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Fui salvo por pouco. Se não tivesse parado por uns poucos segundos, tava tudo perdido. Ultimamente tenho treinado algo não muito fácil. Tenho parado para pensar, antes de dizer algo. Convenhamos que essa não é uma prática tão comum entre nós, seres modernos , induzidos a agir na velocidade do bit. Deixe-me explicar. Outro dia, […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 09h32.

Fui salvo por pouco. Se não tivesse parado por uns poucos segundos, tava tudo perdido. Ultimamente tenho treinado algo não muito fácil. Tenho parado para pensar, antes de dizer algo. Convenhamos que essa não é uma prática tão comum entre nós, seres modernos , induzidos a agir na velocidade do bit. Deixe-me explicar. Outro dia, meu filho, Mateus, de cinco anos, entrou no escritório e quase que sou traído pelas minhas programações mentais. Confesso que luto diuturnamente para deletá-las, mas admito que nem sempre consigo. Ia soltando uma daquelas grandes asneiras que passamos toda a nossa vida ouvindo em casa, na escola, faculdade ou trabalho:

Mateus, pare de brincar. Aqui é local de trabalho! .

Ufa! Ainda bem que não saiu. Talvez você esteja se perguntando: Mas, Paulo, porque tanto pavor diante de uma frase tão simples? Exatamente porque ela não é tão simples quanto parece. Não poder brincar em local de trabalho é uma das muitas programações mentais que o mundo se encarrega de enfiar em nossos discos rígidos biológicos. E é exatamente por isso que muita gente não consegue achar diversão no trabalho, mas somente sacrifício. Passam a vida pensando no céu das férias, no paraíso do final de semana, loucos para se livrarem do inferno do trabalho.

Esse é só um exemplo de tantos outros modelos mentais que preferimos perpetuar por gerações, ao invés de nos questionarmos e renová-los, quebrando a cadeia viciosa. Esses conceitos entram e se alojam em nossas cabeças e, como seres programados, passamos a agir no automático. Sem autocrítica. É como alguém que insiste em pedir à secretária que o documento seja datilografado no micro. Erra duas vezes. Por não fazer por si só, e ainda por pedir errado. Só para você ter uma idéia dos vários desdobramentos desse problema no seio de uma empresa, veja a seguir outras situações tão emblemáticas quanto aquela primeira, quando quase fui réu confesso.

1) Sala de diretoria, mesa com 12 executivos, e o big boss sai com essa: Bom, agora que terminamos a reunião, vamos começar a trabalhar... Ora bolas! E reunião de planejamento também não é trabalho? Trabalho não tem a ver, necessariamente, com movimento. Nem sempre esforço é resultado. É por isso que muitos chegam ao fim de um dia super corrido e se confortam e se regozijam com um hoje trabalhei feito um condenado . Condenado você vai estar se não reprogramar sua cabeça. Pensando que planejar não é trabalhar, você acaba por, inconscientemente, evitar as horas dedicadas ao necessário planejamento por acreditar que está perdendo tempo, que não está trabalhando. Tem medo, inclusive, de ser julgado pelos colegas ou pelo chefe (um verdadeiro líder não faria esse tipo de crucificação). Pior ainda é quando num auto-julgamento, você passa a se impor um contínuo movimento cinético, ao invés de conjugá-lo com o movimento mental. Pare, pense, e reprograme-se. Vamos a outro;

2) Palavras de um diretor de Recursos Desumanos , programado pelos antigos cursos de administração: O grande profissional não leva problemas de casa para o trabalho, nem vice-versa . Sinceramente, eu só queria achar esse botão que liga e desliga nossa natureza familiar e profissional. Na cabeça deles, parece que as duas dimensões não pertencem ao mesmo ser. Como se, enquanto estamos em nossa atividade profissional, pudéssemos deixar de ser pais, mães, esposos e esposas. Não é à toa que tem tanta gente tendo que escolher entre o trabalho e a família quando, com uma simples mudança de atitude mental, poderia ficar com os dois. E ser muito mais feliz com isso. Próximo;

3) Declaração de amor de um patrão com complexo de paternidade aos funcionários: Na nossa empresa, somos como uma família . Eu queria ver o que aconteceria se um empregado não desse resultado em sua atividade, e viesse para o mesmo com a seguinte desculpa amarela: Foi mau pai, quer dizer, chefe. Próximo ano eu consigo . Isso dá certo para explicar o boletim no vermelho para a mãe ou o pai, mas para a cota de vendas não alcançada, é um pouco mais difícil. Empresa não é família. Empresa é time, equipe, qualquer outra coisa, menos família. Porque, em sua família, você seria incapaz de colocar o filho para fora de casa se ele falhasse no vestibular. Mas, em sua empresa, mesmo diante do inegável esforço de seu funcionário, você terá que chamá-lo para uma conversa definitiva se ele insiste em não alcançar os resultados esperados. A última;

4) Essa é mais caseira, só pra relaxar ou ficar mais tenso ainda. Perguntinha básica de pais preocupados com o futuro profissional dos seus rebentos: Minha filha, o que você quer ser quando crescer ? Pára o enterro, que tão querendo ressuscitar o morto. Pense comigo: será que o que seremos é mais importante do que quem seremos ? Ora, não interessa se nossos filhos prefiram ser médicos, advogados, jornalistas ou vendedores. Interessa sim, antes de qualquer coisa, se conseguiremos ensinar nossos filhos a serem dignos, honestos, respeitadores, cidadãos, pró-ativos, críticos do mundo e da sociedade. E isso independe de profissão. Depende de postura, de valores. Não é à toa que tem tanta gente tentando achar o sucesso numa profissão, colocando-a como fim, e não como meio. Esquecem que o prazer e a realização estão em quem decidimos ser, e não no o quê somos ou seremos como profissionais. Com certeza, é mais digno um faxineiro com postura de presidente, do que o inverso. Não que ser faxineiro seja um demérito. Em absoluto. Mas tem gente que age como faxineiro, e pensa também como tal. Isso é, no mínimo, auto-estagnação.

Como essas acima, existem outras inúmeras situações. Mas, basta! A questão agora é: quem perde com essa programação mental? Você e sua empresa. Muitas vezes deixamos de experimentar várias experiências positivas porque os códigos estabelecidos não nos permitem. O desafio, então, de renovarmos nossos programas mentais está lançado. Não será fácil. Keynes já dizia no começo do século que o maior desafio do homem não é fazê-lo aceitar as novas idéias, mas fazê-lo esquecer as velhas . E então, tá disposto a fazer um upgrade? Comece dando um del nesses velhos conceitos. Depois, um enter para as novas posturas mentais que lhe levarão a ser uma nova e melhor pessoa, inclusive um novo e melhor profissional. Ou você é daqueles que ainda rodam o velho programa que diz que o Pessoal está separado do Profissional? Xiii!!!

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