A secretária que virou CEO: os passos de Isabel Figueiredo, a nova CEO da Braskem Idesa no México
Ela foi a primeira mulher diretora da Braskem e agora será a primeira mulher a liderar a operação mexicana
Repórter
Publicado em 13 de janeiro de 2025 às 08h30.
A viagem para o México já está agendada para este mês. Esse será mais um voo que Isabel Figueiredo fará em sua trajetória profissional. A executiva viaja pelo mundo muito antes de entrar no mundo corporativo. Decidiu estudar Letras com ênfase em inglês, mas foi com uma oportunidade de secretária bilíngue e formação em Economia que ela chegou mais longe do que imaginava. Em dezembro, Figueiredo recebeu o convite para ser CEO da Brasken Idesa, joint venture formada entre a Braskem (uma das maiores produtoras de resinas termoplásticas e produtos petroquímicos do mundo), e a empresa mexicana Grupo Idesa que fornece produtos químicos e petroquímicos.
“Estou empolgada e honrada com o novo desafio, mas valer reforçar que eu só consegui este posto porque encontrei no caminho líderes que acreditaram em mim”, conta a CEO.
Primeiros passos: do ensino ao mundo corporativo
Formada em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Figueiredo sempre sonhou em ser professora. Seu desejo de ensinar a levou a uma pós-graduação em Literatura e Inglês nos Estados Unidos, durante o tempo em que viveu na Carolina do Norte. De volta ao Brasil, já casada com um funcionário da Alcoa, ela recebeu uma proposta inesperada: ser secretária bilíngue na Alcoa, em São Luís, Maranhão.
“Nunca tinha trabalhado como secretária, mas sempre falei muito bem o inglês. Fui aprendendo sobre a nova área com o apoio de colegas e líderes”, afirma Figueiredo.
Em poucos meses, a secretária bilíngue passou para a área de custos e orçamentos e, logo depois, decidiu cursar Economia, enquanto ela crescia profissionalmente na Alcoa.
“A única coisa que ninguém pode tirar de você é o conhecimento. Estude, aprenda e esteja sempre curioso para explorar áreas além da sua especialidade,” diz a executiva que teve uma passagem de 13 anos pela Alcoa, passando por diferentes setores.
Um erro que virou lição
Um dos momentos mais marcantes da carreira de Figueiredo foi seu aprendizado com Roberto Torres, um dos líderes que mais a inspirou na Alcoa. Na época, um erro de principiante fez Figueiredo gerar milhões de prejuízo para a empresa, e para ela, a melhor saída seria oferecer sua demissão. Roberto, porém, recusou. “Agora que investimos em seu aprendizado, você vai ficar e usar isso para melhorar.”
Essa experiência moldou a visão de Figueiredo sobre erros como parte essencial do crescimento. “É uma experiência que eu levei e levo para o meu time: é importante ensinar e dar a chance da pessoa ser um profissional melhor, sem deixar de ser firme quando necessário”.
Os 22 Anos na Braskem – e segue contando
Após a Alcoa, Figueiredo ingressou na Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e logo depois veio a oportunidade de entrar na Braskem em 2002. Durante sua trajetória, ela liderou iniciativas que impulsionaram a sustentabilidade e a inovação. Um exemplo foi o desenvolvimento do “Resista”, uma madeira ecológica feita de PVC e casca de arroz. Outro destaque foi a negociação que trouxe a BASF para o Polo Petroquímico de Camaçari, consolidando investimentos estratégicos na indústria química.
“Nunca dizia não para uma oportunidade. Eu aprendia e me desafiava. Isso me ajudou muito a passar por várias áreas e a chegar aonde estou”, afirma Figueiredo.
Sua liderança também foi essencial para ampliar a presença global da Braskem, com abertura de escritórios em Houston (Estados Unidos), Roterdão (Holanda) e Singapura. “Esses movimentos permitiram a empresa reduzir a dependência de traders, fortalecendo o relacionamento direto com clientes globais”, afirma Figueiredo.
O convite para ser CEO
O convite para Figueiredo assumir a posição de CEO da Braskem Idesa no México aconteceu no final de 2024, aos 64 anos, após duas décadas na Braskem no Brasil. Isabel já ocupava o cargo de Vice-Presidente de Vinílicos e Especialidades e era reconhecida por sua liderança em projetos estratégicos, tanto no Brasil quanto internacionalmente.
Durante uma reestruturação na Braskem, ela foi abordada para assumir o desafio de liderar a operação mexicana. O convite veio em reconhecimento à sua experiência em diversas áreas da empresa, como suprimentos, logística, desenvolvimento de negócios e sustentabilidade, além de sua capacidade comprovada de liderar equipes globais.
"Adoro desafios e culturas diferentes. Liderar a Braskem Idesa é uma oportunidade incrível de aplicar minha experiência e contribuir para o sucesso da empresa no mercado internacional", diz a CEO.
Os desafios da CEO no México
Como CEO da Braskem Idesa México, Figueiredo enfrentará o desafio de otimizar a operação de um cracker baseado em etano, um dos mais competitivos do mercado, e irá liderar a construção de um terminal de importação de etano. Esses projetos visam aumentar a capacidade operacional para 95%, garantindo maior rentabilidade.
“Adoro desafios e culturas diferentes. Meu foco agora é transformar a Braskem Idesa México em um modelo de eficiência e inovação no setor petroquímico,” afirma.
Liderança inclusiva e impacto social
Figueiredo foi a primeira mulher diretora da Braskem e agora será a primeira mulher a liderar uma de suas operações. Sob sua influência, a empresa ampliou as oportunidades para mulheres em cargos de liderança.
“Temos metas de chegar a 40% de mulheres em liderança até 2030. Hoje, estamos em 34%, mas sabemos que ainda há muito a ser feito,” afirma Figueiredo que lembra que em 2015, 23% das posições de liderança eram ocupadas por mulheres.
“É preciso considerar ainda que a indústria deste segmento tem alta demanda de cargos extremamente técnicos e baixa taxa de rotatividade do quadro de pessoal, o que torna o avanço de 10% extremamente relevante e fruto de ações de intencionalidade para equidade de gênero e valorização das competências femininas”, afirma a CEO.
Errar, aprender e acertar
Mãe de dois filhos já adultos e casada pela segunda vez, Figueiredo acredita que chegou ao topo da carreira executiva, graças aos líderes que deram a oportunidade de ela errar, aprender e acertar. Para ela, é fundamental que os atuais líderes confiem e invistam em seus funcionários.
“Delegar foi um dos meus maiores desafios no início da carreira. Hoje, sei que é fundamental dar liberdade para a equipe crescer e alcançar resultados”, afirma. “Só erra quem faz. Aprenda com o erro, mas não o repita. Isso é fundamental para o crescimento dentro e fora da empresa.”