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Borges, um escritor apaixonado por seu desejo de ser judeu

Relação do ecritor com o judaísmo foi o eixo da principal conferência de Estudo Sefaradi, realizada em Buenos Aires há poucos dias

Escritor Jorge Luis Borges: escritor teve contato com a cultura sefaradi na Espanha, onde viveu de 1918 a 1921 e escreveu um de seus primeiros poemas, "Judiaria" (Raul Urbina/Cover/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 25 de agosto de 2013 às 12h15.

Buenos Aires - Um jovem Jorge Luis Borges se emocionou com a possibilidade de ter antepassados de origem judaica, uma hipótese que nunca pôde comprovar, mas que apareceu em sua obra literária e suas posições públicas contra o antissemitismo.

Embora até agora o foco dos especialistas tenha sido as raízes inglesas do escritor argentino e a influência delas em sua obra, a relação de Borges (1899-1986) com o judaísmo foi o eixo da principal conferência de Estudo Sefaradi, realizada em Buenos Aires há poucos dias.

Sua autora, a filóloga e crítica literária María Gabriela Mizraje, destacou em entrevista à Agência Efe que Borges teve uma forte "vontade de envolver-se dentro da cultura judaica em geral e sefaradi em particular".

Aos 21 anos, quando já tinha demonstrado sua curiosidade pela cultura judaica e enquanto estava na Espanha, Borges descobriu ao ler o livro "Rosas y su tiempo", do historiador José María Ramos Mejía, que o sobrenome materno, Acevedo, consta na relação das famílias de origem sefaradi -"judeus portugueses convertidos"- que emigraram a terras argentinas.

"Não sei bem como contemplar essa porção de sangue israelita que corre pelas minhas veias", contou por carta o autor de "Ficções" ao amigo Maurice Abramowicz, um escritor de origem judaica polonesa.

Mizraje destaca que a "fascinação" pela cultura judaica está presente em Borges desde "Fervor de Buenos Aires" (1923) até o final de sua vida, com a obra do filósofo holandês de origem sefaradi Baruch Spinoza como uma de seus principais paixões.

Borges teve contato com a cultura sefaradi na Espanha, onde viveu de 1918 a 1921 e escreveu um de seus primeiros poemas, "Judiaria", publicado em 1923.

A especialista ressalta que este interesse de Borges pelo judaísmo não só atravessa sua obra narrativa e poética, mas também suas conferências e seus atos de compromisso público contra o antissemitismo e em respaldo a Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967).


Borges pôs à prova esse compromisso com o judaísmo na década de 1930, quando uma crescente onda de antissemitismo foi sentida também na Argentina.

"Borges é então acusado permanentemente pelos setores mais reacionários", lembrou a pesquisadora.

Em 1934, a revista "Crisol", uma publicação de setores de extrema-direita, acusou o autor por suas posições a favor dos judeus e começou a se referir a ele, como se isso fosse um insulto, "Borges judeu".

Em resposta, Borges publica um artigo, "Eu judeu", no qual, segundo explica Mizraje, o poeta e romancista expõe que embora não fosse possível, apesar de seu empenho, confirmar sua origem hebraica, ele adoraria poder fazê-lo.

Segundo pesquisas, o sobrenome materno do célebre escritor argentino, Acevedo, tem efetivamente uma origem sefaradi, mas nunca se pôde reconstruir a genealogia dos antepassados de Borges a ponto de remontar essas raízes e comprovar ou descartar sua origem judaica.

É exatamente essa falta de certeza que, segundo Mizraje, torna admirável o compromisso de Borges com a cultura judaica, compromisso que seria "natural" se fosse comprovada a ligação familiar, mas que no escritor resulta apenas de uma conexão "intelectual e emocional".

"A fidelidade de Borges com o judaísmo emociona porque poderia ter sido um momento de fascinação da juventude, influenciado por seus amigos de então, mas ele mantém isto ao longo de toda sua produção", destacou Mizraje.

"Poderíamos dizer que é um pacto de amor. Não precisamos de filiação confirmada pelo sangue para reconhecer esse pacto de amor de Borges", acrescentou a especialista.

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Buenos Aires - Um jovem Jorge Luis Borges se emocionou com a possibilidade de ter antepassados de origem judaica, uma hipótese que nunca pôde comprovar, mas que apareceu em sua obra literária e suas posições públicas contra o antissemitismo.

Embora até agora o foco dos especialistas tenha sido as raízes inglesas do escritor argentino e a influência delas em sua obra, a relação de Borges (1899-1986) com o judaísmo foi o eixo da principal conferência de Estudo Sefaradi, realizada em Buenos Aires há poucos dias.

Sua autora, a filóloga e crítica literária María Gabriela Mizraje, destacou em entrevista à Agência Efe que Borges teve uma forte "vontade de envolver-se dentro da cultura judaica em geral e sefaradi em particular".

Aos 21 anos, quando já tinha demonstrado sua curiosidade pela cultura judaica e enquanto estava na Espanha, Borges descobriu ao ler o livro "Rosas y su tiempo", do historiador José María Ramos Mejía, que o sobrenome materno, Acevedo, consta na relação das famílias de origem sefaradi -"judeus portugueses convertidos"- que emigraram a terras argentinas.

"Não sei bem como contemplar essa porção de sangue israelita que corre pelas minhas veias", contou por carta o autor de "Ficções" ao amigo Maurice Abramowicz, um escritor de origem judaica polonesa.

Mizraje destaca que a "fascinação" pela cultura judaica está presente em Borges desde "Fervor de Buenos Aires" (1923) até o final de sua vida, com a obra do filósofo holandês de origem sefaradi Baruch Spinoza como uma de seus principais paixões.

Borges teve contato com a cultura sefaradi na Espanha, onde viveu de 1918 a 1921 e escreveu um de seus primeiros poemas, "Judiaria", publicado em 1923.

A especialista ressalta que este interesse de Borges pelo judaísmo não só atravessa sua obra narrativa e poética, mas também suas conferências e seus atos de compromisso público contra o antissemitismo e em respaldo a Israel durante a Guerra dos Seis Dias (1967).


Borges pôs à prova esse compromisso com o judaísmo na década de 1930, quando uma crescente onda de antissemitismo foi sentida também na Argentina.

"Borges é então acusado permanentemente pelos setores mais reacionários", lembrou a pesquisadora.

Em 1934, a revista "Crisol", uma publicação de setores de extrema-direita, acusou o autor por suas posições a favor dos judeus e começou a se referir a ele, como se isso fosse um insulto, "Borges judeu".

Em resposta, Borges publica um artigo, "Eu judeu", no qual, segundo explica Mizraje, o poeta e romancista expõe que embora não fosse possível, apesar de seu empenho, confirmar sua origem hebraica, ele adoraria poder fazê-lo.

Segundo pesquisas, o sobrenome materno do célebre escritor argentino, Acevedo, tem efetivamente uma origem sefaradi, mas nunca se pôde reconstruir a genealogia dos antepassados de Borges a ponto de remontar essas raízes e comprovar ou descartar sua origem judaica.

É exatamente essa falta de certeza que, segundo Mizraje, torna admirável o compromisso de Borges com a cultura judaica, compromisso que seria "natural" se fosse comprovada a ligação familiar, mas que no escritor resulta apenas de uma conexão "intelectual e emocional".

"A fidelidade de Borges com o judaísmo emociona porque poderia ter sido um momento de fascinação da juventude, influenciado por seus amigos de então, mas ele mantém isto ao longo de toda sua produção", destacou Mizraje.

"Poderíamos dizer que é um pacto de amor. Não precisamos de filiação confirmada pelo sangue para reconhecer esse pacto de amor de Borges", acrescentou a especialista.

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