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Etarismo: para 65% das mulheres, tema deve ser uma prioridade

O preconceito com idade pode prejudicar mulheres no caminho até a liderança, mas não pode se tornar um bloqueio pessoal

Cassia Messias, COO do Zenklub: “Trabalhar com a juventude e entender sua forma de pensar me fez perceber que é o que quero é me manter em movimento" (Zenklub/Divulgação)

Luísa Granato

Publicado em 31 de março de 2022 às 16h30.

Última atualização em 1 de abril de 2022 às 15h04.

“Decidi que a idade não me define”, afirma Cassia Messias, Chief Operating Officer do Zenklub, startup de Saúde Mental. A executiva hoje tem 53 anos e conta que deixou a idade de lado na hora de pensar em sua carreira há muito tempo.

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Há mais de 20 anos, quando ela havia entrado na Microsoft, Cassia parou de falar sua idade por ser considerada jovem demais para ser líder. Aos 48 anos, quando fez a transição para o mundo das startups, ela sentiu o preconceito com sua idade novamente.

“Aos 30 anos, enquanto o homem começa a voar na carreira, a mulher tem filhos. Aos 40, ele segue crescendo e a mulher criando os filhos. Hoje, tenho muito mais disponibilidade para trabalhar como líder, autoconhecimento, resistência ao estresse, mas agora o mercado acha que eu sou velha ”, diz.

Segundo a pesquisa Global Learner Survey, realizada pela Pearson em parceria com a Morning Consult, 74% das mulheres disseram que preconceitos e discriminação ainda são ponto difíceis na hora de buscar novas oportunidades de trabalho.

E 65% afirmaram que a discriminação de idade, o etarismo, é uma prioridade entre as questões que devem ser combatidas. O levantamento ouviu 6 mil mulheres nos Estados Unidos, Reino Unido, Brasil, México, Índia e China.

No Brasil, 87% das mulheres acreditam que têm menos oportunidades do que os homens no ambiente corporativo. Elas se preocupam que seu gênero e a idade sejam barreiras em suas carreiras.

Para a COO do Zenklub, a saída quando resolveu se tornar sócia do Stilingue, startup que trouxe a interpretação de inteligência artificial para o português, foi aprender com as novas gerações.

“Trabalhar com a juventude e entender sua forma de pensar me fez perceber que é o que quero é me manter em movimento. Me fez mudar de um ambiente corporativo e encarar uma startup”, diz.

A vontade de estar presente no mundo da inovação foi o que a motivou a assumir os riscos e dificuldades do empreendedorismo.

“Minha família inteira me achou maluca. Mas eu precisava experimentar o ecossistema de inovação. Sem romantismo, esse caminho foi de muitas dores e lágrimas, mas foi a minha escolha e queria ter um protagonismo muito maior, fazer a mudança e ver o impacto social”, diz.

Para ela, o autoconhecimento e autoconfiança ajudaram a encarar os preconceitos no caminho de liderança.

É o mesmo conselho que Sofia Esteves, fundadora e presidente do Grupo Cia de Talentos, dá para enfrentar o etarismo, nome dado ao preconceito com a idade.

“A questão da idade pesa tanto para homens quanto para mulheres. Mas sinto que hoje a questão do etarismo está dentro do guarda-chuva de diversidade das empresas. E a questão das mulheres está muito forte no impulso para aumentar a representatividade em cargos de liderança”, diz.

Com a busca de profissionais experientes no mercado para assumir cargos na alta liderança, as empresas não podem mais virar as costas para as profissionais com mais de 40 ou 50 anos.

O Brasil tem tudo para ser um dos países a ter mais pessoas de terceira idade à disposição do mercado de trabalho. Até 2050, 30% da população brasileira terá mais de 60 anos.

“Independentemente do trabalho que fazemos, a vida útil de trabalho será muito maior que no passado. As pessoas se aposentavam com 50 anos e essa não é mais a realidade”, afirma.

Seremos o sexto país mais velho do mundo, segundo dados do IBGE compilados na pesquisa "Longevidade" organizada pela Fundação Dom Cabral. Nas contas do Ipea, órgão de pesquisas ligado ao governo federal, 57% da população em idade economicamente ativa no Brasil terá mais de 45 anos daqui três décadas.

Receita contra o etarismo

“Sempre vai ter alguém tentando te botar para baixo, já fui chamada de ‘tia do RH’ por pessoas no mercado. E eu brinco que sou tia mesmo, mas aquela tia que está sempre se atualizando, inovando e criando. Tenho 60 anos e continuo aprendendo”, afirma.

Em coluna da EXAME, a especialista em carreira conta que, quando nasceu, havia uma lei que impedia a mulher de trabalhar fora de casa sem a permissão do marido. No texto, ela reflete que ainda há muito a ser feito, mas que estamos vivendo em um mercado em plena transformação — e é necessário acompanhar as mudanças.

“O viés inconsciente que existe é que quem tem mais idade não está aberto para o novo. Então, um ponto importante é se mostrar atualizada e pronta para novos aprendizados. Muitas vezes, a pessoa está focada em mostrar uma experiência grande e não mostra seu aprendizado contínuo”, afirma.

Uma transformação importante do mercado de trabalho hoje — e para o futuro — é que a capacidade de aprender e reaprender está se tornando mais importante dentro do perfil dos profissionais.

A experiência ainda conta, mas recrutadores estão de olho no potencial que a pessoa tem para resolver problemas complexos e aprender novas habilidades para fazer isso constantemente.

“A idade não pode se tornar uma dificuldade para você. O principal é não acreditar que já está ultrapassada. Grande parte do trabalho é interno, de manter o brilho nos olhos. Uma coisa que todo mundo quer é uma energia empreendedora. Se a gente se sente velha, vamos manter esse medo”, diz.

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