Maioria dos brasileiros estão apreensivos com o clima e otimistas com a IA, diz estudo da Ipsos
Instituto fez levantamento global sobre tendências na sociedade e no consumo
Repórter de macroeconomia
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 14h59.
Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 16h46.
A maioria dos brasileiros, 85% deles, acredita que o mundo caminha para um desastre ambiental sem volta, caso as pessoas não mudem seus hábitos. Ao mesmo tempo, 73% dizem que a inteligência artificial vai facilitar seu trabalho.
Os dados foram revelados pelo estudo Ipsos Global Trends, um levantamento feito com base em mais de 50 mil entrevistas em 50 países e apresentado em São Paulo na manhã desta terça, 29.
A pesquisa apontou 10 tendências globais para 2025. São elas:
- Fraturas da globalização, vista como problema em alguns países
- Sociedades fragmentadas (novas ideologias e movimentos políticos)
- Convergência climática
- Entusiasmo com a tecnologia
- Saúde consciente
- Retorno aos modelos antigos
- Novo niilismo
- Poder da confiança
- Fuga ao individualismo
Sobre clima, a pesquisa aponta que as mudanças climáticas impactam cada vez mais diretamente as pessoas, que passam a esperar um papel mais ativo das marcas e mais investimentos em energias renováveis.
Uma das perguntas da pesquisa era se os entrevistados concordavam com a frase que "estamos caminhando para um desastre ambiental, a menos que mudemos nossos hábitos rapidamente". No Brasil, 85% disseram concordar com a frase, ante 80% na média global.
A preocupação com o tema aumentou no último ano: em 2023, 75% dos brasileiros disseram concordar com a frase. "Falar de ESG não é novo. A urgência do assunto é a novidade", diz Luciana Obniski, líder de curadoria da Ipsos Brasil. Ela lembra que nos últimos meses houveram graves problemas gerados pela crise climática no país, como as enchentes em Porto Alegre e um apagão que afetou a cidade de São Paulo por vários dias.
Para 83% dos brasileiros, as empresas e marcas não fazem o suficiente pelo meio ambiente. E 85% defendem que o governo deveria ser mais rígido com empresas que causam danos ao ambiente.
Mercado de Porto Alegre recuperado após enchente
Sentimento dúbio sobre a tecnologia
Os brasileiros têm uma visão dúbia sobre as vantagens da tecnologia. Dentre os entrevistados no Brasil, 73% dizem que a inteligência artificial vai facilitar seu trabalho, e 65% dizem esperar que a nova tecnologia terá um impacto positivo no mundo.
"O Brasil é muito aberto à tecnologia em função da pobreza dos serviços que são oferecidos, especialmente serviços públicos", diz Marcos Callari, CEO da Ipsos Brasil. Isso ajudaria a explicar a ampla adesão dos brasileiros a aplicativos como WhatsApp e Instagram, cujas taxas de uso no país estão entre as maiores do mundo. Além do uso para lazer, essas plataformas ganham espaço para a compra de produtos e serviços e para resolver problemas do dia a dia.
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Por outro lado, 68% dizem temer que o progresso tecnológico esteja destruindo nossas vidas. Na média global, 57% concordam com a afirmação.
"Há uma preocupação de que a tecnologia tenha ido longe demais, ou possa ir longe demais", diz Juliana Chaves, diretora de inovação da Ipsos.
Os especialistas do Ipsos apontam que, por um lado, a IA já traz avanços reais, como ajudar em diagnósticos de câncer e eliminar tarefas burocráticas. Por outro, no entanto, o aumento do uso de IA em atendimentos tem tornado mais difícil o caminho para falar com uma pessoa real ao procurar uma empresa, o que gera incômodo nos clientes.
Volta ao passado
O estudo apontou ainda algumas tendências que mostram uma falta da confiança dos mais jovens no futuro. Isso se traduz de várias formas, como um interesse maior em aproveitar o presente sem pensar no futuro e um desejo de volta ao passado.
Segundo a pesquisa, a maioria dos brasileiros diz ser importante aproveitar o hoje (62%) e que prefere viver o presente porque o futuro é incerto (66%).
A pesquisa apontou ainda que 56% dos brasileiros disseram que gostariam que o país fosse como era antes, sem precisar um período específico.
O estudo aponta que o maior desejo de voltar ao passado vem dos homens da geração Z, que tem menos de 30 anos. Esse perfil estaria se sentindo mais desvalorizado, pois o papel masculino está mais confuso, e tem defendido de forma maior posturas conservadoras, como a de que mulher precisa ficar em casa.
"O papel do masculino está mais confuso. Os homens da geração Z acabam lutando para encontrar um propósito, têm um sentimento de solidão, falta de ambição profissional e de perspectivas para o futuro. Aí eles acabam buscando referências no passado, inclusive no passado que não viveram", aponta Cintia Lin, head de Creative Excellence da Ipsos Brasil.
Esse movimento tem estimulado o lançamento de produtos com foco no passado, como filmes, séries e comidas, como chocolates e biscoitos que tinham saido de linha há décadas e estão retornando.
Por outro lado, a Ipsos aponta que as mulheres da geração Z estão mais animadas em relação ao futuro, especialmente por conta das políticas de inclusão e de avanço na carreira.
O estudo aponta ainda uma ampla defesa da diversidade: 75% dos brasileiros disseram acreditar que o mundo seria melhor se houvesse mais mulheres na liderança e 77% apontam que pessoas trans deveriam ser livres para viverem suas vidas como quiserem.