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The Economist destaca ligações e simpatia do clã Bolsonaro com milícias

Última edição da revista britânica traz dois textos que mostram os laços da família Bolsonaro com as milícias que aterrorizam o Rio de Janeiro

Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro sempre defenderam publicamente os milicianos (Ricardo Moraes/Reuters)

Flávio Bolsonaro e Jair Bolsonaro sempre defenderam publicamente os milicianos (Ricardo Moraes/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 31 de maio de 2019 às 11h15.

Última atualização em 31 de maio de 2019 às 12h38.

São Paulo — As ligações do presidente Jair Bolsonaro e de sua família com as milícias do Rio de Janeiro foram tema da última edição da revista britânica The Economist, uma das mais prestigiadas publicações do mundo.

Uma reportagem destaca que no último dia 29, o tio da primeira-dama Michelle Bolsonaro foi preso acusado de ter laços com uma milícia que estaria incorporando terrenos perto de Brasília.

Além disso, o senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro, empregava em seu gabinete a mãe e a esposa de um fugitivo acusado de liderar uma milícia.

A revista também cita que um policial ligado à mesma milícia e que foi preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco morava no mesmo condomínio de Bolsonaro e que o filho do presidente havia namorado a filha do acusado.

Jair Bolsonaro tem um histórico de defesa de milícias e de personagens ligados à ela ao longo de sua carreira política. Em fevereiro do ano passado, já como candidato à Presidência, voltou a fazer essa defesa em entrevista à Jovem Pan.

“Tem gente que é favorável à milícia, que é a maneira que eles têm de se ver livres da violência. Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, afirmou.

A Economist destaca que as milícias surgiram nos anos 90 para se contrapor às organizações de tráfico de drogas, mas se tornaram máfias paramilitares. Elas controlam cerca de um quarto da região metropolitana do Rio, provendo serviços e oferecendo proteção em troca de cobranças e mediante ameaça de violência.

"Pesquisas sugerem que a maior parte dos residente teme as milícias, talvez até mais do que as gangues de drogas. Os políticos, no entanto, as consideram úteis. Elas dividem seus saques com seus patronos políticos, conduzem seus apoiadores para os locais de votação e intimidam seus oponentes", diz o texto.

Trigger-happy

Em um artigo de opinião, a revista aponta que o presidente não fez nada para combater essa organizações e que seu argumento de que elas previnem a violência é "ridículo".

Pelo contrário, o presidente teria oferecido como resposta para o problema do crime apenas combater violência com violência.

Isso incluiria ampliar o acesso à posse e ao porte de armas, assim como a proposta do ministro Sérgio Moro de redução ou até fim das penas para policiais que matarem alguém movidos por "forte emoção".

"Não deveria ser preciso dizer isso, mas se o Sr. Bolsonaro quer reduzir o crime, não deveria permitir que policiais liderassem suas próprias máfias. É difícil cultivar respeito pela lei se os policiais podem atirar em qualquer um e gerenciar grupos de extorsão com impunidade", diz um trecho.

A revista aponta que a confiança na polícia é comprovadamente um fator de combate à violência e que não há nenhum incentivo para o trabalho duro de investigação policial se casos podem ser simplesmente encerrados com um tiro.

"Infelizmente, há poucos sinais de que o Sr. Bolsonaro e seus aliados amigos do gatilho tem a paciência para uma tarefa dessas", diz o texto.

O presidente segue afirmando que a maior circulação de armas tem efeito de queda na violência, na contramão das evidências compiladas pela esmagadora maioria dos estudos internacionais.

“A certeza de que se vai encontrar o cidadão desarmado é que faz com que a violência cresça”, disse, em entrevista ao programa The Noite com Danilo Gentili transmitida nesta sexta-feira, 31.

Questionado se estaria disposto a voltar atrás nos decretos de posse e porte de armas editados por seu governo caso o número de mortes por armas de fogo aumente, o presidente respondeu:

“Agora, vou fazer uma polêmica aí. Vou querer saber se são pessoas de bem que estão morrendo ou bandidos. Se é marginal, tem que liberar mais armas ainda”.

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