Carreira

O profissional chave para a reconstrução do Japão

Saiba como os gestores de continuidade de negócios podem ajudar as empresas a sobreviver a desastres

Cidade devastada pelo tsunami no Japão: profissionais que planejam contra desastres começam a ganhar força no Brasil

Cidade devastada pelo tsunami no Japão: profissionais que planejam contra desastres começam a ganhar força no Brasil

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 17 de março de 2011 às 09h52.

São Paulo - Entre a missão de salvar as vidas que estão sob os escombros, as que foram expostas à radiação e aquelas que estão em locais de risco de novos desastres, o governo do Japão precisa reerguer a economia do país.

Mas ele não estará sozinho. Entre os diversos profissionais convocados para fazer as turbinas da terceira economia do mundo voltar a funcionar a todo vapor, estão os gestores de continuidade de negócios.

Esses profissionais são responsáveis por criar estratégias para as empresas em situações de desastres como o que vitimou o Japão na última sexta-feira (11), quando um terremoto de magnitude 9.0 e um tsunami devastaram cidades inteiras da costa nordeste do país e provocaram um acidente nuclear, na usina de Fukushima.

“Em situações como essa, é ele quem irá determinar as políticas da empresa”, explica Jeferson D'Addario, diretor da consultoria de gestão de riscos Daryus. “Por exemplo, se e quais unidades continuarão funcionando, como os funcionários trabalharão, se uma filial assumirá o papel da matriz temporariamente, entre outros”.

Em outras termos, o gestor de continuidade de negócios têm a dura missão de encontrar um plano alternativo para minimizar o impacto do desastre nos negócios da empresa.

Se a empresa oferece um serviço vital para a população, por exemplo, ele precisa elaborar previamente uma rota de ações para retomá-lo o mais rápido possível. No Japão, apesar da escassez de energia e alimentos, há relatos de que os serviços de comunicação, como a internet, estão funcionando normalmente.

Região serrana do Rio
“Nessas situações, não dá para apenas improvisar”, afirma Albino Motta, diretor técnico da concessionária de energia Ampla.

Em meados de janeiro, ele foi o responsável pela operação da empresa para reestabelecer o serviço de energia elétrica para a região serrana do Rio de Janeiro - afetada pelo pior desastre natural da história do país. Na ocasião, devido a chuvas e deslizamentos de terra, mais de 900 pessoas morreram. 


Em sete horas, a concessionária conseguiu reestabelecer a energia de 75% dos clientes afetados pela pane - apesar do cenário devastador digno do maior desastre natural do Brasil.

Parte do sucesso da operação está relacionado à estratégia da companhia para enfrentar cenários como esse. O grupo Endesa, do qual a Ampla faz parte, também atuou no terremoto do Chile em 2010. “Nesse caso, todo o país foi afetado. Mas a natureza do trabalho foi o mesmo que na região serrana”, diz Motta.

Um passo à frente
O trabalho não começa apenas depois do momento em que um terremoto, uma enchente ou um ataque terrorista abalou as estruturas da economia local. Anualmente, segundo D'Addario, ele precisa projetar o impacto de diferentes possíveis cenários sobre os negócios da empresa.

Por essa estratégia, os profissionais elaboram um conjunto de cenários e quais as posturas que a companhia deve tomar para cada um deles. “Na hora que o desastre acontece, as pessoas só recebem um aviso do que deve ser feito”, diz Janete Teixeira, coordenadora da área de Gestão de Carreiras da FIAP.

O trabalho exige o envolvimento de diferentes perfis profissionais que vão de técnicos, passando por comunicação e logística, até os executivos da empresa. No entanto, na hora H, todos o poder decisão fica sob responsabilidade do gestor de continuidade de negócios.

“Em momentos como esse, não temos que cumprir todos os procedimentos normais da empresa”, diz Motta, da Ampla. “As decisões tem que ser tomadas em tempo real”.

Nos últimos anos, a carreira de gestor de continuidade de negócios começou a ganhar destaque dentro das empresas brasileiras. No entanto, ainda não existe nenhum curso voltado para o setor. Profissionais formados em engenharia ou administração, entre outros, podem tentar dois tipos de certificação, a DRII (Disaster Recovering International Institute) e BCI (Business Continuity Institute).

De acordo com Alexandre Guindani, que em breve irá lançar um livro sobre a carreira, não é necessário ter essas certificações para atuar na função. Motta, da Ampla, por exemplo, desempenha funções relacionadas a carreira de gestor de continuidade de negócios, mas não tem qualquer chancela do tipo.

“Essa é uma profissão que deve deslanchar nos próximos anos”, diz Guindani. “Até porque o Brasil vai entrar no circuito dos desastres naturais”.

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