Primeiro na linha sucessória de Temer, Maia é investigado no STF
O presidente da Câmara dos Deputados foi citado por delatores da Odebrecht sobre repasses, via caixa dois, nas eleições de 2008, 2010 e 2012
Estadão Conteúdo
Publicado em 7 de julho de 2017 às 12h56.
Última atualização em 7 de julho de 2017 às 13h25.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), primeiro na linha sucessória de Michel Temer (PMDB-SP), também é alvo de inquéritos no Supremo Tribunal Federal. Recaem sobre ele citações de delatores da Odebrecht sobre repasses, via caixa dois, nas eleições de 2008, 2010 e 2012.
O valor total dado pela empreiteira, às margens da lei eleitoral, é de R$ 1 milhão, segundo relataram os colaboradores à Procuradoria-Geral da República.
Nas planilhas do departamento de propinas da Odebrecht, Maia era identificado por 'Botafogo', time pelo qual torce.
Relatório da Polícia Federal também chegou a apontar,supostas propinas de R$ 1 milhão da OAS ao parlamentar, em 2013.
Maia pode assumir a Presidência se Temer não resistir à pressão política que sofre desde que a Procuradoria-Geral da República o denunciou pelo crime de corrupção passiva no caso JBS.
Em um inquérito, o presidente da Câmara é citado como integrante de um grupo de deputados que teria ajudado, em troca de doações não contabilizadas, a Braskem com alterações no texto da Medida Provisória 613/2013, que tratava de benefícios fiscais a produtores de etanol por meio da redução de PIS/Pasep e Cofins.
O delator Cláudio Melo filho, que era funcionário do Setor de Operações Estruturadas, o "departamento de propinas" da Odebrecht, relatou que o lobby da empreiteira pela iniciativa envolveu a abertura de um caixa de R$ 7 milhões para os senadores e deputados que se comprometessem a colaborar com os anseios do grupo.
Segundo o inquérito, teriam sido beneficiados os senadores Romero Jucá (PMDB-RR), com quem teria sido feito o primeiro contato da empreiteira sobre o tema no Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), Eunício Oliveira (PMDB-CE), o então líder do DEM, Rodrigo Maia, e Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), irmão do ex-ministro do governo Temer, Geddel Vieira Lima, preso desde segunda-feira, 3, na Papuda.
Segundo Cláudio Melo Filho, o principal contato na Câmara era com Lúcio, mas, por relações pessoais de amizade, chegou a procurar Maia.
"Conhecia o deputado e sabia que se eu pedisse, ele olharia com carinho", afirmou.
Melo Filho, da Odebrecht, afirmou que, apesar de não ter recebido a ajuda esperada do deputado, recebeu uma solicitação. "Ele perguntou: 'Cláudio, tem como ajudar?' Ele tinha sido candidato em 2012 e ficou um resto de campanha a pagar".
A título da possível ajuda com a Medida Provisória que beneficiaria em especial a Braskem (empresa do setor petroquímico pertencente à Odebrecht), Maia teria recebido R$ 100 mil, em 2013, via caixa dois, sob o codinome de seu time do coração, o Botafogo.
Em outro inquérito contra o presidente da Câmara, o mesmo delator relatou ter indicado pagamentos de R$ 350 mil, em 2008, quando Maia se candidatou, sem sucesso, à Prefeitura do Rio de Janeiro, e R$ 600 mil em 2010, em sua campanha a deputado federal.
No âmbito da Operação Lava Jato, a Polícia Federal chegou a identificar mensagens de celular entre Maia e o empreiteiro Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, que apontavam para supostas propinas de R$ 1 milhão ao deputado.
Segundo o inquérito da PF, em troca dos valores, o parlamentar teria defendido interesses da empreiteira no Congresso, entre 2013 e 2014, como na apresentação de emenda a uma Medida Provisória que definia regras para a aviação regional, em benefício da construtora.
À época em que as investigações foram reveladas, o presidente da Câmara afirmou que elas eram 'um absurdo'.