O mundo precisa de soluções que ainda não foram inventadas (Getty Images/Getty Images)
Bússola
Publicado em 24 de agosto de 2021 às 12h11.
Última atualização em 25 de agosto de 2021 às 11h05.
Por Danilo Maeda*
Um dos achados fundamentais do relatório mais recente produzido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é que o aquecimento global decorrente das emissões de gases de efeito estufa (GEE) já produziu efeitos irreversíveis. É o caso do degelo das calotas polares e das geleiras, do aumento do nível do mar e da acidificação dos oceanos.
As mudanças climáticas recentes não têm precedentes e estão diretamente relacionadas com o aumento na frequência de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, secas prolongadas e chuvas torrenciais. A questão agora é como reverter o processo e lidar com as consequências do aquecimento já contratado pelas emissões acumuladas nos últimos anos.
O relatório aponta que temos uma última chance. Para isso, a ação de combate às mudanças climáticas precisa ser ampla, imediata e de alto impacto. Para mitigar o ciclo de aquecimento global, é preciso que o planeta atinja urgentemente a neutralidade em emissões de carbono e reduza drasticamente as emissões de outros GEE.
O mesmo senso de urgência se aplica a questões sociais. Temos acompanhado, tanto em nível global quanto local, a deterioração de avanços em temas como erradicação da pobreza, combate à fome e redução das desigualdades. Sem falar na promoção da paz e na democracia.
Em outras palavras, o nível dos impactos causados nos ecossistemas e a gravidade dos problemas sociais impõem que o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável (na definição do relatório Brundtland: atender às necessidades de hoje sem comprometer a capacidade de próximas gerações atenderem as suas) só será possível com uma ampla adoção dos conceitos da economia regenerativa.
A proposição vai além de conciliar a geração de riquezas com ações socioambientais responsáveis, mas compreende que propósito é o motor da lucratividade de longo prazo, como defende por exemplo Larry Fink, CEO da BlackRock. Isso significa desenvolver soluções do tipo “cisne verde”, que na definição de John Elkington, responsável por cunhar este conceito (entre outros, como o tripple bottom line) são “soluções sistêmicas para desafios globais”. É mais do que não causar dano. É gerar impacto socioambiental positivo, com escala e sem efeitos colaterais em outras áreas.
O cenário é desafiador, mas há sempre um outro lado. A demanda por inovações deste tipo crescerá rapidamente nos próximos anos. Para evitar catástrofes cujo custo social, ambiental e econômico é gigantesco, o mundo precisa desesperadamente de soluções que ainda não foram inventadas. Para quem tem senso de oportunidade, fica claro que este é um campo promissor.
Para trilhar este caminho, vale lembrar que não basta boa vontade, campanhas que comunicam sem consistência ou estratégias que não consideram o engajamento de stakeholders. Problemas como os mencionados acima são mais que difíceis. Eles são do tipo que o professor de gestão estratégica John Camillus classifica como “perversos” (wicked problems, no original): questões com “múltiplas causas, difíceis de descrever e que não possuem uma resposta certa”. Ou seja, não se resolvem com as ferramentas tradicionais.
Em suma, o desafio é grande e o tempo é curto, mas as oportunidades são proporcionais à dificuldade do cenário. Como sempre, quem sai na frente tem vantagens competitivas e pode definir as tendências. Nosso futuro passa pela economia regenerativa. Qual será o seu papel nessa jornada?
*Danilo Maeda é diretor de ESG no Grupo FSB
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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