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Anthony Hopkins encarna Hitchcock nos cinemas

O filme está previsto para estrear no Brasil em 8 de fevereiro de 2013

Os atores Anthony Hopkins e Helen Mirren chegam para a estreia de "Hitchcock" em Londres (REUTERS / Luke MacGregor)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de dezembro de 2012 às 10h40.

São Paulo - Sempre foi motivo de especulação de cinéfilos - como foi possível que um dos maiores autores do mundo, e talvez o maior de todos, tenha vivenciado um processo tão rápido de decadência? E o que é exatamente essa decadência? Pois Alfred Hitchcock, mesmo nos filmes após sua trilogia edipiana - "Psicose", "Os Pássaros" e "Marnie, Confissões de Uma Ladra" -, nunca deixou de construir cenas inventivas que, até o fim, acrescentaram a seu gênio. Mas há uma diferença de ambição, de tom entre os grandes filmes dos anos 1950 - "Janela Indiscreta", "Um Corpo Que Cai", "Intriga Internacional" - e os irregulares da fase final.

Dois filmes, um para cinema, outro para TV, tentam decifrar o enigma, no momento em que sai uma caixa de Blu-Ray com os 14 filmes considerados mais representativos do mestre do suspense. A caixa está disponível, "Hitchcock" (o filme) estreia em 8 de fevereiro, só falta a HBO Brasil programar "The Girl" (A Garota). "Hitchcock" baseia-se no livro recente de Stephen Rebello sobre os bastidores da realização de "Psicose".

Bem antes, na revisão de seu livro de entrevistas com o grande artista - Hitchcock Truffaut -, François Truffaut já arriscara uma interpretação. O fracasso de público de "Marnie" havia provocado dúvidas que consumiam o diretor. Truffaut, para quem "Marnie" era uma obra-prima doente, lamentava que Hitchcock, aos 60 e poucos anos, se deixasse abalar pela insegurança.

"Hitchcock", o filme, abre com esse abalo no edifício da psique de um artista excepcional. O diretor Sacha Gervasi documentou-se no livro de Rebello. Logo na primeira cena, Hitchcock e a mulher, Alma Reville, chegam ao tapete vermelho de "Intriga Internacional". No fim da projeção, um jornalista lança a pergunta que faz com que Alma congele - chegado aos 60 anos, o sr. Hitchcock não pensa em se aposentar? É preciso reportar-se ao espírito da época. Em 1959, um novo cinema surge na França - a nouvelle vague.


Sua palavra de ordem - todo poder aos jovens. Na capa do jornal, como se Hitchcock estivesse liquidado, estão apontados os novos mestres do suspense, e um deles é o francês Claude Chabrol. Colocado em xeque, Hitchcock arrisca tudo na realização de um filme diferente de todos os que fez antes. Escolhe um pulp de Robert Bloch, cujo clímax, percebe, nem é tanto a revelação final da identidade do criminoso, mas o assassinato de uma certa Marion Crane na ducha, e isso deve ocorrer no fim do primeiro terço da narrativa.

A Paramount recua do financiamento, Hitchcock hipoteca a própria casa. No processo, sente-se traído por Alma e chega a suspeitar de que ela esteja tendo um affair. Tudo no filme é novo - a técnica de TV, a estrutura narrativa. Hitchcock fragiliza-se. Alma dirige cenas importantes. O filme não pode parar só porque ele está mal. A primeira exibição é um fracasso e Alma, que pode ter sofrido alguma tentação - como o próprio Hitchcock também foi sempre seduzido por suas loiras -, empurra o marido.

Reinventa com ele a cena famosa da ducha. Introduz a música. Aquelas 70 posições de câmera para cerca de 45 segundos de filme mudaram o cinema e viraram um marco - como a escadaria de Odessa de Sergei M. Eisenstein em "O Encouraçado Potemkin". É muito instrutivo como Gervasi e Rebello mostram que tudo ocorreu e dão crédito a Alma Reville. Anthony Hopkins pode não ter o physique du rôle para fazer Hitchcock, mas se transforma e convence. Helen Mirren capta toda a complexidade de Alma. Scarlett Johansson é uma encantadora Janet Leigh.

No desfecho de "Hitchcock", "Psicose" arrebenta. Hitchcock, de novo no topo, não sabe qual será o próximo filme, mas, quando diz isso, um pássaro vem pousar no seu ombro. Se Hitchcock vacilava em "Psicose", o desmoronamento começou em "Os Pássaros", quando ele ficou obcecado pela loira da vez, Tippi Hedren. É o tema de "The Girl", de Julian Jarrold. Sienna Miller faz Tippi, Toby Jones é Hitchcock. Quando Tippi o rejeitou, o grande artista exibiu seu lado mais sombrio.

Tornou-se abusivo. Na cena do armário, em que ela é bicada pelos pássaros, Hitchcock substituiu os pássaros mecânicos por aves de verdade. Tippi, acuada, tentou largar a produção. Ele lhe esfregou na cara o contrato ao qual ela estava presa. Os críticos gostam de dizer que Hitchcock e Sigmund Freud nasceram um para o outro. "Hitchcock" e "The Girl" deitam o mestre no divã e o psicanalisam.

HITCHCOCK

Título original: Hitchcock.

Direção: Sacha Gervasi.

Gênero: Drama.

Estreia: 8 de fevereiro (previsão)

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São Paulo - Sempre foi motivo de especulação de cinéfilos - como foi possível que um dos maiores autores do mundo, e talvez o maior de todos, tenha vivenciado um processo tão rápido de decadência? E o que é exatamente essa decadência? Pois Alfred Hitchcock, mesmo nos filmes após sua trilogia edipiana - "Psicose", "Os Pássaros" e "Marnie, Confissões de Uma Ladra" -, nunca deixou de construir cenas inventivas que, até o fim, acrescentaram a seu gênio. Mas há uma diferença de ambição, de tom entre os grandes filmes dos anos 1950 - "Janela Indiscreta", "Um Corpo Que Cai", "Intriga Internacional" - e os irregulares da fase final.

Dois filmes, um para cinema, outro para TV, tentam decifrar o enigma, no momento em que sai uma caixa de Blu-Ray com os 14 filmes considerados mais representativos do mestre do suspense. A caixa está disponível, "Hitchcock" (o filme) estreia em 8 de fevereiro, só falta a HBO Brasil programar "The Girl" (A Garota). "Hitchcock" baseia-se no livro recente de Stephen Rebello sobre os bastidores da realização de "Psicose".

Bem antes, na revisão de seu livro de entrevistas com o grande artista - Hitchcock Truffaut -, François Truffaut já arriscara uma interpretação. O fracasso de público de "Marnie" havia provocado dúvidas que consumiam o diretor. Truffaut, para quem "Marnie" era uma obra-prima doente, lamentava que Hitchcock, aos 60 e poucos anos, se deixasse abalar pela insegurança.

"Hitchcock", o filme, abre com esse abalo no edifício da psique de um artista excepcional. O diretor Sacha Gervasi documentou-se no livro de Rebello. Logo na primeira cena, Hitchcock e a mulher, Alma Reville, chegam ao tapete vermelho de "Intriga Internacional". No fim da projeção, um jornalista lança a pergunta que faz com que Alma congele - chegado aos 60 anos, o sr. Hitchcock não pensa em se aposentar? É preciso reportar-se ao espírito da época. Em 1959, um novo cinema surge na França - a nouvelle vague.


Sua palavra de ordem - todo poder aos jovens. Na capa do jornal, como se Hitchcock estivesse liquidado, estão apontados os novos mestres do suspense, e um deles é o francês Claude Chabrol. Colocado em xeque, Hitchcock arrisca tudo na realização de um filme diferente de todos os que fez antes. Escolhe um pulp de Robert Bloch, cujo clímax, percebe, nem é tanto a revelação final da identidade do criminoso, mas o assassinato de uma certa Marion Crane na ducha, e isso deve ocorrer no fim do primeiro terço da narrativa.

A Paramount recua do financiamento, Hitchcock hipoteca a própria casa. No processo, sente-se traído por Alma e chega a suspeitar de que ela esteja tendo um affair. Tudo no filme é novo - a técnica de TV, a estrutura narrativa. Hitchcock fragiliza-se. Alma dirige cenas importantes. O filme não pode parar só porque ele está mal. A primeira exibição é um fracasso e Alma, que pode ter sofrido alguma tentação - como o próprio Hitchcock também foi sempre seduzido por suas loiras -, empurra o marido.

Reinventa com ele a cena famosa da ducha. Introduz a música. Aquelas 70 posições de câmera para cerca de 45 segundos de filme mudaram o cinema e viraram um marco - como a escadaria de Odessa de Sergei M. Eisenstein em "O Encouraçado Potemkin". É muito instrutivo como Gervasi e Rebello mostram que tudo ocorreu e dão crédito a Alma Reville. Anthony Hopkins pode não ter o physique du rôle para fazer Hitchcock, mas se transforma e convence. Helen Mirren capta toda a complexidade de Alma. Scarlett Johansson é uma encantadora Janet Leigh.

No desfecho de "Hitchcock", "Psicose" arrebenta. Hitchcock, de novo no topo, não sabe qual será o próximo filme, mas, quando diz isso, um pássaro vem pousar no seu ombro. Se Hitchcock vacilava em "Psicose", o desmoronamento começou em "Os Pássaros", quando ele ficou obcecado pela loira da vez, Tippi Hedren. É o tema de "The Girl", de Julian Jarrold. Sienna Miller faz Tippi, Toby Jones é Hitchcock. Quando Tippi o rejeitou, o grande artista exibiu seu lado mais sombrio.

Tornou-se abusivo. Na cena do armário, em que ela é bicada pelos pássaros, Hitchcock substituiu os pássaros mecânicos por aves de verdade. Tippi, acuada, tentou largar a produção. Ele lhe esfregou na cara o contrato ao qual ela estava presa. Os críticos gostam de dizer que Hitchcock e Sigmund Freud nasceram um para o outro. "Hitchcock" e "The Girl" deitam o mestre no divã e o psicanalisam.

HITCHCOCK

Título original: Hitchcock.

Direção: Sacha Gervasi.

Gênero: Drama.

Estreia: 8 de fevereiro (previsão)

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