Charles Duhigg: "as pessoas precisam pensar sobre produtividade"
Autor de livros "O Poder do Hábito" e "Mais rápido e Melhor" ensina como alinhar produtividade e criatividade
Letícia Toledo
Publicado em 13 de junho de 2017 às 15h59.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.
Letícia Toledo
O que a história da criação do filme Frozen, de uma jovem que largou o doutorado para jogar poker e da transformação de adolescentes desorientados em fuzileiros navais têm em comum? Para o jornalista Charles Duhigg, elas ensinam valiosas lições sobre como é possível ser mais produtivo e criativo. Em seu livro “Mais rápido e melhor”, publicado no Brasil no ano passado, Duhigg mescla histórias curiosas com algumas dezenas de estudos para destacar princípios-chave que todos podem aprender e usar para se tornar mais criativo e produtivo, tanto na vida profissional quanto na pessoal. Duhigg, repórter investigativo do jornal The New York Times, alcançou fama em 2012, com o livro “O poder do hábito”. Em sua última passagem pelo Brasil o autor concedeu a seguinte entrevista a EXAME Hoje.
Criatividade e produtividade são frequentemente vistas em lados opostos. Isso porque criatividade, para a maioria, significa ter tempo livre para pensar, ter novas ideias. Já produtividade significa ter a qualidade de produzir em abundância e, para produzir em abundância, é preciso ser rápido. Como o seu livro muda ou trabalha essas visões?
Muitas pessoas pensam que para serem produtivas elas precisam estar ocupadas o tempo todo, mas o que sabemos, por meio de estudos, é que para ser produtivo, é preciso ser menos ocupado. É possível passar o dia inteiro ocupado, respondendo e-mails, indo para reuniões, mas nunca fazer nada importante. Então produtividade é mais sobre tomar tempo para pensar ou criar hábitos para definir suas prioridades ao invés de estar ocupado o tempo todo. Frequentemente, as pessoas precisam desacelerar um pouco para serem mais produtivas. E é verdade que as pessoas pensam que para ser criativo é preciso ter tempo para sonhar acordado, tempo para relaxar. Mas o que descobrimos sobre criatividade é que as pessoas que são vistas como mais criativas não são pessoas que esperam uma ideia nova aparecer. Ao invés disso, o que elas fazem é pegar todas as ideias e combiná-las de maneiras novas. O filme Frozen é um bom exemplo. A Disney descobriu, durante as filmagens, que o filme não estava funcionando e eles não conseguiam descobrir como fazer funcionar. Então eles tiveram uma grande reunião na qual poderiam ter feito duas coisas: poderiam ter mandado todo mundo para casa, para sonhar e pensar naquilo, ou fazer as pessoas lidarem com aquilo ali mesmo. Eles disseram: “me contem sobre questões que vocês acham importantes”. Na reunião, as pessoas juntaram ideias antigas com princesas e irmãs e as combinaram de uma maneira nova. E é por isso que Frozen parece tão criativo e novo. E é assim que criatividade funciona.
No seu livro, o senhor trata de produtividade tanto no ambiente profissional quanto no pessoal. Mas a produtividade na vida pessoal parece ainda mais difícil de ser mensurada. Por exemplo, o senhor pode achar que o seu casamento está bem e prestar mais atenção no seu trabalho e, anos depois, descobrir que sua esposa estava insatisfeita e que sua relação não era tão produtiva quanto imaginava. Como mensurar e lidar com a produtividade na vida pessoal?
É uma ótima pergunta não só porque isso acontece mesmo, mas também porque produtividade significa diferentes coisas para pessoas diferentes em tempos diferentes. A resposta é que não há uma única definição de produtividade. O que pesquisas mostram é que pessoas mais bem sucedidas são pessoas que pensam no que produtividade significa para elas. Quando se trata de produtividade pessoal, a decisão mais importante é passar tempo pensando o que produtividade significa numa sexta-feira, numa quarta-feira, em seu trabalho, em seu casamento. É importante passar muito tempo com o seu companheiro? Ou é mais importante que o tempo que vocês passam juntos seja significativo e divertido? Quanto mais as pessoas pensarem sobre produtividade e escolherem os seus objetivos ao invés de reagir ao que está acontecendo ao redor, mais elas se tornarão bem sucedidas.
Um dos passos mais difíceis para alcançar a produtividade descrito em seu livro é o foco. Como é possível melhorar a habilidade de ter foco?
Estudos mostram que nosso cérebro aprende a focar nos contando histórias sobre o que está acontecendo. Na psicologia, chamam isso de construir modelos mentais. Quando as pessoas acordam, elas normalmente pensam um pouco sobre como será o dia. É um instinto que nos permite construir um modelo mental e decidir no que prestar atenção e o que ignorar. As pessoas que são mais bem sucedidas contam essa história com mais riqueza de detalhes do que acontecerá no dia. As pessoas que fazem isso tem um foco muito melhor. É muito mais fácil ignorar as distrações se você sabe exatamente o que precisa fazer em seguida. Então, o melhor para aprimorar o foco é criar o hábito de contar a nós mesmos as histórias sobre o que nós esperamos que ocorra, visualizar nosso dia com mais especificidade.
Como ser gestor de uma equipe produtiva é algo que livros e artigos discutem há anos. O que o senhor acredita que o seu livro acrescenta a essa discussão?
O livro é sobre oito características que as pessoas e companhias mais produtivas têm. Quando se trata de equipes, aprendemos muito com o Google. Em um grande estudo, eles analisaram todas as suas equipes e tentaram entender por que algumas equipes são bem sucedidas e outras não. Descobriram que quem está no grupo importa muito menos do que como o grupo interage, e que alguns times têm hábitos que os tornam muito bem sucedidos; enquanto que outros times têm ótimas pessoas, mas, por não terem esses hábitos, não são bem sucedidos. Nos melhores grupos, os líderes sempre encorajam todos a falar, participar de todas as reuniões, criando uma equidade na conversa. Mas isso não é suficiente. O segundo hábito é a chamada escuta ostensiva. O líder ouve as pessoas em seus mínimos detalhes, presta atenção no que estão dizendo e estimula o restante do grupo a fazer o mesmo. Com esses dois hábitos se cria uma seguridade psicológica, que é o sentimento de que se está seguro nesse grupo e que é possível dizer coisas, ser ouvido e não ser punido caso se diga algo errado.
O Brasil tem um grande problema de produtividade. Pesquisas mostram, por exemplo, que são necessários quatro trabalhadores brasileiros para produzir o mesmo que um norte-americano. Como podemos lidar com produtividade em larga escala?
Sabemos de algumas coisas sobre isso. A primeira é que educação importa muito. Quanto mais a força de trabalho tiver educação, mais produtiva ela é. A segunda é que incluir mais mulheres na força de trabalho aumenta a produtividade. Isso porque as mulheres tendem a trazer habilidades diferentes que ajudam na produtividade. A terceira coisa é que quanto mais controle os trabalhadores têm sobre suas escolhas, mais produtivos eles tendem a se tornar. Isso é verdade mesmo em trabalho em fábricas: quando as pessoas se aproximam de um determinado problema e são envolvidas no processo de decisão, elas tendem a trabalhar muito mais arduamente para resolvê-lo.
O senhor já disse que seu primeiro livro, “ O poder do hábito”, o ajudou a começar a correr e a perder peso. Que lições “Mais rápido e melhor” lhe trouxe, e de que forma o senhor aplicou esses ensinamentos em sua vida?
A maior mudança é que o livro me forçou a passar mais tempo pensando nas decisões que eu tomo. De manhã, quando eu pego o metrô de casa para o trabalho, eu passo algum tempo visualizando o meu dia, o que eu preciso fazer antes do almoço, o que eu preciso fazer depois do almoço, etc. Eu tenho esses hábitos agora que me forçam a pensar se estou fazendo as escolhas certas. Por exemplo, eu estou fazendo um podcast para o The New York Times e uma das coisas que eu faço é me forçar uma vez por semana a pensar quanto tempo eu gasto no podcast e pensar se eu deveria fazer isso novamente. A resposta que tenho agora é: não. Decidi que, assim que essa temporada acabar, não vou mais fazê-lo. Toma muito tempo, não é tão interessantes. É muito fácil chegar a um padrão, onde se continua reagindo, fazendo o mesmo que se fez ontem, ao invés de fazer escolhas e estabelecer objetivos.