Boicote à Rússia: marcas fecham as portas ao país em apoio à Ucrânia
O início da invasão russa na última semana coincidiu com o calendário de desfiles de moda europeu. Em protesto contra a guerra e em apoio à Ucrânia, grandes marcas vêm adotando posições significativas nas últimas semanas
Julia Storch
Publicado em 3 de março de 2022 às 14h03.
Última atualização em 4 de março de 2022 às 11h26.
Apenas duas cores estampam o Instagram da grife espanhola Balenciaga, o azul e o amarelo. A grife pertencente ao grupo Gucci anunciou um novo viés para os canais, publicar apenas informações sobre a situação na Ucrânia. Em protesto contra a guerra e em apoio à Ucrânia, grandes marcas vêm adotando posições significativas nas últimas semanas.
O início da invasão russa na última semana coincidiu com o calendário de desfiles de moda europeu. No dia 24 de fevereiro, enquanto marcas como Moschino e Prada desfilavam em Milão, tropas russas adentravam pela fronteira ucraniana.
Durante o desfile de Giorgio Armani, no domingo (27), apenas o som dos sapatos e dos aplausos ecoaram na passarela. "Minha decisão de não usar nenhuma música foi tomada como um sinal de respeito às pessoas envolvidas na tragédia que se desenrola na Ucrânia", publicou o estilista no Twitter.
Já na semana de moda parisiense, iniciada na terça-feira (1), marcas fizeram provocações e trouxeram referências da guerra para a passarela.
No desfile que encerrou o segundo dia do evento, o diretor criativo da Balmain, Olivier Rousteing, colocou no início da apresentação dançarinos com chapéus com referência aos capacetes de soldados.
Com movimentos calculados, como na dança e em um campo de batalha, os dançarinos colocaram dois personagens ao alto, como se fossem seus líderes. Ao final, um beijo provocativo e uma frase no telão ao fundo: “É muito mais difícil julgar a si mesmo do que julgar os outros”.
As peças apresentadas trouxeram detalhes que lembravam escudos, mas mesclados com tecidos leves e cores claras. Ainda que o intuito original do desfile fosse representar a dor e vergonha do estilista, ao sofrer um acidente doméstico que queimou grande parte de seu corpo, Rousteing sentiu que o tema também se encaixava com a situação política atual.
Nas redes sociais o estilista demonstrou apoio ao povo ucraniano. “Ao mostrarmos nossa coleção, estamos cientes de que há coisas mais importantes acontecendo no mundo hoje. É difícil se sentir bem em focar em passarelas e roupas, enquanto ouvimos com o coração pesado as últimas notícias. Nossos pensamentos e orações estão com os ucranianos. Somos inspirados por sua dignidade, resiliência e devoção à liberdade”.
Além dos designers, grandes grupos também se posicionaram contra o país liderado por Vladimir Putin. Marcas como Nike e as empresas de fast fashion Asos e Boohoo anunciaram que não venderão seus itens na Rússia.
Já a Burberry, Puma e o grupo H&M, além de não venderem mais as vendas no país, também não farão entregas internacionais no território. "O Grupo H&M decidiu pausar temporariamente todas as vendas na Rússia. As lojas na Ucrânia já foram temporariamente fechadas devido à segurança de clientes e colegas", publicou a sueca H&M em comunicado.
Burberry, H&M, Asos e LVMH anunciaram doações à Ucrânia.
Porém, a Rússia não é mais um dos grandes mercados mundiais consumidores de luxo. Segundo estimativa do banco Morgan Stanley, apenas 2% das vendas mundiais dos grupos Kering e Richemont são feitos por russos dentro e fora da Rússia.
“A importância da Rússia e dos cidadãos russos para o setor de bens de luxo diminuiu ao longo dos anos e agora é relativamente irrelevante”, disse Édouard Aubin, analista do Morgan Stanley à Vogue Business.
Porém, a indústrias como a italiana possui alto investimento russo. Em torno de 1,34 bilhão de euros provenientes de artigos de luxo são vendidos para a Rússia anualmente.
Na semana passada, durante a semana de moda de Milão, Carlo Capasa, presidente da Câmara Nacional de Moda Italiana, disse que ainda que o mundo esteja vivendo uma situação dramática, “decidimos não parar [os desfiles de moda] a fim de respeitar os 1,2 milhão de pessoas que trabalham em nossa indústria todos os dias”.