"Mais Que Mel" revê importância das abelhas para planeta
Documentarista Markus Imhoof reflete sobre o nosso estágio de civilização no filme, e como a organização social das abelhas espelha a nossa
Da Redação
Publicado em 31 de outubro de 2013 às 18h06.
São Paulo - O documentário "Mais Que Mel" é inusitado ao retratar a vida das abelhas e o acentuado declínio na população mundial deste inseto. Ao investigar essa crise, o documentarista Markus Imhoof reflete sobre o nosso estágio de civilização - e como a organização social das abelhas espelha a nossa, e como nossa economia está destruindo isso tudo. A produção foi indicada como representante da Suíça para disputar uma das cinco vagas do Oscar de filme estrangeiro em 2014.
Segundo sustenta o documentário, sem abelhas, o mundo não sobreviverá por muito tempo. Dependemos delas para a polinização de árvores e flores, e consequentemente para a produção de uma boa gama de alimentos.
Não há muitas explicações ainda para a diminuição dos insetos, e os cientistas ainda estudam suas causas para poder reverter esse cenário. Algumas hipóteses que surgem envolvem pesticidas, pouca diversidade genética, parasitas. Já foi criado até um nome para descrever essa situação: "colony collapse disorder", que dizimou até 90 por cento das abelhas em algumas regiões do mundo.
Obcecada pelo máximo rendimento, a apicultura contemporânea parece muitas vezes não levar em conta fatores biológicos e ecológicos. Imhoof apresenta um retrato realista desta que se revela uma indústria cruel sem qualquer piedade por suas operárias, que chegam a ser transportadas em caixas pelo correio de um continente a outro.
A narrativa acompanha a modernização da produção de mel contrapondo duas figuras do presente, um apicultor artesanal da região alpina da Suíça e um americano que produz mel em escala industrial. É curioso como essas duas figuras são tão distintas, apesar de trabalhar com o mesmo produto final. O filme mostra como estágios diferentes do capitalismo convivem no mundo, e como são afetados pela mesma crise ao mesmo tempo.
O que parece ser uma saída para o problema, ironicamente, é a introdução das chamadas abelhas africanas. Mais agressivas, foram motivo de pânico algumas décadas atrás. "Os Estados Unidos sempre temeram ser invadidos", diz o apicultor americano Fred Terry, que trabalha com esse tipo de inseto.
Há algumas cenas impressionantes em "Mais Que Mel", quando vemos de perto as abelhas e o interior de suas colmeias. A grande perspicácia do filme está em usar as abelhas como um pretexto para abordar não apenas a questão ecológica, mas igualmente a geopolítica do capitalismo contemporâneo, também conhecida como globalização.
Não é apenas o transporte de abelhas que acentua as diferenças e semelhanças dos processos econômicos pelo mundo. O filme mostra como a economia impõe que cada país ocupe um lugar e cumpra com sua função dentro da hierarquia - tal qual em uma colmeia.
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São Paulo - O documentário "Mais Que Mel" é inusitado ao retratar a vida das abelhas e o acentuado declínio na população mundial deste inseto. Ao investigar essa crise, o documentarista Markus Imhoof reflete sobre o nosso estágio de civilização - e como a organização social das abelhas espelha a nossa, e como nossa economia está destruindo isso tudo. A produção foi indicada como representante da Suíça para disputar uma das cinco vagas do Oscar de filme estrangeiro em 2014.
Segundo sustenta o documentário, sem abelhas, o mundo não sobreviverá por muito tempo. Dependemos delas para a polinização de árvores e flores, e consequentemente para a produção de uma boa gama de alimentos.
Não há muitas explicações ainda para a diminuição dos insetos, e os cientistas ainda estudam suas causas para poder reverter esse cenário. Algumas hipóteses que surgem envolvem pesticidas, pouca diversidade genética, parasitas. Já foi criado até um nome para descrever essa situação: "colony collapse disorder", que dizimou até 90 por cento das abelhas em algumas regiões do mundo.
Obcecada pelo máximo rendimento, a apicultura contemporânea parece muitas vezes não levar em conta fatores biológicos e ecológicos. Imhoof apresenta um retrato realista desta que se revela uma indústria cruel sem qualquer piedade por suas operárias, que chegam a ser transportadas em caixas pelo correio de um continente a outro.
A narrativa acompanha a modernização da produção de mel contrapondo duas figuras do presente, um apicultor artesanal da região alpina da Suíça e um americano que produz mel em escala industrial. É curioso como essas duas figuras são tão distintas, apesar de trabalhar com o mesmo produto final. O filme mostra como estágios diferentes do capitalismo convivem no mundo, e como são afetados pela mesma crise ao mesmo tempo.
O que parece ser uma saída para o problema, ironicamente, é a introdução das chamadas abelhas africanas. Mais agressivas, foram motivo de pânico algumas décadas atrás. "Os Estados Unidos sempre temeram ser invadidos", diz o apicultor americano Fred Terry, que trabalha com esse tipo de inseto.
Há algumas cenas impressionantes em "Mais Que Mel", quando vemos de perto as abelhas e o interior de suas colmeias. A grande perspicácia do filme está em usar as abelhas como um pretexto para abordar não apenas a questão ecológica, mas igualmente a geopolítica do capitalismo contemporâneo, também conhecida como globalização.
Não é apenas o transporte de abelhas que acentua as diferenças e semelhanças dos processos econômicos pelo mundo. O filme mostra como a economia impõe que cada país ocupe um lugar e cumpra com sua função dentro da hierarquia - tal qual em uma colmeia.
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