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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h34.
Ele seguiu direitinho a cartilha dos donos da empresa. Cumpriu o lema do chefe que chega até a soar duvidoso: fazer o mínimo de trabalho braçal e o máximo de esforço mental. Com muito interesse e boas relações de trabalho, acaba de chegar à posição de coordenador mundial de um dos produtos da empresa. Acima dele, agora, só os donos. Você deve estar imaginando que "ele" é um executivo de alguma corporação americana, na faixa dos 40 anos, ao menos 15 deles dedicados à empresa, cabelos grisalhos e alguns MBAs no currículo. Engano. Ele é Marcelo Tosatti, um curitibano de 18 anos que nem começou a cursar faculdade, cabeleira nos ombros e ainda longe de pratear.
PRÊMIO: Marcelo acaba de ser nomeado o coordenador mundial (o mantenedor, na linguagem oficial) do kernel da Linux, que vem cutucando a Microsoft com seu sistema operacional gratuito. A nomeação foi decisão do próprio Linus Torvalds, um dos donos da Linux, numa substituição a Alan Cox, o sócio que comandava esta operação até a escolha do curitibano. O kernel é o núcleo do sistema operacional responsável por gerenciar a memória e o acesso aos arquivos, entre outras atribuições.
CURRÍCULO: A trajetória de Marcelo é surpreendente. Ele nem sequer ingressou na faculdade. Tem segundo grau completo e inglês instrumental aprendido na escola. Desde os 11 anos, é um obstinado em decifrar computadores. Nas horas vagas, um amante das peladas com amigos em terreno de areia. Aos 13 anos, era funcionário num provedor de internet em Curitiba e, aos 14, virou estagiário na Conectiva, a empresa que desenvolve e distribui o Linux para a América Latina, de onde agora vai pilotar sua nova função. Até a promoção, fazia parte da equipe de suporte da empresa. Entre seus desafios agora está o de manter ativa uma comunidade internacional de "fissurados" como ele, selecionando as melhores idéias e definindo as mudanças que serão feitas no kernel 2.4 para aprimorá-lo.
DIFERENCIAL: Marcelo chamou a atenção dos executivos da Linux por causa da participação ativa na comunidade virtual de pesquisadores do kernel e pela versatilidade de seu portfólio de competências. O curitibano é conhecido pela determinação em resolver problemas e superar seus próprios desafios, a aptidão para o trabalho em equipe, o foco no objetivo e a disposição para jornadas ininterruptas. Tudo isso somado à humildade. "Meu hobby é este mesmo: mexer com computador. Tomando banho, passeando ou namorando, estou sempre pensando na solução dos problemas", diz. "No mundo da Nova Economia, quem é curioso, tem capacidade de liderar um time, de buscar informações e de pensar virtualmente situa-se num patamar diferenciado. Pessoas novas como o Marcelo não têm conceitos enraizados, não travam diante de um desafio", avalia Martiniano Lopes, sócio da PricewaterhouseCoopers.
FUTURO: O jovem curitibano acredita que a nova função vai ajudá-lo a amadurecer seu conhecimento. "Vou ficar dois anos nessa função e certamente terei um salto no meu ritmo de aprendizado. Quero fazer faculdade de matemática e depois trabalhar com performance e missão crítica", diz. "Algo como desvendar a forma de como otimizar os computadores que ficam no ar 24 horas por dia e que trabalham com replicação de dados." Assustado com a rápida ascensão na carreira? "Meu negócio era jogar bola com os amigos. Para não parar de jogar bola e ter de estudar, prestava muita atenção nas aulas. Nunca pensei a sério em dinheiro e carreira. Minha única preocupação era fazer sempre o melhor em qualquer coisa que me chamasse a atenção. Comparo meu interesse a um videogame: o que quero é passar de fase. Não para competir, mas para ver onde vai dar."