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Existe dívida que vem para o bem. É investimento

Sim, esta dívida existe e pode aumentar seu patrimônio ou significar um investimento para sua carreira

Ricardo Petres, da Agência Click Isobar: ele financiou 130 000 reais para comprar uma casa e se livrar do aluguel (Gustavo Lourenção/EXAME.com)
DR

Da Redação

Publicado em 4 de março de 2013 às 19h23.

São Paulo - Se você se sente pobre cada vez que faz uma compra em várias vezes no cartão de crédito ou pede dinheiro emprestado, repense. Existem dívidas que vêm para o bem. E é muito fácil entender em que momento fazer um empréstimo é bom para você: quando há grandes chances de o dinheiro que entrou na sua conta aumentar sua riqueza.

Por exemplo, contrair um débito para quitar ou comprar a casa própria vale a pena. Claro, é importante fazer as contas e ver se o valor da parcela e o juro do empréstimo cabem no seu bolso. A casa é um patrimônio. Fazendo direito, você pode transformar tijolos em dinheiro. Como? Alugando o imóvel ou vendendo-o por um preço maior do que pagou.

Outra maneira em que a dívida se justifica é quando você a usa para pagar um curso de especialização, pós ou MBA, dentro ou fora do Brasil. De imediato, você contrai um empréstimo que terá de pagar. Mas, no médio prazo, você eleva as suas possibilidades de galgar novas posições na carreira.

Tudo isso caracteriza, na opinião de economistas, pontos positivos que determinam uma dívida boa. E, se você está pensando em empreender, abrir a própria empresa e têm dúvida se deve ou não ir ao banco fazer um empréstimo, pense de forma prática. Se o dinheiro for de fato para ampliar o negócio e, assim, aumentar suas vendas, pode valer a pena, como revela a história do empreendedor Osmar Alves nesta reportagem.

“A dívida boa é aquela que dá um horizonte para o endividado e pode ser visto como um investimento”, diz a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, professora de psicologia econômica da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e autora dos livros Decisões Econômicas (Editora Saraiva) e A Cabeça do Investidor (Editora Évora).

Ver uma dívida como um investimento? Sim, desde que a pessoa não se engane. Estourar o cartão de crédito para atualizar o guarda-roupa ou trocar de carro sem necessidade e criar justificativas fúteis para isso  é mentir para si mesmo. Essas, sim, são dívidas ruins: não aumentam seu patrimônio e, na verdade, deixam você mais pobre.

Principalmente se suas roupas estão boas e seu carro é do ano passado. “A dívida só vale a pena quando a pessoa não tiver outro recurso para pagar uma coisa de que ela realmente precise”, afirma Vera Rita.

Esse era o caso de Ricardo Petres, de 30 anos, coordenador de tecnologia na Agência Click Isobar. Solteiro e sem filhos, Ricardo queria sair do aluguel. Um caso clássico entre muitos brasileiros. Mas ele não tinha o dinheiro todo para pagar o imóvel. Então, pegou 130 000 reais, num financiamento de 28 anos. “Mas quero quitar tudo em cinco”, diz. Para ele, a dívida está valendo cada centavo.


“Pelo mesmo valor do aluguel, hoje pago a parcela do financiamento e no final das contas o apartamento será meu.” Ricardo já teve experiência ruim com dívidas. Em 2007 ele financiou um automóvel que terminou de pagar em 2009. “No final do contrato, gastei muito mais do que o valor do carro, que já estava bem desvalorizado. Com o imóvel, além de ele ser meu, tende a valorizar com o tempo”, diz.

Turbinando a riqueza

De um modo geral, os consultores financeiros concordam com Ricardo. Uma dívida que aumenta o patrimônio, dentro das possibilidades financeiras da pessoa, é algo bom. Afinal, não seria aconselhável se ele contraísse uma dívida para comprar um imóvel cujas prestações comessem, por exemplo, 80% de seu salário. É quase certo que ele não daria conta de quitar as parcelas e teria de rolar o financiamento até perder todo o investimento feito.

Essa sim seria uma dívida ruim. Outro cuidado importante é não deixar que a dívida boa se transforme em dívida ruim, e isso só é possível com um bom planejamento.

“Quem não consegue se planejar a médio e longo prazo não deveria nem pensar em entrar em uma dívida”, afirma Cleide Guimarães, psicóloga clínica que atende grupos de compradores compulsivos no Hospital das Clínicas (HC) e também é autora do livro Até que o Dinheiro nos Separe (Editora Saraiva).

A dica, diz Cleide, é a pessoa já saber como vai quitar o saldo devedor antes mesmo de pedir dinheiro emprestado. “Dívida que passa dos 30% da renda da família é muito perigosa. A pessoa tem de saber exatamente onde está pisando.”

No cenário do autoengano, uma coisa corriqueira é ignorar o empréstimo, seja ele bom ou ruim. “Tem gente que não paga a dívida achando que depois consegue negociar juros menores. Isso é uma maneira errada de lidar com a vida, de se enganar e de empurrar com a barriga e não enfrentar os compromissos”, afirma Cleide. Mas nem tudo é tão simples quanto aparenta.

Dívida barata

Você pode concluir, pelo que está escrito até agora, que: já que dívida boa é aquela que aumenta a riqueza do endividado, pegar empréstimo para investir é uma excelente alternativa, certo? Não necessariamente. “Essa operação só é indicada para investidores experientes com pleno conhecimento dos riscos envolvidos”, diz Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, plataforma de negociação pela internet da Título Corretora.

O risco, no caso, é a perda total do dinheiro; de o sujeito acordar rico e ir dormir pobre e endividado. “Isso porque — se investir na Bolsa — a ação pode se desvalorizar ou ter uma valorização inferior ao custo da dívida”, alerta Amerson.

Também pode ser considerada uma dívida boa aquela que troca um empréstimo caro por um barato.  “Digamos que você tenha pego um dinheiro no banco com juros de 3% ao mês. Você pode pegar um segundo empréstimo mais barato que esse, para quitar a dívida cara. A troca é financeiramente inteligente”, diz o consultor financeiro Conrado Navarro, sócio do site Dinheirama.


A grana do 13º salário que está para cair na sua conta bancária também pode ser usada para renegociar suas dívidas. “Sempre que sobra algum dinheiro, o ideal é liquidar — ou reduzir — os débitos. Esse é o melhor investimento para o fim de ano”, diz Fernando Meibak, consultor financeiro e sócio da Moneyplan, de São Paulo.

Decisão de crescer

Dívida feita para o empreendedor investir na própria firma também é considerada uma dívida boa. Pelo menos foi para Osmar Alves, de 55 anos, administrador de empresas e dono de um centro automotivo em General Salgado, cidade a 100 quilômetros de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. No ano passado, Alves pegou 450 000 reais no banco, com juros de 1,75% ao mês, para pagar em oito anos.

O montante representava 30% do investimento que ele precisava para ampliar sua loja, que tem 23 anos. Ele aplicou parte do dinheiro em uma obra na sala de espera, colocou internet sem fio em todo o prédio, instalou um departamento com autopeças para reposição bem maior e com mais produtos, ampliou os setores de colocação de películas em vidros, ajeitou as áreas que cuidam de motores e da parte elétrica dos carros. Ele atende clientes de dez cidades vizinhas.

“Muitos deles vêm aqui só para cuidar do carro. Eles precisam ter conforto”, afirma Alves. O faturamento mensal de Alves hoje é de 80 000 reais. A meta é chegar a 120 000 nos próximos dois anos.

Ele, que atendia 20 clientes por dia, tem capacidade para atender os mesmos 20... por hora! “Ainda não tenho tanto público, mas estou preparado para receber mais consumidores. Acho que contraí uma dívida boa com juros justos, e que deve trazer retorno para a empresa”, afirma Osmar.

Nesse caso, os especialistas lembram que para uma empresa, grande ou pequena, dívida faz parte do negócio. Tem até uma linha dedicada a elas no balanço financeiro, tamanha a sua importância. “É natural que as empresas contem com recursos de terceiros.

O endividamento voltado para o crescimento e melhoria operacional pode ser saudável, desde que criteriosamente avaliado em termos de prazo, taxa de juros e garantia”, diz a advogada Flávia Turci, de São Paulo.

Boa ou ruim, a dívida não pode durar mais do que o prazo estipulado. “É preciso organizar o orçamento e acompanhá-lo de perto. Esse planejamento inclui conversar com a família para equilibrar as receitas e as depesas”, diz o consultor financeiro Valter Police. Lembre-se: a dívida boa tem grande chance de aumentar seu patrimônio. Já a ruim pode deixá-lo mais pobre. Basta não trocar as bolas.

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São Paulo - Se você se sente pobre cada vez que faz uma compra em várias vezes no cartão de crédito ou pede dinheiro emprestado, repense. Existem dívidas que vêm para o bem. E é muito fácil entender em que momento fazer um empréstimo é bom para você: quando há grandes chances de o dinheiro que entrou na sua conta aumentar sua riqueza.

Por exemplo, contrair um débito para quitar ou comprar a casa própria vale a pena. Claro, é importante fazer as contas e ver se o valor da parcela e o juro do empréstimo cabem no seu bolso. A casa é um patrimônio. Fazendo direito, você pode transformar tijolos em dinheiro. Como? Alugando o imóvel ou vendendo-o por um preço maior do que pagou.

Outra maneira em que a dívida se justifica é quando você a usa para pagar um curso de especialização, pós ou MBA, dentro ou fora do Brasil. De imediato, você contrai um empréstimo que terá de pagar. Mas, no médio prazo, você eleva as suas possibilidades de galgar novas posições na carreira.

Tudo isso caracteriza, na opinião de economistas, pontos positivos que determinam uma dívida boa. E, se você está pensando em empreender, abrir a própria empresa e têm dúvida se deve ou não ir ao banco fazer um empréstimo, pense de forma prática. Se o dinheiro for de fato para ampliar o negócio e, assim, aumentar suas vendas, pode valer a pena, como revela a história do empreendedor Osmar Alves nesta reportagem.

“A dívida boa é aquela que dá um horizonte para o endividado e pode ser visto como um investimento”, diz a psicanalista Vera Rita de Mello Ferreira, professora de psicologia econômica da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi) e autora dos livros Decisões Econômicas (Editora Saraiva) e A Cabeça do Investidor (Editora Évora).

Ver uma dívida como um investimento? Sim, desde que a pessoa não se engane. Estourar o cartão de crédito para atualizar o guarda-roupa ou trocar de carro sem necessidade e criar justificativas fúteis para isso  é mentir para si mesmo. Essas, sim, são dívidas ruins: não aumentam seu patrimônio e, na verdade, deixam você mais pobre.

Principalmente se suas roupas estão boas e seu carro é do ano passado. “A dívida só vale a pena quando a pessoa não tiver outro recurso para pagar uma coisa de que ela realmente precise”, afirma Vera Rita.

Esse era o caso de Ricardo Petres, de 30 anos, coordenador de tecnologia na Agência Click Isobar. Solteiro e sem filhos, Ricardo queria sair do aluguel. Um caso clássico entre muitos brasileiros. Mas ele não tinha o dinheiro todo para pagar o imóvel. Então, pegou 130 000 reais, num financiamento de 28 anos. “Mas quero quitar tudo em cinco”, diz. Para ele, a dívida está valendo cada centavo.


“Pelo mesmo valor do aluguel, hoje pago a parcela do financiamento e no final das contas o apartamento será meu.” Ricardo já teve experiência ruim com dívidas. Em 2007 ele financiou um automóvel que terminou de pagar em 2009. “No final do contrato, gastei muito mais do que o valor do carro, que já estava bem desvalorizado. Com o imóvel, além de ele ser meu, tende a valorizar com o tempo”, diz.

Turbinando a riqueza

De um modo geral, os consultores financeiros concordam com Ricardo. Uma dívida que aumenta o patrimônio, dentro das possibilidades financeiras da pessoa, é algo bom. Afinal, não seria aconselhável se ele contraísse uma dívida para comprar um imóvel cujas prestações comessem, por exemplo, 80% de seu salário. É quase certo que ele não daria conta de quitar as parcelas e teria de rolar o financiamento até perder todo o investimento feito.

Essa sim seria uma dívida ruim. Outro cuidado importante é não deixar que a dívida boa se transforme em dívida ruim, e isso só é possível com um bom planejamento.

“Quem não consegue se planejar a médio e longo prazo não deveria nem pensar em entrar em uma dívida”, afirma Cleide Guimarães, psicóloga clínica que atende grupos de compradores compulsivos no Hospital das Clínicas (HC) e também é autora do livro Até que o Dinheiro nos Separe (Editora Saraiva).

A dica, diz Cleide, é a pessoa já saber como vai quitar o saldo devedor antes mesmo de pedir dinheiro emprestado. “Dívida que passa dos 30% da renda da família é muito perigosa. A pessoa tem de saber exatamente onde está pisando.”

No cenário do autoengano, uma coisa corriqueira é ignorar o empréstimo, seja ele bom ou ruim. “Tem gente que não paga a dívida achando que depois consegue negociar juros menores. Isso é uma maneira errada de lidar com a vida, de se enganar e de empurrar com a barriga e não enfrentar os compromissos”, afirma Cleide. Mas nem tudo é tão simples quanto aparenta.

Dívida barata

Você pode concluir, pelo que está escrito até agora, que: já que dívida boa é aquela que aumenta a riqueza do endividado, pegar empréstimo para investir é uma excelente alternativa, certo? Não necessariamente. “Essa operação só é indicada para investidores experientes com pleno conhecimento dos riscos envolvidos”, diz Amerson Magalhães, diretor do Easynvest, plataforma de negociação pela internet da Título Corretora.

O risco, no caso, é a perda total do dinheiro; de o sujeito acordar rico e ir dormir pobre e endividado. “Isso porque — se investir na Bolsa — a ação pode se desvalorizar ou ter uma valorização inferior ao custo da dívida”, alerta Amerson.

Também pode ser considerada uma dívida boa aquela que troca um empréstimo caro por um barato.  “Digamos que você tenha pego um dinheiro no banco com juros de 3% ao mês. Você pode pegar um segundo empréstimo mais barato que esse, para quitar a dívida cara. A troca é financeiramente inteligente”, diz o consultor financeiro Conrado Navarro, sócio do site Dinheirama.


A grana do 13º salário que está para cair na sua conta bancária também pode ser usada para renegociar suas dívidas. “Sempre que sobra algum dinheiro, o ideal é liquidar — ou reduzir — os débitos. Esse é o melhor investimento para o fim de ano”, diz Fernando Meibak, consultor financeiro e sócio da Moneyplan, de São Paulo.

Decisão de crescer

Dívida feita para o empreendedor investir na própria firma também é considerada uma dívida boa. Pelo menos foi para Osmar Alves, de 55 anos, administrador de empresas e dono de um centro automotivo em General Salgado, cidade a 100 quilômetros de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. No ano passado, Alves pegou 450 000 reais no banco, com juros de 1,75% ao mês, para pagar em oito anos.

O montante representava 30% do investimento que ele precisava para ampliar sua loja, que tem 23 anos. Ele aplicou parte do dinheiro em uma obra na sala de espera, colocou internet sem fio em todo o prédio, instalou um departamento com autopeças para reposição bem maior e com mais produtos, ampliou os setores de colocação de películas em vidros, ajeitou as áreas que cuidam de motores e da parte elétrica dos carros. Ele atende clientes de dez cidades vizinhas.

“Muitos deles vêm aqui só para cuidar do carro. Eles precisam ter conforto”, afirma Alves. O faturamento mensal de Alves hoje é de 80 000 reais. A meta é chegar a 120 000 nos próximos dois anos.

Ele, que atendia 20 clientes por dia, tem capacidade para atender os mesmos 20... por hora! “Ainda não tenho tanto público, mas estou preparado para receber mais consumidores. Acho que contraí uma dívida boa com juros justos, e que deve trazer retorno para a empresa”, afirma Osmar.

Nesse caso, os especialistas lembram que para uma empresa, grande ou pequena, dívida faz parte do negócio. Tem até uma linha dedicada a elas no balanço financeiro, tamanha a sua importância. “É natural que as empresas contem com recursos de terceiros.

O endividamento voltado para o crescimento e melhoria operacional pode ser saudável, desde que criteriosamente avaliado em termos de prazo, taxa de juros e garantia”, diz a advogada Flávia Turci, de São Paulo.

Boa ou ruim, a dívida não pode durar mais do que o prazo estipulado. “É preciso organizar o orçamento e acompanhá-lo de perto. Esse planejamento inclui conversar com a família para equilibrar as receitas e as depesas”, diz o consultor financeiro Valter Police. Lembre-se: a dívida boa tem grande chance de aumentar seu patrimônio. Já a ruim pode deixá-lo mais pobre. Basta não trocar as bolas.

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