Quer fazer uma apresentação incrível? Fale sobre um vilão
Apresentações precisam mexer com as emoções humanas, mas como fazer isso? Conte uma história com vilão, vítima e herói, diz especialista
Claudia Gasparini
Publicado em 29 de novembro de 2015 às 05h00.
São Paulo - O coração de uma apresentação corporativa é o seu início: se ele funciona, todo o resto tende a correr bem.
Não é o caso de aberturas desgastadas e previsíveis como “Hoje vamos falar sobre nossos objetivos estratégicos”, por exemplo.
Shakespeare não começou “Hamlet” com a frase “Esta é uma peça sobre a indecisão”, provoca o consultor Greg Stone em artigo para a Harvard Business Review. Por que você deveria fazer diferente?
Seja no teatro, seja nas apresentações de trabalho, é preciso criar ganchos originais e cativantes para ganhar a atenção do público.
De acordo com Stone, uma ótima opção é começar a sua exposição falando sobre um grande "vilão".
Mas o que isso significa? A ideia é descrever um problema: a queda nas vendas da sua empresa, a defasagem tecnológica de uma fábrica, o aumento no número de reclamações de clientes.
O passo seguinte, afirma o consultor, é descrever a situação das "vítimas" do referido vilão, isto é, quem sofre as consequências diretas ou indiretas do problema.
Quantas pessoas estão perdendo seus empregos por conta da crise financeira da empresa? Qual é o grau de poluição causado pelas máquinas obsoletas da fábrica? Por que os consumidores estão tão frustrados com um determinado produto ou serviço?
Chega então a hora de apresentar o "herói" - a solução que você e a sua equipe estão propondo para derrotar o vilão e salvar as suas vítimas.
Dentro dessa narrativa, o protagonista deve ser o seu público. “Não conte a história do seu ponto de vista”, recomenda Stone. “Coloque o outro no papel principal”.
Um conto de Bangladesh
Um bom exemplo de uso do trio “vilão-vítima-herói” como estrutura de storytelling vem do famoso economista Muhammad Yunus, pioneiro do microcrédito e ganhador do prêmio Nobel da Paz em 2006.
Para explicar como descobriu sua vocação, Yunus conta que, quando era professor universitário na década de 1970, decidiu levar seus alunos para visitar um vilarejo pobre em Bangladesh.
Chegando ao local, eles encontraram uma mulher que vendia banquinhos de bambu para sobreviver. A matéria-prima para confeccionar o produto custava poucos centavos de dólar, mas a artesã não tinha condições de comprá-la.
Assim, ela e outros pobres habitantes do vilarejo tomavam empréstimos de um banqueiro local, que impunha juros abusivos e condições desleais para o crédito.
Indignado com a situação, Yunus fez uma lista das pessoas que precisavam de dinheiro, chegando a 42 nomes. Para sua grande surpresa, todo o capital de que elas precisavam somava apenas 27 dólares.
Foi então que o economista teve uma espécie de epifania: o microcrédito seria a solução para livrar aquela população miserável das “garras” do banqueiro inescrupuloso. Desde então, criar condições justas de empréstimo se tornou sua missão de vida.
Segundo Stone, a narrativa funciona porque contém todos os elementos necessários a uma boa história: um vilão clássico, vítimas impotentes e a intervenção "heróica" de um modelo de crédito socialmente responsável.
Assim como o conto de Yunus, diz o consultor, apresentações corporativas podem ser instigantes e inesquecíveis se explorarem as emoções humanas e os seus gatilhos mais primitivos.
Pensando nisso, os sócios da SOAP, consultoria especializada no assunto, compartilharam com EXAME.com algumas das regras básicas para usar a linguagem corporal do jeito certo durante as apresentações. Confira:
Em uma apresentação, a plateia é a protagonista – não você, seus slides ou lousa. Por isso, seu foco deve estar em quem está do lado de lá do palco ou da mesa.
Na prática, isso significa que seus olhos devem estar fitos neles – e não na sua apresentação de slides ou outro recurso.
“Você não pode interromper por muito tempo a conexão com a audiência”, afirma Rogério Chequer, sócio da SOAP. “Sem conexão, não há empatia. Sem empatia, não há credibilidade”.
Apesar da multidão de notas na partitura, é o maestro quem determina em que ponto de toda harmonia cada músico deve se focar. Faça o mesmo.
Assuma a postura de maestro da atenção da plateia. Segundo os especialistas, este processo começa antes de sua chegada ao palco – para ser mais preciso, no momento em que você confecciona os slides que irão auxiliá-lo durante a apresentação.
“O conteúdo mais importante não é o que está no slide, mas sim o que você está falando. Então, mostre apenas imagens sobre o que você diz”, afirma Eduardo Adas, sócio da SOAP. “Se você mostrar tudo de uma vez, a audiência não vai saber para onde olhar”.
Braços cruzados, mão na cintura ou nos bolsos, pernas muito abertas e por aí vai. Posturas assim passam “mensagens subliminares para a audiência na direção de desleixo, falta de disciplina, organização ou profissionalismo”, afirma Chequer.
A melhor estratégia para evitar isso é apostar em posturas e gestos neutros. “O que você busca em termos gestuais deve sempre visar à neutralidade e à complementariedade”, afirma Adas.
Ou seja, a maneira como você usa as mãos ou desloca o seu corpo não pode interferir na história que está contando – antes, deve reforçá-la.
Manter as mãos ao lado do corpo, por exemplo, cumpre essa função. Fazer gestos abertos, por sua vez, mostra ausência de proteção e confiança. “A conexão com a audiência é mais forte se seu gesto é natural”, diz Chequer.
“Muita gente odeia que aponte o dedo para elas. Ao fazer isso, você quebra a empatia”, diz Chequer.
Quando o grupo é pequeno, contudo, muitas vezes não faz sentido ficar em pé. Aí, a dica é aguçar os sentidos para perceber qual postura é mais adequada para cada reunião.