Carreira

Os trainees precisam controlar suas expectativas

Recém-chegados ao mercado de trabalho, os trainees têm um grande desafio pela frente: alinhar suas expectativas profissionais com as da empresa. Saber como fazer isso é a chave para uma carreira de sucesso

Juliana Lino, trainee da Embraco: diário de trabalho na internet para compartilhar a rotina na empresa (Marcelo Almeida)

Juliana Lino, trainee da Embraco: diário de trabalho na internet para compartilhar a rotina na empresa (Marcelo Almeida)

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Da Redação

Publicado em 13 de setembro de 2013 às 19h53.

São Paulo - Quais são suas expectativas profissionais? Esta pergunta não é nada fácil de responder. Ainda mais quando você está dando os primeiros passos na carreira. O questionamento costuma ser mais forte em jovens que participam de programas de trainee.

Depois de ter enfrentado longos processos seletivos (alguns mais concorridos do que vestibulares para medicina), os trainees chegam às empresas cheios de sonhos e desejos. Aí vem o desafio: como alinhar as próprias expectativas com as das empresas?

Esse passo é fundamental para evitar frustrações, combater a ansiedade e ter um desenvolvimento de carreira sustentável. Portanto, apresentamos a seguir um pequeno guia para ajudá- lo nessa tarefa.

A regra é clara

Os trainees podem até ter tido algum tipo de experiência profissional prévia, como um estágio ou a participação na empresa júnior da faculdade, mas não enfrentaram as grandes responsabilidades do mundo corporativo. E as regras de cada mundo são muito diferentes.

"No universo acadêmico, as funções são bem definidas: todo mundo sabe quem é o estudante e quem é o professor", diz Maíra Habimorad, sócia da consultoria cia de Talentos. "As normas são claras. Os jovens entendem que precisam de uma boa nota para passar de ano e é isso que esperam conseguir".

Nas empresas, a situação é diferente. Nem sempre as regras e as expectativas são tão transparentes quanto no meio acadêmico. Por isso, é tão importante conhecer a organização. mesmo antes de participar dos processos seletivos, vale olhar quais são os valores da companhia (para verificar se são semelhantes aos seus).

Uma vez empregado, o jovem tem de se sentir seguro para perguntar. "Esclarecer as regras é mais papel das empresas do que dos jovens", diz Maíra.


Algumas companhias se deram conta disso e estão deixando os processos internos cada vez mais claros. Na Embraco, produtora de compressores para refrigeradores, os objetivos do negócio são apresentados desde a etapa das dinâmicas de grupo e os jovens selecionados como trainees são informados sobre suas metas durante o período de treinamento.

"Sabemos que eles estão ansiosos para se tornar líderes e é importante deixar claro quais são os requisitos para eles chegarem lá", diz Ursula Angeli, vice-presidente de RH da Embraco. Foi para aumentar ainda mais a transparência que a empresa criou, neste ano, o Diário do Trainee em que ex-trainees divulgarão na internet quais eram suas expectativas, ansiedades e atribuições durante o programa.

Juliana Lino, de 30 anos, será um das autoras. Ela foi trainee da empresa e hoje é líder de tecnologia da informação na planta de Joinville, em Santa Catarina. "A ideia é compartilhar as experiências para mostrar o dia a dia na empresa para os novos trainees".

Sonhos realistas

É impossível deixar de sonhar, ainda mais nos primeiros anos de carreira. Isso não é um problema, desde que os sonhos não fiquem muito fora da realidade. Só que os jovens costumam sonhar alto (demais) e criam fantasias inalcançáveis — como encontrar uma empresa sem defeitos ou ser promovido a diretor em tempo recorde.

"Muito trainees vão trabalhar em empresas que admiram e pensam que os locais são perfeitos. Mas os problemas surgem, inevitavelmente", diz Nélio Bilate, coach da NB Heart. "Daí aparece a frustração, pois eles estavam esperando um mundo irreal".

Para evitar que isso aconteça, é preciso, primeiro, colocar os pés no chão e admitir que, por mais incrível que sejam os produtos, serviços ou negócios de uma empresa, o dia a dia também terá momentos de estresse, de burocracia e de descontentamento. O melhor a fazer é ler o cenário e entender que nem sempre as coisas vão sair exatamente como se imaginava.


"A maturidade surge ao longo do programa", diz Elvys Nunes, de 28 anos, ex-trainee da Unilever e atual gerente de consumer marketing insight. "No começo, é normal ficar muito ansioso para colocar as ideias em prática e sentir o baque de ter de esperar pelas decisões superiores que podem ser lentas. Não por negligência, mas por causa dos processos naturais de uma grande empresa", completa.

Um dia por vez 

Outro método para gerenciar as expectativas é não ficar o tempo todo pensando no futuro. Claro que é importante fazer projeções de carreira e traçar metas de longo prazo. Este é um hábito saudável que todos precisam cultivar.

O perigo, ainda mais ema scensões rápidas de carreira como costuma ser o caso dos trainees, é negligenciar o presente e não se permitir curtir as conquistas — uma de cada vez.

"Trainees são vencedores e, por isso, há uma pressão interna para alcançar o êxito", diz Pamela Magalhães, psicóloga clínica de São Paulo. "Só que essa ânsia cria um desejo desenfreado de ter sempre mais e um vazio interno de insatisfação e frustração".

Então, fica a dica: comemore a cada objetivo alcançado — e evite inventar uma estratégia para virar o vice-presidente mais jovem da empresa assim que tiver sido promovido a gerente.

Pontos de apoio

Os jovens se sentem mais seguros e conseguem controlar melhor a ansiedade quando sabem que têm pontos de apoio na empresa, pessoas com quem podem conversar frequentemente e desabafar sobre tudo: de dúvidas pontuais sobre os processos do negócio a questionamentos sobre o direcionamento da carreira.

Em programas de trainee mais consolidados, as empresas costumam convidar um líder para atuar como coach desses jovens profissionais. "Os trainees mudam de chefe o tempo todo por causa do job rotation e podem se sentir abandonados nas empresas", diz Maíra, da Cia de Talentos.


A Brookfield Incorporações, por exemplo, destaca diretores para acompanhar cada um dos trainees ao longo de todo o processo. "A função é direcionar e ouvir esses jovens", diz Lygia Villar, diretora de RH da empresa.

É isso que acontece com Nelson Eugenio da Silva, de 29 anos, trainee da Brookfield. Ele tem um padrinho corporativo com quem conversa frequentemente, seja pessoalmente, por telefone ou vídeo conferência.

"Ele é uma ponte que me ajuda a entender melhor o funcionamento das áreas", diz. "Além disso, com ele eu ainda posso tirar dúvidas sobre os passos que devo tomar na minha carreira. Estamos sempre em contato".

Também é importante que os trainees conversem com ex-trainees para entender melhor o mercado — e para saber o que devem e o que não devem esperar que aconteça em suas carreiras. Aproveite as portas que o programa lhe abrem. Como trainee, você tem acesso aos profissionais mais experientes desde o primeiro dia de trabalho.

Em algumas empresas, esse diálogo é estimulado, como é o caso da Dow, companhia química multinacional. Por lá, ex-trainees são estimulados a ser coachs dos novatos.

"Quando você conversa com alguém que já passou por situações semelhantes, a ansiedade diminui", diz Sabine Rossi, de 27 anos, ex- trainee da Dow e atual engenheira de suporte técnico e atendimento da área de packaging e specialty plastics.

Essa conversa entre jovens vale ser feita com trainees de outras empresas para ficar de olho no mercado.  E para ver que a grama do vizinho nem sempre é mais verde do que a sua.

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