Estes filmes vencedores do Oscar deram reais lições de vida
Cenas de alguns filmes, em especial, nos afetam profundamente, deixando até mesmo uma lição de como viver melhor
Da Redação
Publicado em 25 de fevereiro de 2016 às 21h32.
Última atualização em 13 de setembro de 2016 às 14h19.
São Paulo - O cinema vive reafirmando seu poder de nos sacudir de nossa realidade e nos colocar em uma espécie de vivência paralela. Ao articular o imaginário em uma tentativa de representar ou ressignificar o real, ele acaba nos ajudando a compreender eventos da vida. Ao nos identificarmos com um personagem, o cinema auxilia também na compreensão de nós mesmos, como disse certa vez o crítico e cineasta brasileiro Jean-Claude Bernadet. Não à toa, puxamos para nossa rotina aprendizados extraídos de filmes e com frequência demonstramos certa intimidade entre o que está sendo retratado e o que sonhamos, desejamos ou cultivamos. Algumas cenas, em especial, nos afetam profundamente, deixando até mesmo uma lição de como viver melhor. Já que falta menos de uma semana para a cerimônia do Oscar 2016, reunimos alguns filmes vencedores da premiação em outras edições para relembrar cenas que, definitivamente, agregam valores e questionamentos para nossa rotina de espectadores. Mas atenção: as cenas abordadas contêm spoilers!
(Oscar de Melhor Atriz para Sandra Bullock em 2010) Quais são as chances de um jovem negro desamparado, retirado da guarda da mãe ainda na infância, e cercado pela violência e pelo tráfico de drogas, se tornar uma pessoa estruturada e ter seus bons princípios de vida motivados? Pela nossa realidade, podemos afirmar que chances assim são mínimas. Nessa adaptação da história real do atleta de futebol americano Michael Oher, a solidariedade da família Tuohy, que o adota, e a perserverança do garoto parecem ter nascido uma para a outra. Cada diálogo entre ele e a mãe adotiva, Leigh Anne, é uma pílula de bons sentimentos. Mas selecionamos uma conversa inspiradora entre Oher e o pai adotivo, Sean. Essa cena nos dá um pouco do sabor de se ter alguém confiando muito em nosso futuro.
(Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer em 2012) O filme mostra a relação de uma jovem rica e branca (Skeeter) com duas empregadas negras (Aibileen e Minny) no Mississipi dos anos 1960, com o racismo institucionalizado e garantido por lei. A sinopse por si só é uma lição de vida, mas há um momento em que Skeeter pergunta à mãe o que ocorreu com Constantine, a empregada que criou a garota. Em alguns pouco minutos, um soco no estômago nos faz pensar sobre a condescendência com o racismo escondida em cada silêncio e a maneira como ele perpetua se não nos posicionamos contra.
(Oscar de Melhor Filme de Animação e Canção Original em 2011) Andy cresceu e sua vida já não comporta as brincadeiras com Woody, Buzz Lightyear e os inseparáveis amigos. Depois de sobreviverem a um fim trágico em um lixão, os brinquedos são doados a uma menininha. Antes de ir embora para a faculdade, Andy encontra Woody no fundo de uma caixa e se despede. É uma comovente lição de parceria e de crescimento. "O Woody tem sido meu companheiro desde sempre. Ele é bravo, como deve ser um caubói. E gentil, e esperto. E o que realmente faz Woody ser especial é que ele nunca desiste de você. Nunca. Você pode contar com ele sempre. Não importa o que aconteça. Você acha que pode cuidar dele?"
(Oscar de Melhor Filme de Animação e Trilha Sonora em 2010) Generosamente dedicado ao público infantil, Up tem, na verdade, uma grande lição para os adultos já em seus primeiros 15 minutos. É um filme que se constrói sobre a perda – no caso, Carl perde sua amada Ellie para a única certeza que temos, a morte. A partir daí, Carl passa o filme tentando sublimar seu luto e lidar com a visível dificuldade de se desfazer das amarras com sua amada. O livro de aventuras, criado na cumplicidade das quatro mãos, é carregado por apenas duas agora. E o que poderia ser pesado, amargurado e sem perspectiva acaba se mostrando natural e cheio de encantos com as numerosas redescobertas da vida.
(Oscar de Melhor Filme, Roteiro Original e Montagem em 2005) Crash é um dramalhão urbano que explora as tensões raciais na rotina de alguns norte-americanos. Por meio de situações em que testemunhamos os lados de todos os envolvidos, o filme critica o pensamento de que as diferenças (raciais, sociais e ideológicas) não podem fazer as pessoas se encontrarem, mas sim, colidirem. O que mais vemos em cena é a intolerância em suas variadas formas, da mais sutil à mais explícita e desavergonhada. Um exemplo: o comerciante Farhad está disposto a atirar no chaveiro Daniel por conta de um mal-entendido: ele pensa que o chaveiro o trapaceou ao não consertar uma fechadura. Daniel, na verdade, tentou avisá-lo que seria necessário comprar uma porta nova, mas Farhard não entendeu o aviso por não falar inglês. Esse ciclo intolerante e violento é interrompido pela filha de Daniel que, acreditando ter uma capa mágica, se joga na frente do pai quando ele está prestes a levar um tiro. A crença resiste à descrença e o inevitável é corrompido por uma criança, que reescreve a cena e inspira lágrimas em vez de mais um episódio de nervos à flor da pele.
(Oscar de Melhor Filme, Direção para Peter Jackson, Roteiro Adaptado, Figurino, Maquiagem, Montagem, Efeitos Visuais, Som, Trilha Sonora, Canção Original e Direção de Arte em 2004) Você lembra o quanto essa comitiva do Anel andou, certo? E nós aqui, reclamando do cansaço da meia-maratona percorrida de casa até o ponto de ônibus. Depois de escalar montanhas com neve, matar dezenas de bichos, dormir ao relento, racionar um biscoitinho por meses e perder amigos no caminho, os hobbits, elfos, magos e homens da comitiva finalmente conseguiram cumprir a missão de impedir o fim do mundo. Os hobbits – pequenos, sem poderes e insignificantes para alguns – dedicam suas vidas à destruir o Um Anel. E eis que, na coroação do rei Aragorn e seu casamento com a elfa Arwen, o casal convida todos os presentes a se curvarem diante de Frodo, Sam, Merry e Pippin. É a realeza prestando tributo aos comuns, aos simples, aos operários, invertendo papéis. É o líder reconhecendo seus seguidores e valorizando seus esforços. É o presidente da empresa se curvando ao chão de fábrica que dá seu lucro. É a antítese da arrogância.
(Oscar de Melhor Ator para Al Pacino em 1993) A necessidade de um trabalho temporário faz com que o estudante Charlie Simms (Chris O’Donnell) se torne acompanhante do tenente-coronel aposentado Frank Slade (Al Pacino) durante um fim de semana em Nova York – ambos vivem em New Hampshire. O problema é que Simms está sendo pressionado pelo diretor de sua escola, de onde é bolsista, para “dedurar” os estudantes envolvidos em uma “brincadeira” que danificou o carro do diretor. Depois de uma convivência intensa com Simms em Nova York, Slade resolve aparecer no julgamento do jovem. A cena, bastante verbalizada, oscila entre a crucificação de Simms pelo diretor; entre a condescendência com o mimado George Willis Jr (Phillip Seymour Hoffmann) que, por ser rico, é poupado da pressão escolar; e o belíssimo e inflamado discurso com que Slade, agora cego, amargurado e, nas palavras dele, “muito velho”, emociona a comissão julgadora. Enquanto uma instituição educativa, fundada no princípio de educar e ensinar bons valores, tenta corromper o silêncio do aluno com uma ameaça de expulsão, um homem que já não vê sentido na vida se enche de vitalidade para defender ardorosamente a integridade do estudante julgado. Slade é tão persuasivo que convence a comissão julgadora sobre quem merece ser punido e quem merece ser liberado, resultando em palmas convulsionadas dos estudantes. Em tempos de apatia polarizada com exageros, a defesa das integridades silenciosas que enxergamos no nosso dia a dia é mais do que atual. “Não sei se o silêncio de Charlie está certo. Não cabe a mim julgar. Mas sei que ele não denunciará ninguém em troca de um futuro. Isso é integridade. Isso é coragem.”
(Oscar de Melhor Filme, Melhor Direção para Robert Redford, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator Coadjuvante para Timothy Hutton em 1980) Gente como a Gente é um filme doloroso do começo ao fim: trata-se da rejeição de uma mãe pelo filho que sobreviveu a uma tragédia que matou o irmão – este sim, o filho favorito. O pai tenta manter unida a família que se despedaçou. É uma lavanderia de sentimentos reprimidos, culpas, desamparos e acusações. E nesse turbilhão de emoções mal resolvidas, os diálogos familiares revelam vulnerabilidades preciosas.