New York Times. A crítica apontou tanto a excelência da comida quanto os preços. “A salada ao estilo de Nova York não vem em cima da vitela milanesa enorme e incrivelmente fina de 70 dólares”, destacou o jornal. As folhas são servidas ao lado, para que a carne não fique encharcada.
Projeto de 30 anos
Abrir um restaurante em Nova York era um projeto de 30 anos. Em 1995, Gero quase assumiu o local onde funcionou o Le Cirque, na East 65th, mas quem ficou com o ponto foi o chef Daniel Bouloud. Diversas outras tentativas foram feitas, em Nova York e também em Miami, “mas algo sempre dava errado”, lembra Gero.
O Fasano Nova York estava previsto para ser inaugurado em maio de 2020, mas o projeto teve de ser adiado pela pandemia. No início daquele ano, Gero deu uma longa entrevista à Casual EXAME, contando bastidores da operação – que, agora, finalmente sai do papel.
Gero estava desde 2019 morando em Nova York, a poucas quadras do restaurante. Esse é um hábito seu, fazer uma imersão no local meses antes da abertura de um novo estabelecimento. “Tem coisas que no desenho funcionam, mas é preciso ver in loco o que é viável”, disse.
Como em todo negócio do grupo, um investidor local entra com os recursos e o Fasano toca a operação. No caso, quem aportou os 40 milhões de dólares para montar o restaurante foi Steven Roth, chairman do grupo imobiliário Vornaldo Realty, um dos maiores dos Estados Unidos.
Roth é dono do prédio em Midtown onde está instalado o Fasano. No local, durante pouco mais de um ano, funcionou um icônico restaurante Four Seasons. Roth queria montar um novo estabelecimento, mas procurava algo diferente. Não queria mais um Alain Ducasse, mais um Daniel Bouloud. Ele queria algo que Nova York nunca tivesse visto.
Divisórias de madeira e piso acarpetado
A aproximação de Roth com Gero aconteceu por meio do arquiteto Isay Weinfeld, que havia feito o projeto do Four Seasons. “Nos conhecemos em Nova York e ele ficou de vir ao Brasil para ver a nossa operação”, lembra Gero. “Ficou de vir um mês, não veio, depois no mês seguinte, e nada, fiquei desanimado. Aí ele me liga e disse que iria pegar o avião no dia seguinte.”
Gero perguntou então se Roth poderia ficar pelo menos dois dias para conhecer algumas das casas do grupo. “Ele disse que só tinha um dia por causa do feriado de ano novo judaico”, lembra o restaurateur. “Fui buscá-lo no aeroporto, almoçamos no Parigi, ele fez muita foto, fez muitas observações. Foi para o hotel, deu uma descansada, aí foi jantar às oito horas no Gero e depois veio jantar comigo às nove e meia no Fasano.”
Durante o jantar, em determinado momento, Roth disse a Gero (ele reproduz a conversa em inglês): “ mr. Fasano, consider it done. Don’t let anybody knows, let the lawyers talk, but between you and me it’s done.” Gero ia replicar algo, quando foi interrompido por Roth. “Ele pegou na minha mão e disse: ‘ don’t say thank you. Look at the mirror and say you deserve it.’ Aí me vieram lágrimas aos olhos.”
A única coisa que ele pediu a Gero foi que não queria entrar lá e ver a cara do restaurante que não deu certo. O Fasano de Nova York tem cara de Fasano. Os tons acastanhados da sala de jantar principal com painéis de madeira são conhecidos, mas por lá o piso é acarpetado, a iluminação é mais suave e divisórias de madeira separam algumas mesas.
De Rogério para Gero
O grupo inaugurou este ano o hotel em Nova York, em frente ao Central Park, na Quinta Avenida entre as ruas 62 e 63. O Fasano Fifth Avenue trouxe um novo conceito ao grupo, com serviços e benefícios dedicados especialmente a associados a um membership club. O Fasano Fifth Avenue possui 15 andares e é dividido em duplex apartmentos, com aproximadamente 330 metros quadrados cada, e suítes menores.
Gero Fasano é talvez último dos r estauranteurs, o dono de restaurante que pensa do menu ao ambiente, da luz ao serviço, fica na casa da abertura até a hora que fecha. São mais de 40 anos de ofício, em que chegava a beber três garrafas de vinhos por noite, como costuma lembrar.
Tanta dedicação ao grupo, hoje com 23 restaurantes e 11 hotéis, em sociedade com o grupo JHSF e o empresário Constantino Bittencourt, lhe custou caro: um transplante de fígado devido a um câncer. Ao sair da mesa de cirurgia, pelo SUS, fez algo que sempre desejou: mudar o nome de Rogério para Gero.
Gero era o único da família que não tinha nome italiano. Vale lembrar que o grupo Fasano foi criado por seu bisavô, também chamado Gero, em 1902. Ele teve ainda outro motivo para a mudança de nome, de ordem prática: para os nova-iorquinos, seus novos clientes, é muito mais fácil pronunciar Gero do que Rogério.
É difícil saber o que um criativo como Gero vai fazer depois de realizar o sonho de fincar a bandeja onde sempre quis. Ele já disse que um desejo seu é se aposentar em Veneza, uma cidade que consegue percorrer a pé, algo que tem feito muito em Nova York. Pelo barulho que o novo restaurante em Midtown já vem fazendo, esse dia parece distante.