Mourão diz que não vê problema se Bolsonaro escolher outro vice em 2022
Apesar das divergências públicas, Mourão afirmou que gostaria de disputar a reeleição com Bolsonaro em 2022
Reuters
Publicado em 15 de julho de 2019 às 15h35.
Última atualização em 15 de julho de 2019 às 15h35.
Rio de Janeiro — O vice-presidente da República, general da reserva Hamilton Mourão , afirmou nesta segunda-feira que não vê "problema nenhum" se o presidente Jair Bolsonaro escolher um outro vice para montar uma chapa para tentar a reeleição em 2022.
Em entrevista à Reuters, após coletiva de imprensa com jornalistas de veículos estrangeiros, Mourão afirmou que seria "ótimo" fazer parte dessa futura chapa, mas minimizou uma eventual preferência de Bolsonaro por outro nome.
"O presidente já manifestou o desejo de reeleição e se ele quiser que eu continue ao lado dele, ótimo, mas se não quiser e precisar de uma outra pessoa para fazer uma composição distinta de chapa, para mim não há problema nenhum. Estou aqui para servir ao Brasil e o governo do presidente", disse.
Mesmo com apenas sete meses de mandato, Bolsonaro já revelou que pode se candidatar à reeleição no próximo pleito e especula-se que ele poderia negociar a vaga de companheiro de chapa com outro partido e com setores evangélicos.
Bolsonaro e Mourão chegaram a divergir publicamente no começo de governo, o que teria causado um certo desgaste na relação entre eles. O vice revelou que o presidente pediu que diminuísse a exposição pública.
Mourão minimizou a saída de militares do governo e disse não acreditar que isso represente um perda de força. Nos primeiros meses de governo, os militares chegaram a ser apontados como moderadores e ponto de equilíbrio de uma gestão marcada por decisões e opiniões polêmicas.
"Ao substituir o general Santos Cruz ele colocou um ministro oriundo da área militar e general da ativa", argumentou Mourão.
"Não vejo que os militares estivessem lá para tutelar o presidente ou controlar, e cada um está lá para cumprir sua tarefa. Vejo como perfeitamente normal fazer essas trocas dentro da visão que ele julga melhor para cumprir objetivos", acrescentou.
Ruídos na equipe de governo causaram a queda de alguns militares, em particular do general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz, que comandava a Secretaria de Governo.
Meio ambiente
Na entrevista a veículos estrangeiros, Mourão tratou da crise na Venezuela, eleições na Argentina, meio ambiente, e questões nacionais, como a possível indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, como embaixador em Washington.
Em meio a críticas locais e internacionais ao aumento do desmatamento da Amazônia e à política ambiental brasileira — especialmente à liberação de agrotóxicos, às propostas de mudanças no Fundo Amazônia e o alinhamento do ministro Ricardo Salles com produtores rurais —, Mourão reiterou apoio do governo Bolsonaro ao Acordo de Paris sobre o clima e à preservação dos biomas e florestas brasileiras.
Mourão insinuou, no entanto, que por trás da preocupação global com a preservação do meio ambiente brasileiro podem estar interesses comerciais de outros países que tentam impedir um avanço maior do Brasil no cenário internacional.
"Nosso governo não deixará em nenhum momento de buscar a preservação dos nossos biomas", declarou o vice. "Um aspecto é o das pessoas preocupadas com o ambientalismo. E há outro aspecto, onde o potencial do Brasil de produção agrícola e mineral é enorme. Então também serve como pressão para que não haja expansão maior dessa produção", disse Mourão.
Sobre as eleições na vizinha Argentina, que podem levar de volta ao poder a esquerda, Mourão adotou tom mais diplomático que Bolsonaro e declarou que o governo brasileiro torce pela reeleição do presidente Maurício Macri, ao mesmo tempo que ressaltou que Brasil e Argentina sempre terão uma relação de Estado, independentemente dos seus presidentes.
"Vamos buscar benefício mútuo independente de quem for eleito", frisou Mourão.
Em relação à Venezuela, o vice-presidente disse não ver solução para a crise no curto prazo e destacou que um bom resultado depende de vários atores que têm influência sobre o país vizinho como China, Rússia e Cuba.
"Não vemos no curto prazo um desfecho para essa crise... a Rússia é grande fornecedora de armas e os cubanos controlam milícias e serviço de inteligência.
"(A Venezuela) é um país dividido e é uma divisão com corte vertical pela sociedade. O país vive um situação complicada e compete às demais nações auxiliar na busca por uma solução concertada e que leve a novas eleições", avaliou.
Eduardo e Moro
Uma outra posição polêmica do atual governo é possível indicação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal mais votado na eleição do ano passado e filho do presidente, para ocupar a embaixada do Brasil em Washington, um dos cargos mais importantes da diplomacia brasileira.
O deputado federal não tem carreira diplomática e sua indicação é considerada por alguns especialistas potencialmente ilegal por implicar em nepotismo. Mourão disse que a decisão cabe a Bolsonaro e disse que Eduardo cumpre os requisitos para ocupar o posto.
"Ele (Eduardo) está dentro dos requisitos colocados para aqueles que não são da carreira diplomática. É uma decisão do presidente, que ele não discutiu com todos os seus conselheiros, e depois tem que passar pelo crivo do Congresso. Não vejo nenhum problema nessa questão", disse.
Em um discurso mais alinhado ao de Bolsonaro, Mourão saiu em defesa do ministro da Justiça, Sergio Moro, em meio às supostas mensagens divulgadas pelo site The Intercept Brasil que indicariam que o ministro, quando era juiz da operação Lava Jato em Curitiba, orientava os procuradores responsáveis pelas acusações do caso.
O vice classificou Moro como figura "imprescindível" para o governo e disse não ter visto nenhuma irregularidade nas alegadas mensagens divulgadas pelo site.