Flávio Souza (à esq.) e Mauro Corrêa, ambos da Golden Goal, no Engenhão, no Rio de Janeiro: gestão do estádio responde por 25% do faturamento (Ernani de Almeida/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 19 de março de 2013 às 14h17.
São Paulo - No mês passado, teve início o Campeonato Brasileiro de Futebol, o Brasileirão. Nos gramados, os 20 maiores clubes vão disputar 380 jogos, nos próximos sete meses, em busca do primeiro lugar no maior evento da agenda esportiva do país. No ano passado, mais de 5 milhões de torcedores compareceram aos estádios, gerando uma receita de bilheteria de aproximadamente 120 milhões de reais.
Essa dinheirama é apenas uma fatia, a menor porção, do total de recursos movimentados pelo futebol. Segundo levantamento da consultoria BDO RCS, os 20 maiores clubes geraram 2,15 bilhões de reais em negócios em 2011.
Essa grana vem da bilheteria dos jogos, da venda de patrocínio e das negociações envolvendo a compra e a venda de atletas. Longe dos holofotes e dos gramados, centenas de profissionais disputam o direito de negociar em nome dos times.
Até o fechamento desta edição, Flamengo, Corinthians e São Paulo estavam no centro de uma disputa envolvendo as grandes agências de marketing esportivo, entre elas a Traffic, do empresário J. Hawilla, e agências médias, como a carioca Golden Goal, fundada, em 2004, por Mauro Corrêa e Carlos Eduardo Ferreira, ex-consultores da A.T. Kearney.
Embora os contratos de patrocínio no futebol ainda representem o lado mais estrelado e endinheirado do esporte, outros negócios têm atraído o interesse de anunciantes e investidores. Por exemplo, a administração dos estádios. Até bem pouco tempo os camarotes das arenas brasileiras eram espaços decadentes.
Eles se transformaram em palco de eventos corporativos durante as partidas de futebol e os shows de celebridades, como U2 e Madonna. A Golden Goal administra os 79 camarotes do Engenhão, o estádio do Botafogo, no Rio de Janeiro.
O cliente — bancos e grandes empresas — aluga o espaço e a Golden Goal faz a gestão dos fornecedores de bebidas, comidas e outros serviços. “Esse filão representa 25% do nosso faturamento”, diz Flávio Souza, diretor administrativo-financeiro. Além disso, novas modalidades esportivas, como o MMA, têm feito com que empresas estabelecidas criem novas áreas de negócios e novos empreendimentos cheguem ao mercado.
Há também uma diversidade de projetos em andamento por causa da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016. Esses projetos têm gerado demanda por consultores especializados em medir o retorno de grandes investimentos de marketing no esporte.
Mais vagas
Um estudo da SportPar, empresa de investimentos e gestão de ativos nas indústrias de esporte, entretenimento e mídia, mostra um aumento das receitas globais do esporte em 4,8% ao ano, chegando a 320 bilhões de reais em 2016. Nesse cenário, o Brasil saltará de 6 bilhões de reais, gerados em 2010, para 10 bilhões de reais, em 2016. No mesmo período, o setor que emprega atualmente 300 000 profissionais deve dobrar a oferta de vagas.
Esses números têm atraído empresários como o bilionário Eike Batista, que no ano passado se associou à americana IMG Worldwide. Dessa parceria nasceu a IMX. “Somos uma empresa pequena e pretendemos estar entre as maiores do setor nos próximos três anos”, diz Alan Adlert, presidente da IMX, que emprega 55 funcionários, entre eles profissionais de finanças, publicidade e comunicação.
A IMX está por trás de eventos de golfe, vela, tênis, mas tem também em seu portfólio campeonatos de skate e BMX. No mês passado, a empresa de Eike adquiriu 50% da marca Rock in Rio. O posicionamento da IMX diz muito sobre a convergência que está em curso entre o mundo dos esportes e o do entretenimento — movimento que deve abrir novas vagas para profissionais de diversas áreas.
A 9ine, formada no ano passado de uma uma parceria entre Ronaldo, o ex-jogador camisa 9 da seleção, e a WPP, o maior grupo de comunicação do mundo, tem como carro-chefe a gestão de imagem de atletas e artistas, um modelo que é novidade por aqui. Entre seus agenciados estão o lutador Anderson Silva e os jogadores de futebol Neymar, do Santos, e Lucas, do São Paulo.
Ronaldo também administra os contratos do cantor Luan Santana e está em negociação com duas cantoras famosas, uma baiana e outra mineira. “O nome Ronaldo abre muitas portas”, diz Evandro Guimarães, diretor de operações. A 9ine, que começou com quatro funcionários, hoje emprega 30 e opera nos moldes de uma agência de publicidade, com áreas de atendimento, criação e mídia.
“O mercado de esportes no Brasil é emergente, e isso quer dizer que temos um mar de oportunidades pela frente”, diz Marcos Lacerda, presidente da Momentum Sport, uma sociedade entre a agência de publicidade WMcCann e o ex-piloto Emerson Fittipaldi, com menos de um ano de atividade.
Ela atua em consultoria para empresas interessadas em investir em esporte, mas que não sabem em qual modalidade nem como, na ativação de marcas para as companhias que já compraram cotas de patrocínio e precisam explorar as oportunidades da associação com o clube ou com o atleta. A agência, que tem 17 funcionários, quer dobrar esse número nos próximos meses.
As empresas citadas são apenas um pequeno extrato de um mercado que está se renovando e criando empregos. As escolas de negócios já se deram conta da necessidade de mão de obra especializada para o segmento. A Trevisan Escola de Negócios, de São Paulo, tem um MBA de gestão do esporte, cujo foco é negócios.
No mês passado, a Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro abriu um curso de marketing esportivo em convênio com a Federação Internacional de Futebol (Fifa).
O programa é aberto para advogados, publicitários, administradores e atletas. Nesse mercado, a rede de relacionamentos é tão importante quanto ter experiência. É fundamental circular pelos eventos esportivos e investir em networking. Um profissional que está começando ganha até 3 000 reais, e um diretor de 20 000 a 30 000 reais.
A maioria das empresas não tem um plano de carreira definido, o que faz com que as promoções dependam da habilidade de gerar novos contratos e negócios. “Porém, é um setor que está se profissionalizando rapidamente e vai remunerar melhor quem for mais especializado”, diz Pedro Trengrouse, coordenador acadêmico do curso da Fifa-FGV.