ESG: Os relatórios de sustentabilidade ainda fazem sentido?
A coleta de indicadores tem o valor de trazer dados para tomadas de decisão e eventuais ajustes de rota na organização
Bússola
Publicado em 16 de agosto de 2022 às 09h04.
Última atualização em 16 de agosto de 2022 às 13h19.
Por Danilo Maeda*
O título da coluna de hoje é uma das perguntas que recebo com maior frequência. Seja de clientes, colegas ou curiosos, a questão costuma vir com uma certa dose de ceticismo em relação a esse exercício que já teve seus tempos de glória em meio às muitas ondas que mexem com o mundo corporativo. Para responder rápida e objetivamente: sim, ainda faz sentido publicar relatórios de sustentabilidade. Mais do que isso, vale muito a pena. A chave está em entender o processo como um mecanismo de gestão e transparência e não como uma mera obrigação.
Se você queria só a resposta à pergunta do título, pode parar por aqui. Mas se quiser explorar um pouco dos motivos pelos quais apresento essa resposta, te convido a seguir a leitura. O primeiro aspecto a se considerar é o mais óbvio: publicar relatórios sobre estratégia, impactos e resultados sociais, ambientais e econômicos é uma prática de engajamento e transparência valorizada por stakeholders. Públicos estratégicos demandam informação sobre aspectos relevantes de um negócio que tem impacto em suas vidas e operações.
Alguém pode perguntar: “Se valorizam tanto, porque ninguém lê o relatório completo?”, que aliás é normalmente a segunda pergunta feita em conversas sobre o tema. Aqui, vale distinguir que relatórios de sustentabilidade são mais parecidos com enciclopédias do que com romances. Para os stakeholders, é um documento de consulta, onde pode-se encontrar informações úteis e relevantes, organizadas de maneira simples e de fácil compreensão. Por mais que se cuide de aspectos como design, navegabilidade e coerência entre seções, não se trata de um material que deva necessariamente ser lido sequencialmente, de capa a capa.
Se da porta para fora os (bons) relatórios contribuem com a qualificação dos relacionamentos, ao dar transparência para informações úteis, tempestivas e relevantes, da porta para dentro o processo tem potencial de ser uma prática de gestão e melhoria contínua. Como já tratamos neste espaço, uma estratégia de sustentabilidade deve partir de análises sobre impactos, riscos e oportunidades mais relevantes em cada modelo de negócios e cadeia de valor, tanto na ótica da gestão quanto de seus stakeholders.
Afinal de contas, se o objetivo é perenizar a organização e sua capacidade de geração de valor, é preciso entender quais são os impactos que afetam a sustentabilidade do negócio e que são afetados por ele. Esse tipo de reflexão corresponde a boas práticas dos frameworks de relatórios, como as diretrizes da GRI, e entrega valor estratégico ao permitir que riscos sejam gerenciados de forma antecipada, pois estes tendem a ser identificados precocemente no processo de engajamento de stakeholders.
Além da reflexão estratégica, o ciclo de coleta de dados para produção dos relatórios de sustentabilidade é em si uma oportunidade para rever o desempenho em temas socioambientais relevantes. Se só pode ser gerenciado aquilo que é medido, a coleta de indicadores tem o valor de trazer dados para tomadas de decisão e eventuais ajustes de rota na organização. Claro que para isso funcionar é necessário encontrar os indicadores adequados para medir o que se deseja, evitando distorções e métricas enganosas. Como definir esse conjunto de indicadores será tema de um próximo artigo.
*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB
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