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Rodrigo Maia é opção real para tocar reformas de Michel Temer

Apoiadores do presidente da Câmara dizem que ele seria o melhor nome para seguir com a agenda; caciques do PSDB já ensaiam apoio

MAIA E TEMER: deputado carioca já trata de como montaria seu ministério caso seja levado à presidência / Ueslei Marcelino/Reuters (Ueslei Marcelino/Reuters)
GK

Gian Kojikovski

Publicado em 8 de julho de 2017 às 09h41.

Última atualização em 10 de julho de 2017 às 11h31.

O presidente Michel Temer hesitou em viajar para a Alemanha, onde acontece o Encontro de Cúpula do G20. Em meio à crise política, seria dar espaço para que quem quer vê-lo longe da presidência “preparasse sua cama” no Brasil. Parece que seu instinto estava certo. Ao longo da semana, cresceu o número de políticos declarando publicamente que a “melhor alternativa para o Brasil” seria que a denúncia contra ele fosse aceita pela Câmara dos Deputados, julgada pelo Supremo Tribunal Federal e o presidente fosse afastado pelo período de 180 dias. A tentativa de criar um consenso está se tornando cada vez mais palpável em torno do único nome a surgir forte para uma possível substituição de Temer no cargo mais importante do país: o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Os apoiadores da ideia dizem que o carioca seria o melhor nome para seguir com a agenda de reformas de Michel Temer sem que o peemedebista estivesse no poder. É um político com trânsito no Congresso, simpático inclusive aos partidos de oposição. O gesto mais claro em direção a esse sentido até aqui foi a declaração do senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do PSDB, dizendo que Maia encontra as “condições suficientes” para dar a estabilidade para que o país possa “fazer uma travessia até 2018”. Ele afirmou que o país caminha para a “ingovernabilidade” com Temer no poder.

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EXAME Hoje apurou que, durante uma reunião com Jereissati, na noite de quarta 5, partiu de Maia o indicativo de como formaria seu ministério caso Temer seja afastado. Ele disse ao tucano que manteria a equipe econômica e boa parte dos outros ocupantes da Esplanada, mas mudaria os chamados “palacianos”, que são os ministros que dão expediente no Planalto, caso de Casa Civil e Secretaria de Governo. Essa afirmativa, principalmente no que diz respeito à equipe da Fazenda, foi fundamental para convencer o presidente do PSDB, que mantinha um pé atrás com relação ao deputado, que ele poderia ser alçado à presidência. As continuidade das reformas também foi assegurada.

O discurso de apoio a Maia que passou a ser construído desde então se sustenta, principalmente, porque ele seria o mais indicado para seguir com a reforma da Previdência. Na manhã de sexta, depois de receber diversos sinais de outros partidos e políticos de que teria apoio em uma eventual presidência, o deputado postou no Twitter que “não podemos estar satisfeitos apenas com a reforma trabalhista. Temos Previdência, Tributária e mudanças na legislação de segurança pública”.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), engrossou o discurso. “Se é para fazer uma escolha entre abandonar nossa bancada na Câmara e abandonar cargos confortáveis no governo, prefiro abandonar os cargos confortáveis no governo e ficar solidário à minha bancada na Câmara”, disse, em coletiva no Salão Azul do Senado nesta sexta-feira. “Tem que respeitar os deputados, são eles que estão mais expostos, na linha de frente”.

Do lado da Câmara, o sentimento é o mesmo. A saída do PSDB será uma vitória para a ala dos “cabeças pretas” do partido que pleiteavam o desembarque desde o início da crise. Um dos principais deputados tucanos diz em reserva que a depender da votação da denúncia na CCJ, aumenta muito o risco no plenário e não será o partido que vai ajudar. Sobre Maia presidente, afirma que “como diz o filósofo Tiririca, para o PSDB pior do que está não fica”.

A postura, contudo, desagrada a ala mais conservadora do partido, que prefere se manter com Temer. Segundo um tucano deste grupo, houve “uma grande indisposição” com Tasso pelas declarações dadas à imprensa. “A posição do partido é a da última reunião da Executiva, de apoio ao governo. Se é para mudar, temos que fazer outra”. A posição é a mesma externada pelo prefeito de São Paulo, João Doria, que disse na manhã de sexta que a posição de Tasso é pessoal e não pode ser tomada como de todo o partido.

Há algum tempo o presidente da Câmara também vem dando demonstrativos homeopáticos de afastamento. Ainda aparecia às reuniões de crise no Palácio do Jaburu aos fins de semana, mas sem defender incondicionalmente o Planalto como costumava fazer. Ficou notório o episódio de apoio de Maia a Temer quando foi divulgada a reportagem do jornal O Globo que trazia o escândalo da J&F e as gravações da conversa do presidente com Joesley Batista.

O deputado jurou lealdade e chegou a se emocionar em discurso. Dali em diante, em momentos que sua presença seria necessária, Maia se furtou da obrigação e endureceu o tom. Sua ausência foi sentida no pronunciamento de Temer para se defender da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República na terça-feira 27, onde só havia símbolos do baixo clero, e reuniões em sua residência oficial tiveram como assunto como seria uma possível sucessão. Publicamente, no entanto, Maia continua a se manifestar em defesa do presidente. “Eu aprendi em casa a ser leal, a ser correto, e serei com o presidente Michel Temer sempre”, afirmou a jornalistas durante encontro de parlamentares latino-americanos em Buenos Aires.

Analistas ouvidos EXAME Hoje veem com ceticismo a continuidade da agenda reformista. “Os efeitos de uma eventual transição presidencial de Temer para Maia são marginais para a aprovação das reformas. Agora, independente de quem for o presidente, a reforma da Previdência corre riscos crescentes com o passar do tempo, especialmente se tentarem manter o que foi aprovado na comissão especial, que não tem viabilidade política com qualquer um dos dois”, diz Rafael Cortez, analista político da consultoria Tendências.

A partir disso, algumas ponderações precisam ser levadas em conta. A primeira delas é que Temer passa seus dias se defendendo e não possui condições políticas de implementar qualquer grande agenda positiva na Câmara até que resolva seus problemas. Isso não tem data para acontecer, já que esta é somente a primeira de um total de três ou quatro denúncias que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve fazer contra o presidente.

“Se o presidente Temer colocasse hoje para votar só a idade mínima na reforma da Previdência, talvez conseguiria aprovar. Nada muito maior do que isso. Estando no cargo, poderia fazer mais rapidamente do que Maia, mas de uma maneira muito desidratada, já que não tem muita margem para alavancar os votos porque vai usar o capital político para tentar rebater a denúncia feita por Janot”, diz Lucas de Aragão, diretor da consultoria política Arko Advice e colunista de EXAME Hoje. “Temer hoje está em uma situação em que usa o capital político para sobreviver. Ponto”.

O cenário sem Temer também não é simples. Maia assumiria por 180 dias até que Temer seja julgado pelo Supremo, sendo que o presidente poderia ser absolvido ou voltar ao poder caso os ministros não terminassem a ação penal, gerando mais instabilidade. Em caso de eleições indiretas, a agenda de reformas pode parar mais uma vez, enquanto Maia divide seu capital político entre aprovar a nova Previdência e conseguir votos para sua eleição.

“Caso o melhor dos cenários se desenhe para Maia, ele assumiria em uma posição muito menos ‘na defensiva’ do que Temer está agora e seria capaz de aprovar uma reforma da Previdência menos desidratada. Mas são muitas questões que precisariam se resolver para que isso aconteça”, diz Aragão.

Cortez, da Tendências, concorda: “Uma reforma dessa natureza em ‘condições normais de temperatura e pressão’ já teria dificuldades de sobrevivência, quanto mais na atual conjuntura. As reformas, principalmente a da Previdência, serviram para justificar a ruptura de coalisões, o impeachment de Dilma e podem servir para justificar essa transição que está em curso, porque o mercado cobraria um custo alto se a agenda for abandonada. Mas se olharmos no Legislativo, é muito difícil que a da Previdência saia do jeito que está”.

O toque final de incerteza vem da Operação Lava-Jato. Rodrigo Maia, segundo os executivos-delatores da Odebrecht, é conhecido nas planilhas de caixa dois de campanha do setor de propinas da empresa como “Botafogo”. A empresa afirma que foram feitos repasses sucessivos nas campanhas de 2008 a 2014 e a compra de uma medida provisória em 2013. Foi aberto um inquérito contra ele no Supremo Tribunal Federal, que permanece adormecido.

Mas prego que se destaca, é martelado. A revista VEJA traz na capa da edição desta semana que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) acusará Maia em sua delação premiada de ser intermediário de “interesses empresariais na máquina pública e destinatário de recursos de origem ilícita”. Entre os anexos de sua colaboração, há todo um capítulo para o presidente da Câmara. O turbilhão político no Brasil é, de fato, uma espiral sem fim.

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