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O elemento que impulsionou a votação de Bolsonaro no estado do RJ

Jair Bolsonaro (PL) teve 11 pontos de vantagem para Lula (PT) na votação de primeiro turno entre os eleitores fluminenses

Rio de Janeiro: no estado, Bolsonaro teve 51% dos votos válidos. (Wagner Meier/Getty Images)

Rio de Janeiro: no estado, Bolsonaro teve 51% dos votos válidos. (Wagner Meier/Getty Images)

GG

Gilson Garrett Jr

Publicado em 8 de outubro de 2022 às 08h30.

O Rio de Janeiro é o estado com a maior proporção de evangélicos no Brasil, com 26% da população, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A título de comparação, São Paulo tem 21%, e Minas Gerais, 18%. Em todo o Brasil, a parcela que se declara evangélica soma 19%.

Apesar da votação do presidente ter sido menor no estado em 2022 (4,8 milhões), se comparado com 2018 (5,1 milhões), o eleitorado evangélico foi fundamental para o presidente Jair Bolsonaro (PL) ter uma votação em proporção superior a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) entre os fluminenses - 51% a 40% dos votos válidos. O grupo ajudou, inclusive, a reeleger o governador Cláudio Castro (PL) no primeiro turno, com 58,67% dos votos válidos.

Não há dados específicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre como votam os eleitores evangélicos, mas a última pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA antes do primeiro turno, divulgada no dia 29 de setembro, revela sinais da escolha destes eleitores. De acordo com a sondagem 60% dos eleitores evangélicos pretendiam votar em Bolsonaro no dia 2 de outubro. Na série histórica da pesquisa, essa parcela do eleitorado é uma das mais fiéis ao presidente, sempre com taxa de intenção de voto superior a 50%.

Para a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mayra Goulart, foi justamente esse eleitorado, em especial no Rio de Janeiro, que deu ao presidente Jair Bolsonaro votos acima do esperado pelas pesquisas de intenção de voto. Segundo a pesquisadora, isso ocorreu porque a metodologia das pesquisas de intenção de voto usa dados do último Censo, realizado em 2010.

"A nossa estimativa é que o estado do Rio de Janeiro tenha uma população evangélica que corresponde a 40% do total. Os pastores funcionam como cabos eleitorais, o que na ciência política chamamos de brokers, porque eles conseguem ser intermediários ou vendedores da ideia de um candidato, que no caso é Jair Bolsonaro" diz.

Na pesquisa eleitoral EXAME/IDEIA feita no dia 22 de setembro, duas semanas antes do primeiro turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aparecia com 41% das intenções de voto no Rio de Janeiro, e Bolsonaro com 39%. Para o governo do estado, Castro tinha 35% das intenções de voto, e Marcelo Freixo (PSB), 27%.

O professor da FGV de São Paulo e também cientista político, Eduardo Grin, avalia que o peso dos evangélicos nesta eleição no Rio de Janeiro foi sub-representada pelas pesquisas de intenção de voto. "Há outra questão dessa votação expressiva e que não podemos desprezar, que é o fato do Rio de Janeiro ser o berço político de Bolsonaro. O candidato á reeleição conseguiu uma série de outros candidatos para fazer campanha para ele", explica.

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Essa relação com a eleição no Legislativo também foi relevante para uma vantagem de Bolsonaro em relação a Lula no Rio de Janeiro, na avaliação da professora Mayra Goulart. Segundo a pesquisadora, que tem diversos trabalhos que analisam os eleitores do presidente desde que ele era deputado federal, as elites políticas locais têm as mesmas pautas que o presidente.

"São elites políticas tradicionais patriarcais, punitivistas, com críticas à esquerda, muitas vezes ligadas a milícias, que é uma realidade muito fluminense. São identidades fisiológicas entre pessoas que conseguem ver na sua vida pessoal uma identificação com o Bolsonaro", afirma.

Outro ponto destacado pelos professores, e que ajuda a entender como os candidatos a deputado e a senador se empenharam para puxar votos a Bolsonaro, foi o chamado orçamento secreto, que liberou recursos federais em locais onde muitos parlamentarem tentavam a reeleição. Isso impulsionou a campanha do presidente e de quebra ajudou a eleger um Congresso alinhado com Bolsonaro. O seu partido, o PL, se tornou a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 99 deputados federais.

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Para o segundo turno, há uma dúvida sobre como essas elites locais do Rio de Janeiro vão se comportar, uma vez que já está definida a eleição no poder Legislativo. No campo dos evangélicos, o jogo tende a ficar ainda mais acirrado.

O ex-presidente Lula tem, na próxima semana, agenda em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, justamente com líderes evangélicos. O petista também pretende lançar uma carta para dialogar com este eleitorado. Do lado de Bolsonaro, estão escaladas a senadora eleita e ex-ministra Damares Alves (Republicanos) e a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para tentar atrair ainda mais votos evangélicos e do eleitorado feminino, mais pró-Lula.

Na primeira pesquisa Datafolha de intenção de voto após o primeiro turno, o ex-presidente Lula tem 53% dos votos válidos, e o presidente Bolsonaro, 47%. A sondagem foi encomendada pelo jornal Folha de S. Paulo e TV Globo, divulgada nesta sexta-feira, 7. Para os votos válidos, são desconsiderados brancos, nulos e as pessoas que dizem que não sabem. É desta forma que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) faz a contagem oficial da eleição. 

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