3 perguntas sobre bilinguismo para Claudia Costin
Especialista fala sobre o cenário da educação no século 21 e como aplicar o bilinguismo
Bússola
Publicado em 28 de agosto de 2021 às 10h00.
Na última semana, a Pearson recebeu em um evento online e gratuito de educação para falar sobre bilinguismo a pesquisadora e professora Claudia Costin. Entre outros assuntos, a especialista relacionou o segundo idioma com a pandemia, falou sobre tendências de aprendizagem e a relação do desenvolvimento desse tipo de habilidade com os objetivos de desenvolvimento sustentável do Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas).
As conversas foram mediadas por Juliano Costa, vice-presidente de Produtos Educacionais da Pearson Latam, marca que no Brasil é proprietária das redes Wizard by Pearson, Yázigi e Skill.
“Como pesquisadora de políticas públicas e cenários da educação, ela tem amplo conhecimento a respeito de tendências públicas e privadas na educação brasileira, necessidades e urgências do modelo educacional e também compreende as condições de oferta de ensino e aprendizagem atualmente disponíveis no mercado”, afirma o executivo.
Ainda segundo ele, a contribuição de Claudia Costin ajuda a refletir sobre o bilinguismo como uma necessidade da educação global e também como componente de trabalhabilidade futura.
À pedido da Bússola, Claudia Costin respondeu três perguntas sobre o assunto. Confira.
Bússola: Que aprendizados o início da pandemia deixou neste último ano sobre onde o Brasil precisa chegar quando o assunto é bilinguismo?
Claudia Costin: A pandemia nos ensinou que compartilhamos a mesma condição humana e muitos dos problemas. O vírus, infelizmente, não conhece fronteiras e logo se espalhou por todo o planeta.
Para resolver problemas planetários, nós precisamos de cooperação científica entre universidades, acesso a informações de processos de prevenção e do que vem se passando em outros países. E até para garantir aprendizado em casa, já que as escolas foram fechadas em quase 190 países, foi importante ter acesso ao que fizeram os países que foram afetados pelo fechamento das escolas antes de nós, como eles lidaram com o protocolo sanitário e tudo mais.
Por isso, fica ainda mais claro que o bilinguismo é importante, ou seja, dotar as novas gerações não apenas da bela língua que é o português, mas também de alguma franca que lhes permita se comunicar internacionalmente. Junto com isso conhecer costumes, culturas e arte de outros países.
Bússola: Tendo em vista as tendências de consumo de educação, o que os empresários do setor de Educação precisam estar atentos para oferecer as melhores formas de aprendizagem de um segundo idioma?
Claudia Costin: Para construir um bilinguismo de verdade, é importante que não se ensine apenas a língua inglesa ou a língua francesa, dependendo da opção do bilinguismo. É importante que algumas outras disciplinas sejam ensinadas na segunda língua, e que haja um processo de comunicação entre o professor e as crianças na língua em que se está ensinando.
Também é fundamental ter uma biblioteca escolar com livros acessíveis, não só digitais, mas também físicos, na segunda língua que vem sendo trabalhada. Que o ambiente de cada sala de aula contenha também textos escritos e informações nas duas línguas.
É importante também contar com professores ou nativos, ou que falam com fluência próxima ao dos nativos na segunda língua escolhida. Para isso, vai ser muito importante que eventuais escolas públicas que quiserem aderir ao bilinguismo, que no concurso público incluam prova oral e não apenas prova escrita. Não faz sentido contratar professores de língua estrangeira, ou que vão entrar no modelo do bilinguismo, que não sejam fluentes nessa segunda língua adotada. Então, o processo de comunicação é tão ou mais importante que o escrito.
Bússola: O ODS 4, da ONU, estabelece o que precisamos construir para 2030 e prevê educação inclusiva, equitativa e de qualidade, além de promover oportunidade de aprendizagem ao longo da vida, para todos. Essa ainda não é uma realidade do bilinguismo no Brasil, já que apenas 5% da população consegue se comunicar em inglês. O que significa educação equitativa e de qualidade e qual o impacto que isso tem no futuro do trabalho?
Claudia Costin: Participei ativamente no desenho e na formulação da estrutura do ODS4 quando fui diretora global de educação do banco mundial, ele não apenas diz que nós temos que ter acesso à educação ou garantir acesso de todos para a educação, mas diz que tipo de educação é essa. Daí vem a definição que ela tem que ser inclusiva, equitativa e de qualidade. Nós temos que, por um lado assegurar aprendizagem de qualidade pra todos, e por outro lado garantir que não haja uma educação de segunda linha para aqueles que vêm de meios mais vulneráveis, que estão menos motivados ou que tem outros desafios para aprender.
No contexto do acesso a outras línguas, como o inglês, isso significa permitir que a criança ou o adolescente esteja exposto pelo menos a outra língua desde o início do ensino fundamental. Não é possível se aprender uma língua tão diferente da nossa, como o inglês, simplesmente a oferecendo no ensino fundamental 2 ou no ensino médio.
É importante lembrar que o inglês, em particular, é uma língua franca. Ela permite comunicação entre diferentes povos. Então quando se oferece, mesmo na escola pública já é um caminho, é por isso que quero destacar o Rio de Janeiro, que começou a oferecer inglês no ensino fundamental 1 e, agora, São Paulo inicia um esforço na mesma direção. É muito importante que se exponha a criança e se ofereça o aprendizado da segunda língua no começo do Fundamental, ou até, se possível, na pré-escola.
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