CEO da Companhia de Estágios: Região Sudeste possui os valores mais altos de bolsa-auxílio devido à concentração de empresas e custos elevados (Anchiy/Getty Images)
Repórter
Publicado em 10 de julho de 2023 às 06h02.
Última atualização em 10 de julho de 2023 às 11h20.
Agronomia, Ciências da Computação, Farmácia, Secretariado Executivo e Hotelaria estão entre as áreas que apresentaram os valores mais altos de bolsa-auxílio para estagiários brasileiros dos cursos de graduação, com pagamentos que oscilam entre R$1.100,00 e R$2.599,54. Esses dados fazem parte da 8ª edição do “Guia de Estágio: Bolsa-Auxílio 2023”, divulgado pela Companhia de Estágios, consultoria de contratação e gerenciamento de estagiários, aprendizes e trainees.
A média é baseada em todos os valores de bolsa-auxílio das vagas de estágio abertas e geridas pela Companhia de Estágios entre janeiro de 2022 e maio de 2023, de empresas de pequeno, médio e grande porte em todo o país.
No caso de estagiários de cursos técnicos, as vagas apresentam remuneração entre R$800,00 e R$1.600,00, sendo Secretariado, Agronegócio, Química e Mineração as áreas com bolsa-auxílio mais atrativas.
Há dois cenários no mercado de trabalho brasileiro que resultam nessa variação de valores da bolsa-auxílio: os setores mais imunes às oscilações da economia nacional e os cursos que formam profissional que estão em falta no país, afirma Tiago Mavichian, CEO da Companhia de Estágios.
“O agro é um exemplo de setor que acompanha a nossa economia. Ele tem um crescimento constante e continua crescendo há muitos anos. Temos também melhorado a questão de infraestrutura e escoamento de mercadorias, por isso que logística e distribuidoras se destacaram nos valores de bolsa-auxílio.”
A forte presença dos setores bancários e farmacêuticos no mercado de trabalho também é reforçada pelo CEO da Companhia de Estágios:
“Consultorias e bancos também estão em crescimento constante, assim como a indústria farmacêutica, que com crise ou sem crise, as pessoas vão demandar por remédios”, diz o CEO.
Além do ramo de atividade, outra questão que influencia no pagamento do estagiário é a demanda pelo profissional, e neste caso os cursos que se destacam dentro e fora do país são os relacionados à tecnologia.
“É uma área que tem um alto nível de empregabilidade em qualquer setor, seja no setor de varejo, que hoje passa por dificuldade, ou seja em uma big tech”, diz Mavichian.
Em um recorte por região brasileira, a média da bolsa-auxílio da região Sudeste é a mais alta, mantendo-se numa faixa de R$1943,31. Em contrapartida, a região Norte adota um patamar mais discreto, na casa de R$1299,98.
“Esse resultado reflete a realidade do mercado de trabalho no nosso país, em que a alta concentração de empresas com programas de estágio estruturados está nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.”
“Outro ponto a se considerar é que o pagamento de bolsa-auxílio e benefícios é maior nesses locais também pelo custo de vida mais elevado”, afirma Mavichian.”
A cada 10 pessoas que fazem estágio pela Companhia de Estágios, em média 3 pessoas são efetivadas. Segundo o CEO da consultoria, a pessoa que não faz estágio durante a faculdade tem menos chances de conseguir se recolocar na área depois de formado:
“Um outro estudo que estamos fazendo mostra que se você fez estágio e não foi efetivado, a sua chance de empregabilidade é 40% maior do que quem não fez.”
Há vários projetos de lei que estão sendo discutidos, mas a atual Lei de Estágio foi criada em 1977 e só teve uma mudança em 2008 (Lei 11788/08).
“A mudança foi restritamente na carga horária e na obrigatoriedade do auxílio transporte. Os estagiários antes de 2008 cumpriam 8 horas de expediente por dia, e não 6 horas como é hoje”, diz o CEO.
Logo, podemos dizer que todo estagiário tem direito:
Assim como a bolsa-auxílio, o governo não regula o valor do auxílio-transporte, isso fica por conta da empresa. Mas prática, além do direito ao pagamento e à ajuda de transporte, as companhias oferecem mais benefícios. De acordo com o estudo Visão do RH - Panorama do Mercado de Estágio do Brasil, também conduzido pela Companhia de Estágios, as empresas costumam oferecer:
O intervalo também é um direito, mas o tempo também é determinado pela empresa e pela carga horária.
“A Lei de Estágio fala que a empresa é responsável por também cumprir a legislação de saúde e segurança no trabalho, então ela considera algumas regrinhas da CLT, como a cada seis horas estagiadas, pelo menos 15 minutos de intervalo.”
Há outra modalidade de estágio onde é possível trabalhar 8 horas e ter uma hora de intervalo: essa modalidade é conhecida como “estágio curricular obrigatório”.
“Pouco se fala sobre essa modalidade, porque são poucos estudantes que optam por esse desafio, afinal esse estágio é realizado nos últimos seis meses da graduação. Para quem quer se garantir no mercado de trabalho, é uma opção mais arriscada”, segundo o Mavichian.
A Lei de Estágio não expõe de forma clara sobre os dias que o estagiário não pode trabalhar, segundo o CEO.
“Dependerá muito do curso escolhido. Cursos como evento, cinema e jornalismo será necessário trabalhar no fim de semana, afinal, faz parte da dinâmica do trabalho.”
Muitas pessoas já ouviram histórias de estagiários que pegavam café para o chefe. Essa imagem de estagiário como assistente surgiu antes da Lei da Aprendizagem, segundo o CEO.
“Essa fama de estagiário que só servia café ou só fazia coisas básicas acontecia porque todos os funcionários iniciais eram estagiários, sejam eles pessoas de Ensino Médio, técnico ou superior. Mas com a Lei da Aprendizagem, criada em 2000, aconteceu a divisão de função do estagiário com a função de aprendiz.”
Há diferenças entre o salário e a bolsa-auxílio e por isso não são sinônimos no mercado de trabalho e muito menos na área de RH.
Salário:
Bolsa-auxílio:
A formação de medicina é totalmente diferente, logo o processo de estágio também será. Segundo Mavichian, os estudantes de medicina chamam a residência de estágio, mas não é como o estágio curricular dos outros cursos.
“Como existe uma regulação muito forte, existem convênios entre as universidades de medicina com os hospitais que recebem todas as turmas para fazer residência”.
Existe uma diferença entre os estágios no Brasil e no exterior. No Brasil, os estudantes realizam o estágio enquanto estudam, já nos outros países a maioria dos estudantes concluem o curso e só depois realizam o estágio:
“Na maioria dos países desenvolvidos, como nos EUA e Europa, os estagiários trabalham literalmente de graça, mas por um período mais curto, entre um e três meses. Só depois a empresa toma uma decisão se vai absorver o profissional ou não, como foi retratado nos filmes 'Os Estagiários' e 'Um senhor estagiário'" , diz Mavichian.
O CEO da Companhia de Estágios também afirma que trabalha com muitas vagas na América Latina e algumas delas até remuneram, mas a remuneração costuma ser menor do que no Brasil. “Neste ponto, o Brasil está bem.”