O pior da pandemia está longe de acabar para o Brasil, alerta ONU
Em relatório econômico, a Organização das Nações Unidas projeta um crescimento maior da economia mundial em 2021, apesar de expectativa mais pessimista para países da América Latina
Fabiane Stefano
Publicado em 11 de maio de 2021 às 17h30.
Última atualização em 11 de maio de 2021 às 18h00.
O pior momento da pandemia está longe de acabar para o Brasil e países da América Latina como a Argentina, Peru e Colômbia, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) em relatório sobre a perspectiva de crescimento global no segundo semestre de 2021, publicado nesta terça-feira, 11.
Com uma situação pior em abril deste ano do que no fim de 2020, que acomete boa parte dos países emergentes, inclusive o Brasil, de contaminações do coronavírus, e em meio a um espaço fiscal insuficiente para estímulos, muitos desses países enfrentarão crescimento baixo ou estagnado e a perspectiva de uma década perdida economicamente, apontam as Nações Unidas.
Segundo o relatório, a maioria dos países emergentes ficarão com índices econômicos abaixo dos registrados em 2019 pela maior parte do ano de 2021.
Apesar da notícia negativa para as nações menos desenvolvidas, a ONU melhorou no relatório de hoje sua projeção para o crescimento global, e agora estima que a economia mundial crescerá 5,4% em 2021. Em janeiro, a organização havia previsto um crescimento de 4,7%. A melhora ocorreu pela expectativa de crescimento mais forte dos Estados Unidos, cuja economia deve expandir 6,2% no ano, e da China, que deve ter alta de 8,2% em seu PIB.
Para o Brasil, o órgão internacional reduziu ligeiramente a expectativa do crescimento de 3,2% previstos em janeiro para 3%. Já para a região da América Latina e Caribe, a organização espera crescimento de 4,3% neste ano depois da retração de 7,3% em 2020.
O cenário base prevê que a atividade econômica em setores de serviços onde há contato intensivo entre pessoas deve aumentar gradualmente à medida que a vacinação progride na região, o que pode apoiar uma leve recuperação do mercado de trabalho. No Brasil, no entanto, o aumento da inflação devido aos preços mais altos das commodities e pressões cambiais podem levar a aperto monetário e prejudicar ou atrasar a recuperação.
Fatores determinantes ao crescimento
Além da vacinação, o que determinará o ritmo de recuperação dos países, segundo o relatório, é a estrutura econômica e a dependência das economias de certos setores.
Economias dependentes do turismo, por exemplo, tiveram contração mais acentuada em 2020. As que dependem de commodities também enfrentaram dificuldade similar. Apesar da perspectiva de melhora neste ano, esses países ainda devem ter uma recuperação mais lenta em relação às dependentes de setores de manufatura.
O tamanho dos estímulos e sua eficácia também ditarão o ritmo de recuperação nas economias, segundo o relatório, que aponta que em março de 2021, os governos de todo o mundo comprometeram 16 trilhões de dólares em estímulos fiscais, o equivalente a cerca de 19% do produto bruto mundial em 2020.
"Países que introduziram políticas em larga escala para apoiar os mercados de trabalho e as empresas foram capazes de minimizar as perdas de emprego e renda", diz a análise.
Aumento da desigualdade e pobreza
O relatório ressalta que a pandemia exacerbou fragilidades socioeconômicas e gargalos estruturais da América Latina. A perda de empregos afetou desproporcionalmente os trabalhadores informais e grupos vulneráveis, agravando as desigualdades de renda, aponta. A crise educacional causada pelo fechamento de escolas na região, segundo o órgão, também pode impedir a formação de capital humano e o crescimento futuro da produtividade nos países.
No mundo, o impacto econômico da pandemia piorou a pobreza e a desigualdade nos países. A queda do PIB per capita em 2020, de 4,6%, se concentrou nas camadas mais baixas de renda.
A pobreza extrema atingiu uma estimativa de 114,4 milhões de pessoas a mais em 2020, das quais 57,8 milhões são mulheres e meninas. "A crise teve forte efeito adverso em mulheres e meninas em diversas partes do mundo, que sofreram perdas significativas de emprego e renda, contribuindo para o agravamento das disparidades de gênero em relação à pobreza", diz o relatório.
Nos países emergentes, as mulheres também sofreram mais com o desemprego e tiveram quedas maiores de participação na força de trabalho do que homens. "Na América Latina, por exemplo, o progresso de uma década das taxas de participação de mulheres no mercado de trabalho foi perdida", lembra.
O Brasil foi um dos países em que a renda de mulheres, considerando os ganhos advindos de trabalho e políticas de transferência de renda, caiu mais do que a de homens durante a pandemia, aponta a organização.