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O desafio da inclusão digital

Para levar a internet banda larga a todos os municípios do país, as operadoras precisam investir 650 milhões de reais numa rede de fibra óptica

Clientes de um cibercafé paulistano:os brasileiros ditam tendências (--- [])
DR

Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2010 às 13h30.

No final de agosto, o site de compartilhamento de fotos Fotolog, baseado em Nova York, foi vendido à francesa Hi Media, terceira maior empresa de propaganda na internet da Europa, por 90 milhões de dólares. Lançado em 2002, o Fotolog chamou a atenção dos franceses por ter entrado no ranking dos 20 sites mais visitados do mundo. A cada mês, são cerca de 15 milhões de visitantes únicos de 200 países, que acessam mais de 3,3 bilhões de páginas. Esse fenômeno da internet deslanchou graças aos usuários brasileiros. Foram eles os primeiros a ser atraídos pela idéia de manter gratuitamente um diário online para compartilhar fotos pessoais com amigos. Reconhecendo o papel dos brasileiros na divulgação do site, o presidente da Fotolog, o americano John Borthwick, um ex-executivo de tecnologia da Time Warner e da AOL, escreveu em seu blog: "Os brasileiros viraram fortes antecipadores dos fenômenos globais da internet -- do ICQ ao Hotmail, do Orkut ao Fotolog. Eles parecem ter uma aptidão para a adoção precoce de plataformas sociais globais". Na comunidade virtual do Orkut, os brasileiros representam 58% dos usuários no mundo. No MSN Messenger, o serviço de troca de mensagens instantâneas da Microsoft, 12% dos usuários estão no Brasil, mais do que em qualquer outro país no mundo.

Há outros indicadores que mostram que o Brasil é um fenômeno mundial da internet. O país lidera o ranking internacional de tempo de navegação na rede de computadores (veja quadro). Seus mais de 20 milhões de usuários ativos ficam, em média, 22 horas por mês plugados na rede em suas casas. No início de novembro, a Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou que o Brasil tem a sexta maior população de internautas do mundo: 39 milhões de pessoas. Muitas começaram a acessar a rede nos últimos anos graças ao barateamento e à explosão da venda de computadores -- de 4,2 milhões de unidades em 2004 para mais de 10 milhões em 2007.

Veja também

Os campeões da navegação
Os brasileiros são os que passam mais tempo plugados na internet
Média mensal de navegação(1)Número de usuários ativos(2)
Brasil22 horas20 100
Estados Unidos18h54min146 853
França18h36min23 418
Japão18h21min46 584
Reino Unido18h13min26 277
Alemanha17h35min34 657
Austrália17h23min10 709
Espanha16h59min15 340
Itália14h49min18 633
Suíça14h15min3 759
(1) Em setembro de 2007, por usuário
(2) Usuários ativos: moradores de domicílios em que há um computador com internet e que de fato navegaram na rede durante o mês
Fontes: Ibope/NetRatings

Esses dados positivos, no entanto, não escondem uma realidade: a internet ainda é um serviço distante da maioria dos brasileiros. Apenas 21% deles têm acesso à rede de computadores, ante 69% nos Estados Unidos. Além disso, somente 13% dos domicílios no país contam com conexão em banda larga -- e 40% desses acessos se concentram no estado de São Paulo. "Temos um desafio muito grande a enfrentar, que é a enorme desigualdade digital dentro do próprio país, muito mais dramática do que a diferença entre o Brasil e os países desenvolvidos", diz o sociólogo argentino Jorge Werthein, presidente da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), organismo intergovernamental com sede no Brasil.

Atualmente, o consumidor brasileiro que quiser ter conexão em banda larga em sua casa, na velocidade mais baixa, gasta no mínimo 50 reais por mês, ou 26 dólares. Na Argentina, esse mesmo serviço custa 19 dólares. Hoje, 65% dos 5 560 municípios brasileiros ainda não são atendidos por banda larga. "As empresas oferecem esse serviço apenas nos mercados onde acreditam que terão lucro", diz Vinicius Caetano, analista da consultoria IDC. "A estratégia delas é lançar, aos poucos, conexões com velocidades maiores e retirar do mercado as com velocidades menores, sem reduzir os preços na faixa mais baixa, pois a margem de 50 reais já é pequena."

O principal obstáculo para levar banda larga a todo o país é o custo. As operadoras de telefonia teriam de integrar todas as cidades com uma rede de 8 000 quilômetros de fibra óptica, investimento de cerca de 650 milhões de reais. Depois, precisariam gastar muito mais para levar o serviço a cada bairro dentro de cada cidade. "Grande parte dos municípios sem acesso à internet hoje tem uma demanda muito pequena. Se pensarmos em investimento e retorno, a conta não fecha", afirma Caetano.

Para o analista, é necessário dar incentivos para que as empresas façam a ligação de todas as cidades brasileiras. "O governo precisa dar algo em troca para as operadoras", diz Caetano. Esse "algo" poderia ser a redução da carga tributária -- que atualmente representa 40% da receita das operadoras. Poderia ser também a aplicação adequada das verbas do Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust) -- que, até julho de 2007, acumulava um saldo de 6 bilhões de reais. "Inclusão digital é um objetivo social, e o governo precisa fazer a sua parte", diz Caetano.

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