Por que os investidores devem ampliar o olhar para o bem-estar?
Mercado de bem-estar deve movimentar trilhões de dólares nos próximos anos
Bússola
Publicado em 27 de dezembro de 2022 às 18h58.
Última atualização em 29 de dezembro de 2022 às 10h51.
Por Cesar Carvalho*
O setor de bem-estar está despertando cada vez mais a atenção dos investidores, e por bons motivos. O mercado deve atingir a marca dos US$ 7 trilhões até 2025, segundo a Fidelity. Para os acionistas, isso representa inúmeras oportunidades de acompanhar uma crescente lista de ações que prometem boa rentabilidade.
Mas para explorar todo o potencial do mercado de bem-estar os investidores precisam ter uma visão mais ampla. Ao pensar em “bem-estar”, não se pode considerar apenas empresas cujo foco principal é a saúde. Deve-se pensar também nas atividades relacionadas ao bem-estar de qualquer companhia em que se queira investir e no que elas estão fazendo para promover a saúde física e mental de seus colaboradores.
Em uma coluna para o Fórum de Governança Corporativa da Faculdade de Direito de Harvard, três analistas afirmaram que o bem-estar no trabalho e a saúde mental dos colaboradores são “uma prioridade emergente para os investidores”. Segundo eles, o bem-estar se tornou uma questão de “interesse externo”. Mesmo as questões ligadas ao bem-estar emocional “passaram a ser valorizadas não só por acionistas mas também pelos diversos stakeholders, reconhecendo que essas questões afetam a vida pessoal e profissional, a produtividade, o ambiente, os processos de recrutamento, a retenção e, em última análise, influenciam a capacidade de uma empresa de gerar valor de forma sustentável no longo prazo na medida em que prioriza seus funcionários”.
O Panorama do bem-estar corporativo, publicado pela minha empresa, o Gympass, demonstra de forma mais clara do que nunca a relação entre o bem-estar dos funcionários e o sucesso financeiro das empresas. Entre as conclusões, podemos citar: funcionários que se exercitam regularmente têm uma probabilidade 15% maior de ter melhor desempenho no trabalho, e os que se alimentam de forma saudável têm uma probabilidade 25% maior.
Mais de três quartos dos trabalhadores (77%) dizem que consideram sair de uma empresa que não se preocupa com o bem-estar. Na era da Grande Demissão, isso representa um grande problema — e uma grande oportunidade. O mercado de trabalho continua aquecido e as empresas ainda estão tendo dificuldades para contratar. Elas precisam de vantagens competitivas para atrair os melhores talentos.
Os executivos também devem adotar a cultura do bem-estar. Aprendi isso por experiência própria. Depois de perceber que eu estava trabalhando até muito tarde, sem dedicar tempo suficiente à família, estressado e doente, resolvi mudar: comecei a frequentar a academia, meditar e jogar tênis. Como resultado, passei a receber críticas melhores como líder e observei uma maior capacidade de gerar resultados para a empresa.
Existe uma conexão direta entre o bem-estar geral da equipe e o sucesso de um negócio. Essa é uma lição que investidores experientes estão aprendendo. Então, o que fazer ao escolher ações para investir em uma empresa?
Obtenha dados
A AllianceBernstein diz que os investidores “precisam desenvolver ferramentas de pesquisa para avaliar o bem-estar como um diferencial que pode fornecer informações importantes sobre as perspectivas de uma empresa”. Duas abordagens complementares podem ajudar, segundo a empresa. A primeira envolve técnicas de big data para “analisar a fundo o sentimento dos funcionários, ajudando a confirmar e corroborar avaliações qualitativas”.
Como investidor, de que tipo de dados você precisa? Para entender as iniciativas voltadas para o bem-estar em qualquer empresa, procure resultados de pesquisas internas anônimas nas quais os funcionários compartilham informações sobre seus níveis de estresse, exaustão, burnout, engajamento, integração entre vida pessoal e profissional e vários outros aspectos. Essas pesquisas servem para coletar as opiniões dos funcionários sobre os programas corporativos, se eles estão ajudando, prejudicando ou não surtindo efeito algum. Observe também as taxas de rotatividade da empresa. Um bom programa de bem-estar melhora a taxa de retenção de funcionários.
A segunda abordagem, de acordo com a AllianceBernstein, é o “engajamento com a gestão” para obter “respostas a perguntas difíceis sobre se uma empresa está dando aos funcionários” as condições necessárias para o sucesso. Em apresentações de resultados, conversas com executivos, mensagens para os representantes de relações com investidores e publicações em redes sociais, pergunte o que a empresa vem fazendo para aumentar o bem-estar dos funcionários de todas as formas possíveis.
Revise o pacote completo
Um programa eficaz de bem-estar corporativo é composto de inúmeros elementos, incluindo saúde física, mental e bem-estar financeiro, o que a Câmara de Comércio dos Estados Unidos chama de "imperativo empresarial".
Explore quantos funcionários estão usando cada aspecto do programa de bem-estar. Procure lacunas de utilização em diferentes mercados ou escritórios para ver se algumas partes da empresa têm mais trabalho a fazer do que outras. Pergunte aos executivos quais medidas eles estão tomando para preencher essas lacunas.
Um estudo publicado no Journal of Occupational and Environmental Medicine focou em empresas com dados verificáveis de busca por uma cultura de saúde, segurança e bem-estar. E descobriu que os fundos com essas ações superaram o desempenho do mercado em geral. Um estudo anterior semelhante constatou que, ao longo de 14 anos, as empresas que investiram na saúde e bem-estar de seus funcionários “valorizaram 325% em comparação com a valorização média do mercado, de 105%".
Com os níveis de burnout e estresse dos funcionários muito altos, as empresas têm a responsabilidade de enfrentar de frente a crise de bem-estar no trabalho e oferecer soluções e recursos para melhorá-la. Aqueles que tomarem medidas estarão mais bem equipados para enfrentar o futuro — e para proporcionar resultados duradouros.
*Cesar Carvalho é cofundador e CEO global do Gympass.
Originalmente publicado emNasdaq.
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