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Viviane Senna nega que haja convite para MEC e vê disposição para diálogo

Em entrevista, ela diz que projeto Escola sem Partido não é necessário e propõe que a principal bandeira desse governo seja a alfabetização

Viviane Senna, irmã do tricampeão mundial Ayrton Senna, durante evento no Autódromo de Interlagos em 1 de dezembro de 2013. São Paulo, Brasil (Daniel Vorley/Getty Images)

Viviane Senna, irmã do tricampeão mundial Ayrton Senna, durante evento no Autódromo de Interlagos em 1 de dezembro de 2013. São Paulo, Brasil (Daniel Vorley/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 11h44.

Última atualização em 17 de novembro de 2018 às 11h52.

A presidente do Instituto Ayrton Senna, Viviane Senna, se tornou um dos nomes mais conhecidos do terceiro setor que investe em educação. O instituto tem projetos em 17 Estados, que atingem mais de 1 milhão de crianças.

Seu nome surgiu entre os cotados para assumir o ministério da Educação do governo Jair Bolsonaro - às vésperas do segundo turno, ela visitou o então candidato e tem mantido contato com ele desde então.

Viviane, no entanto, nega ter recebido convite e qualquer interesse no cargo. Ela disse ver no novo governo disposição para ouvir propostas e, ao falar sobre uma das principais ideias de Bolsonaro para a educação, o Escola sem Partido, propõe a substituição da "pauta que não impacta a aprendizagem por uma que impacta". A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao jornal O Estado de S. Paulo:

Como têm sido as conversas com o governo eleito?

Antes do segundo turno visitei Jair Bolsonaro e conversamos durante uma hora e meia. Foi muito bom. A gente sempre faz isso, fomos no governo Lula também. Depois de uns dias, ele me ligou no celular perguntou se eu poderia ajudar na área de educação. Eu disse, sim, claro, esse é o meu trabalho. Combinamos de fazer uma reunião de trabalho, apresentar diagnóstico, caminhos do que fazer para melhorar os indicadores de aprendizagem.

E isso aconteceu essa semana, na reunião com Onyx Lorenzoni?

Sim, eu já tinha dito que o grande desafio era a educação básica e a aprendizagem. Apresentamos um estudo para mostrar os principais desafios de aprendizagem e as alavancas críticas para poder destravar esse cenário. A questão que eu quis ressaltar foi a da alfabetização. O Brasil não resolveu isso em 500 anos de história, estamos no século 21 e metade das crianças brasileiras são analfabetas. É inaceitável.

Minha proposta é que a principal bandeira desse governo seja a alfabetização, não a reforma previdenciária ou trabalhista. E alfabetizar todas as crianças brasileiras nos próximos quatro anos. Todos os países do mundo começaram por aí. A segunda coisa é a figura do professor. O que a evidência mostra é que 70% da aprendizagem do aluno está ligada ao professor.

A sra. fez críticas também? 

Acho que não podemos voltar atrás e repensar a Base Nacional Comum Curricular. Tem que terminar de aprovar. Apontamos também para uma educação integral, com competências socioemocionais, para preparar o aluno para o século 21. Tudo isso baseado em evidências científicas e empíricas, dentro e fora do Brasil.

Muito do que o atual governo afirma vai na linha oposta do que a sra. está dizendo. O presidente eleito fala em doutrinação dos professores, escolas militares, ensino à distância. Qual a sua opinião sobre o que têm dito?

Olha, a receptividade foi a melhor possível. Poucas vezes vi um desejo tão grande e abertura genuína a entender e buscar soluções. Acho que eles têm todo interesse de acertar, de entender o professor, de tratar com o maior cuidado. Temos a missão de ajudar esse governo a acertar, a fazer dar certo, estamos todos no mesmo avião. Se cair o avião, caímos todos.

Mas qual a sua opinião sobre o projeto Escola sem Partido, defendido por Bolsonaro?

Precisamos de uma agenda que vai resolver o problema do País. Existem dispositivos legais para quando há partidarização, devem ser trabalhados com a lei que já existe. É desnecessário isso, criar mais uma lei. A minha proposta é que se substituísse essa pauta, que não impacta a aprendizagem, para uma pauta que impacta.

E a sra. acredita que isso vá acontecer?

Estão pedindo para ouvir opiniões. O que eles falaram antes não é o ponto. Estão se propondo a ouvir. Não é uma atitude de não quer ouvir. Quem convidou foram eles. Precisamos olhar os sinais positivos. Esse tipo de postura não esta levando a lugar algum, se a gente quer construir. Por que você acha que eles estariam chamando então? Mas eu não posso prometer nada.

Prometer não, mas acreditar, a sra. Acredita?

Tem uma grande disposição. Se vai ser feito ou não....Vi grande disposição de dialogar. É um sinal muito bom.

A sra. foi convidada para ser ministra da Educação?

Não tem esse convite, só tem um pedido para ajudar na educação. Eu convidei o Ricardo Paes de Barros (economista do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper) para ir comigo. São elementos que estão sendo trazido para a mesa para que se possa ter passos bons pela frente.

A sra. não tem interesse no ministério?

Já fui convidada três vezes para ser ministra por governos anteriores. Meu objetivo não é esse.

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