Pandemia reforça importância da prevenção para o futuro do setor de saúde
Atenção primária e sistema mais integrado são as apostas de lideranças do mercado que participaram de webinar da Bússola
Bússola
Publicado em 10 de novembro de 2020 às 21h54.
Última atualização em 1 de novembro de 2022 às 20h06.
Qual o futuro do mercado de saúde pós-Covid? A pandemia reforçou a importância das ações de prevenção e a necessidade de um sistema cada vez mais integrado, capaz de conectar todos os atores da cadeia e com foco sempre no paciente. Essa é conclusão da live realizada nesta terça-feira, 10 de novembro, pela Bússola, que reuniu lideranças da área de saúde para debater as transformações do setor a partir do novo coronavírus.
Para Florentino Cardoso, diretor-executivo médico da Hospital Care, é fundamental conhecer bem cada paciente, que deve ter uma equipe médica que o acompanhe com regularidade, de maneira preventiva. “Se nós pegarmos o paciente e o colocarmos no centro da nossa atenção, possibilitando que os médicos e todo o time de profissionais de saúde trabalhem de maneira adequada, nós teremos sucesso. Esse período mais desafiador também serviu para entendermos que o paciente precisa ter um médico. Costumamos dizer que o paciente que tem vários médicos fica meio desprotegido porque, às vezes, não se comunicam um com o outro, não sabem que medicamento o outro passou”, disse.
A Hospital Care reúne29 unidades de saúde, entre hospitais, clínicas, pronto atendimento e laboratórios em Campinas e outras cidades do interior de São Paulo, além de Curitiba e Florianópolis.Florentino explicou que o hospital não deve ser a porta de entrada preferencial para o sistema de saúde, a não ser em casos de emergência. O caminho mais eficaz, segundo ele, é a atenção primária. “A pandemia já nos mostrou que muitos pacientes que iam aos prontos-socorros não precisavam estar lá. É muito mais adequado que eles sejam conduzidos nessa forma mais básica de atendimento que é a atenção primária em saúde. Entre 80% e 85% dos casos podem ser resolvidos nesse nível de complexidade. Isso significa dizer que devemos reservar o outro nível de atendimento, que é mais caro, mais dificultoso e mais especializado, para os 20% que realmente precisam”, esclareceu.
A opinião é compartilhada por André Garcia, CEO da Associação Congregação de Santa Catarina (ACSC), que há 120 anos atua nas áreas de saúde, educação e assistência social, e possui hoje uma rede com 10 hospitais nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo. “A gente precisa muito de uma melhor integração entre atenção primária, secundária e terciária. É um desafio para o paciente saber onde é que ele vai buscar o cuidado adequado. Esse é um grande desafio. Quanto menos idas aos hospitais e quanto mais cedo sai da unidade, melhor para o paciente. Se eu tiver a atenção primária bem feita, eu dou o que o paciente precisa com agilidade”, afirmou.
Além do foco na prevenção, André listou ainda outras questões trazidas pela pandemia que devem permanecer como legado para o setor de saúde. “A crise é força propulsora e o senso de urgência veio para ficar. Essa capacidade de agir, de inovar, de executar numa velocidade nunca vista antes. Essa flexibilidade de pensamento e disposição para mudanças rápidas têm que ser incorporadas e mantidas de forma permanente. Essa abertura para colaboração entre e dentro das empresas ficou mais fluida. As ferramentas que permitem atuação remota deram mais agilidade e produtividade para várias atividades”, destacou.
Integração também é, na opinião de José Seripieri Junior, fundador e CEO do Qsaúde, novo plano individual de saúde lançado no mês passado, a palavra-chave para que o setor possa superar os desafios e continuar avançando. “A questão da atenção primária não tem que funcionar isoladamente. Deve estar conectada a um grande sistema de banco de dados que vai integrar com a assistência secundária e terciária. A pergunta deve ser sempre quem está cuidando da saúde do paciente efetivamente. Porque as pessoas podem, por um erro ou tropeço, ir a um médico errado, receber assistência errada. E isso vai custar muito caro. Tem que cuidar de cada paciente preventivamente”, declarou.
Com 34 anos de experiência no mercado de saúde suplementar, Junior disse que o modelo do Qsaúde tem como objetivo garantir cuidado personalizado, humanizado e acolhedor, com preços acessíveis. Para ele, as operadoras devem ter participação mais ativa na cadeia médico-assistencial. “Ao longo dos próximos anos, ou as operadoras entendem que terão de ser cuidadoras e parceiras do paciente e dos serviços médicos e precisarão participar desse processo como um todo, ou a conta não vai fechar mais. A operadora, com exceção da verticalizada com rede própria, não participa em nenhum estágio dessa cadeia médico-assistencial, seja com o paciente ou com médico. Em geral, ela fica passiva aguardando a conta vir. É um modelo que, na minha opinião, no longo prazo, vai ficar muito caro”, alertou.
Investimento cada vez maior em ciência e pesquisa é outra tendência do mercado de saúde pós-Covid. Diante do desconhecimento sobre novo coronavírus, o mundo todo entrou numa corrida por informações, novos tratamentos e vacinas. No Brasil, também existem vários estudos em andamento. E um deles é o da Mantecorp Farmasa em parceria com o Hospital Alemão Oswaldo Cruz e a Faculdade de Medicina do ABC. No mês passado, começaram os testes para avaliar a eficácia do corticoide prednisolona em pacientes infectados com Covid-19. Segundo Denise Katz, gerente médica da Mantecorp Farmasa, “a proposta é usar um corticoide de potência intermediária, que é a prednisolona, nos pacientes que ainda não estão intubados em UTI ou dependentes de oferta de oxigênio. Um grupo vai receber prednisolona 40 mg e outro grupo vai receber tratamento tradicional, que é hidratação, medidas de suporte, anticoagulação. E a gente vai avaliar a mortalidade, o tempo de internação, a necessidade de transferência para UTI ou não, tempo de internação, necessidade e tempo de uso de oxigênio.”
Os primeiros resultados do estudo estão previstos somente para o início de 2021, mas, de acordo com Denise, como o uso de corticoide tem se mostrado eficaz desde o início da pandemia, com indicação da própria OMS, a expectativa é grande em relação ao prednisolona. “Estamos bem animados com esse estudo multicêntrico, prospectivo e controlado para avaliar a eficácia do medicamento na evolução da Covid-19”, concluiu.
Siga Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube