Do que os policiais brasileiros mais têm medo
Estudo inédito mostra percentuais de agentes que já sofreram ameaças, tiveram parceiros mortos e como se sentem com relação às orientações de superiores
Da Redação
Publicado em 30 de outubro de 2015 às 10h22.
Última atualização em 3 de agosto de 2017 às 15h34.
São Paulo – A ameaça à vida e ao equilíbrio mental dos policiais brasileiros não está restrita às ruas. Um estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado esta semana mostra que, além de serem alvo fácil da violência urbana , a maior parte dos agentes de segurança do país sofrem com situações de assédio moral dentro do ambiente de trabalho e com a discriminação social fora do expediente por causa da profissão. O resultado não poderia ser mais perverso: 15,6% dos policiais brasileiros já foram diagnosticados com algum tipo de distúrbio psicológico. Nesta semana, um levantamento do Datafolha revelou que 62% dos brasileiros temem a violência policial. Outro estudo feito pelo Ibope Inteligência mostra que os brasileiros encaram a polícia com certa desconfiança. A instituição marcou apenas 50 pontos em uma escala de 0 a 100 no índice de confiabilidade aplicado pela consultoria. A “Pesquisa de vitimização e risco entre profissionais do sistema de segurança pública”, do Fórum de Segurança Pública, ouviu mais de 10.300 agentes e foi produzida em parceria com o Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas da FGV e o Ministério da Justiça . Foram ouvidos integrantes das polícias Militar , Civil , Rodoviária Federal, Federal , Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal e agentes penitenciários de todo o Brasil .
Confira os principais resultados nas fotos.
Entre as principais situações de vitimização ao longo da carreira está a ameaça em serviço. Três a cada quatro policiais já sofreram com algo do tipo. Durante as folgas, o grupo que foi ameaçado cai para 53% dos entrevistados. Cerca de 36% deles afirmam também que tiveram familiares nessa situação. Vítimas concretas de violência ou ameaçados por retaliação são cerca de 27%.
Ainda no quesito vitimização, o número de servidores de todas as corporações que tiveram colegas próximos assassinados durante o expediente é próximo de 62%. Entre PMs, o índice cresce 11 pontos percentuais, para 73%. Considerando as mortes de colegas fora de serviço, os números sobem para 70% dos servidores. Isolando os PMs, 77% afirmam ter algum parceiro que foi morto.
Abuso de poder, tortura, forja de flagrantes e corrupção são algumas das acusações frequentes entre cargos de autoridade que exemplificam esse problema. Mais de 45% dos entrevistados disseram temer sanções judiciais e 25% têm medo de serem investigados pela Corregedoria das polícias. Quando o assunto é assédio moral, no entanto, 63,5% dos entrevistados afirmam ter sido vítimas da prática. Quase 53% disseram ter receio "alto ou muito alto" de manifestar discordância com relação a ordens de um superior.
Em termos percentuais, isso significa cerca de 16% do total. Além da pressão cotidiana do trabalho, metade diz já ter passado por dificuldades de garantir o sustento da família. São características como essas as principais causadoras de desestabilização psicológica dos profissionais.
É a mesma porcentagem daqueles que temem ser assassinados fora do horário de trabalho. Cerca de 38% acreditam que correm maior risco de morte em serviço. São 30% que sentem mais receio durante as folgas. Outros 30% responderam que sentem riscos equivalentes em qualquer situação. Dados do VIII Anuário Brasileiro de Segurança Pública dizem, no entanto, que 75% das mortes de policiais em 2013 ocorreram mesmo durante o expediente.
Esta é a segunda maior preocupação entre os fatores que geram insegurança de procedimentos. O maior é a impunidade de infratores, que geram solturas e vinganças. A falta de apoio do comando também aflinge 55% dos participantes da pesquisa. Cerca de 54% também reclamam de falta de equipamentos de proteção pessoal. Falta de diretrizes clara para procedimentos básicos como abordagem, apreensões e orientação para momentos de uso da força geram receio alto ou muito alto em 51% dos entrevistados. Na Polícia Federal, o índice sobe para 70%.