Jovens muçulmanas quebram estereótipos com banda de heavy metal
Cobertas com véus islâmicos, elas se apresentam de maneira habitual diante um público masculino que sacode a cabeça com força e participa de moshs
EFE
Publicado em 19 de janeiro de 2018 às 11h20.
Última atualização em 19 de janeiro de 2018 às 17h09.
Jacarta - Um grupo de três adolescentes muçulmanas conseguiu abrir caminho na cena do heavy metal na Indonésia com vibrantes versões, um som poderoso e corajosas letras originais que defendem a tolerância.
Cobertas com véus islâmicos, elas se apresentam de maneira habitual diante um público masculino que sacode a cabeça com força e, vez por outra, participa de um 'mosh pit' (roda em que os participantes pulam e se trombam em uma área, embora sem real intenção de se machucar).
Esse foi o caso em um recente show em que a Agência Efe esteve presente em Ubud, na ilha de Bali.
Firdda Kurnia, vocalista e guitarrista da banda Voice of Baceprot (Voz do Ruído), batia palmas sobre a cabeça e gritava antes de começar um elaborado e distorcido solo de guitarra que fez o público vibrar.
"O outro lado do metal", diz o lema da banda, que presume ser diferente e reivindica o gênero musical como uma forma de expressão compatível com os valores do islã.
"Islã e hijab são a minha identidade, e o metal é só um gênero musical com o qual eu me expresso", declarou Firdda, de 17 anos.
Euis Siti (baterista, de 17 anos) e Widi Rahmawati (baixista, de 16 anos) e Firdda se conheceram na escola islâmica de Singajaya, na província de Java Ocidental, e descobriram o heavy metal em 2014 quando observavam a coleção de discos do seu professor de música.
A reação entusiasmada das estudantes quando ouviram o gênero fez com que o professor e agora seu representante, Cep Ersa Eka Susila Satia, apostasse em formar o grupo, e naquele mesmo ano as três começaram a tocar.
Firdda afirmou que o início na sua comunidade "não foi difícil", apesar de a banda ter recebido ameaças por parte de islamitas que acreditam que as adolescentes violam preceitos islâmicos.
"Acredito que todos os muçulmanos são iguais, temos a mesma religião, o mesmo Deus, e não é um problema", argumentou a vocalista.
"A diversidade é boa, graças às diferenças temos a tolerância. A religião se baseia na maneira de pensar do indivíduo, quando você acredita em uma religião, se trata de um mesmo Deus", acrescentou a jovem.
A Indonésia é o país com maior população islâmica do mundo, com 88% dos seus mais de 260 milhões de habitantes praticando a religião. E embora a grande maioria da população o faça de forma moderada, ativistas e ONGs denunciaram um aumento do extremismo nos últimos anos.
Para Euis, a bateria e a música são uma forma de rebelião, já que ela não gosta "das regras da escola", como contou, com um sorriso tímido.
As integrantes do grupo querem continuar conciliando o heavy metal com os estudos e, mais adiante, continuar sua formação no campo da música.
Até o momento, elas compuseram sete músicas originais sobre assuntos como o estado da educação no país e a intolerância e as apresentam em seus shows, que também têm no repertório versões de grupos como System of a Down, Rage Against the Machine e Slipknot.
Em agosto do ano passado, o Voice of Baceprot tocou para milhares de pessoas durante a comemoração do 72º aniversário da independência da Indonésia. O grupo também apareceu em várias ocasiões na televisão.
Durante o show em Bali, Ridwan, um jovem javanês de 21 anos que escutava a banda pela primeira vez, se mostrou surpreso após a performance.
"Vejo que são muçulmanas, mas tocam como um monstro. Acredito que serão conhecidas internacionalmente no futuro, pois ainda são adolescentes", opinou com admiração Ridwan, que como muitos indonésios utiliza um só nome.
Em um país com uma cultura de heavy metal arraigada, onde inclusive o presidente, Joko Widodo, é um fã confesso de Metallica, a banda de adolescentes consegue se divertir enquanto rompe barreiras musicais, religiosas e de gênero. EFE