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Escravidão digital: vale a pena ter smartphone corporativo?

O smartphone está se tornando um benefício universal nas grandes empresas. Mas cuidado: a falta de bom senso no uso pode prejudicar você

BlackeBerry: 90% dos usuários do aparelho BlackBerry de uma empresa americana admitem sentir algum tipo de compulsão (Mario Tama/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de julho de 2012 às 15h10.

São Paulo - Os smartphones , telefones celulares que dão acesso a internet e e-mail, são cada vez mais comuns no dia a dia do brasileiro. De um ano para cá, a venda desses aparelhos teve aumento de 279% no mercado nacional. No trabalho, ele é considerado uma importante ferramenta, que permite a conexão remota com o escritório, clientes e fornecedores.

Por outro lado, significa, dependendo da forma como a pessoa o utiliza, estar disponível para o chefe durante 24 horas nos sete dias da semana. Nos Estados Unidos, criou-se um neologismo para descrever o comportamento de usuários que não conseguem viver sem o aparelho. Eles são chamados de CrackBerries, uma referência aos usuários de BlackBerry que se comportam com a mesma compulsão que os viciados em crack.

Um estudo da escola de negócios do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, aponta que 90% dos usuários do aparelho BlackBerry de uma empresa americana admitem sentir algum tipo de compulsão.

O estudo considera o BlackBerry, mas as conclusões da pesquisa valem para toda a linha de smartphones, iPhone inclusive. Para os responsáveis pelo estudo, o resultado mostra um gradual atropelamento das fronteiras entre tempo de trabalho e tempo pessoal. Por trás do comportamento compulsivo há também um componente de imagem profissional.

É como se, ao responder imediatamente a uma mensagem que aparece na telinha do smartphone, a pessoa sinalizasse para seu interlocutor: "Está vendo como sou eficiente?". Há cinco anos, as empresas disponibilizavam o smartphone somente para os executivos de alto escalão. "Ter um deles era sinônimo de status.


Quem recebia se sentia reconhecido pela empresa", diz Fabiano Kawano, especialista em recrutamento da Robert Half, consultoria com escritório em São Paulo. Atualmente, as companhias passaram a perceber a importância dos smartphones como mecanismo de flexibilização do trabalho e agilidade nos processos de decisão. No Google, todos os funcionários têm um celular corporativo com acesso à internet por causa do investimento da empresa na nova tecnologia Android.

No entanto, a companhia paga a conta do plano de dados somente para aquele funcionário cuja atividade necessite que ele esteja disponível fora do escritório. "A gente não espera que todas as pessoas respondam a uma mensagem ou atendam ao celular às 21h de uma sexta-feira", diz Felix Ximenes, diretor de comunicação e políticas públicas do Google. A diretora de negócios para o varejo, Claudia Sciama, de 34 anos, costuma desligar seu aparelho quando deixa o escritório do Google, em São Paulo, no final da tarde.

"Enquanto estou com meu filho [Felipe, de 1 ano], eu dedico meu tempo inteiramente a ele. Não chego nem perto do telefone. Mas, assim que ele dorme, eu me reconecto e checo se recebi emails. É necessário porque consigo sair mais cedo e não preciso parar de trabalhar", diz.

Benefício ou algema?

Nenhuma empresa tem no seu manual de conduta uma norma que determina que o funcionário tenha de responder ao seu smartphone imediatamente. Porém, em setores mais dinâmicos, como o mercado financeiro, há uma espécie de regra velada, que prega que é de bom grado responder rapidamente. Paulo Roberto de Alencastro Jr., diretor de planejamento da Acesso Digital, companhia de digitalização de documentos, costumava acordar para checar o e-mail quando ouvia o som do aparelho.

"Aprendi a deixar o celular fora do quarto enquanto durmo", conta. "As empresas não exigem que você esteja 24 horas conectado. Mas, se existe a dúvida, o ideal é fazer um acordo com seu chefe", diz Henrique Gamba, responsável pela área de TI da consultoria Hays. Para o diretor do Hay Group, Rolando Pelliccia, a pressão por estar disponível raramente vem das empresas.

"O poder de desligar o smartphone está em suas mãos", diz. Na HP, são mais de 8 000 funcionários e 50% têm a possibilidade de fazer algum tipo de trabalho remoto na semana. "Aqui, o pessoal sabe quantas horas trabalha por contrato e a ferramenta está à disposição para ajudar a flexibilizar essa carga, e não para trabalhar mais", diz Antônio Salvador, vice-presidente de RH.

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Por outro lado, significa, dependendo da forma como a pessoa o utiliza, estar disponível para o chefe durante 24 horas nos sete dias da semana. Nos Estados Unidos, criou-se um neologismo para descrever o comportamento de usuários que não conseguem viver sem o aparelho. Eles são chamados de CrackBerries, uma referência aos usuários de BlackBerry que se comportam com a mesma compulsão que os viciados em crack.

Um estudo da escola de negócios do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, o MIT, aponta que 90% dos usuários do aparelho BlackBerry de uma empresa americana admitem sentir algum tipo de compulsão.

O estudo considera o BlackBerry, mas as conclusões da pesquisa valem para toda a linha de smartphones, iPhone inclusive. Para os responsáveis pelo estudo, o resultado mostra um gradual atropelamento das fronteiras entre tempo de trabalho e tempo pessoal. Por trás do comportamento compulsivo há também um componente de imagem profissional.

É como se, ao responder imediatamente a uma mensagem que aparece na telinha do smartphone, a pessoa sinalizasse para seu interlocutor: "Está vendo como sou eficiente?". Há cinco anos, as empresas disponibilizavam o smartphone somente para os executivos de alto escalão. "Ter um deles era sinônimo de status.


Quem recebia se sentia reconhecido pela empresa", diz Fabiano Kawano, especialista em recrutamento da Robert Half, consultoria com escritório em São Paulo. Atualmente, as companhias passaram a perceber a importância dos smartphones como mecanismo de flexibilização do trabalho e agilidade nos processos de decisão. No Google, todos os funcionários têm um celular corporativo com acesso à internet por causa do investimento da empresa na nova tecnologia Android.

No entanto, a companhia paga a conta do plano de dados somente para aquele funcionário cuja atividade necessite que ele esteja disponível fora do escritório. "A gente não espera que todas as pessoas respondam a uma mensagem ou atendam ao celular às 21h de uma sexta-feira", diz Felix Ximenes, diretor de comunicação e políticas públicas do Google. A diretora de negócios para o varejo, Claudia Sciama, de 34 anos, costuma desligar seu aparelho quando deixa o escritório do Google, em São Paulo, no final da tarde.

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Benefício ou algema?

Nenhuma empresa tem no seu manual de conduta uma norma que determina que o funcionário tenha de responder ao seu smartphone imediatamente. Porém, em setores mais dinâmicos, como o mercado financeiro, há uma espécie de regra velada, que prega que é de bom grado responder rapidamente. Paulo Roberto de Alencastro Jr., diretor de planejamento da Acesso Digital, companhia de digitalização de documentos, costumava acordar para checar o e-mail quando ouvia o som do aparelho.

"Aprendi a deixar o celular fora do quarto enquanto durmo", conta. "As empresas não exigem que você esteja 24 horas conectado. Mas, se existe a dúvida, o ideal é fazer um acordo com seu chefe", diz Henrique Gamba, responsável pela área de TI da consultoria Hays. Para o diretor do Hay Group, Rolando Pelliccia, a pressão por estar disponível raramente vem das empresas.

"O poder de desligar o smartphone está em suas mãos", diz. Na HP, são mais de 8 000 funcionários e 50% têm a possibilidade de fazer algum tipo de trabalho remoto na semana. "Aqui, o pessoal sabe quantas horas trabalha por contrato e a ferramenta está à disposição para ajudar a flexibilizar essa carga, e não para trabalhar mais", diz Antônio Salvador, vice-presidente de RH.

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