Lewandowski: "parece até que ele está do nosso lado", cochichou um tucano graúdo sobre impeachment (Divulgação / Agência Senado)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2016 às 09h10.
Brasília - Desde o último dia 9, quando começou a fase da pronúncia do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff no Senado, o ministro Ricardo Lewandowski, quatro assessores e três juízes auxiliares se acostumaram a deixar o Supremo Tribunal Federal após as 22 horas. Lewandowski acumula as presidências do STF e do processo de afastamento de Dilma.
Até o início da semana, era depois das sessões da Corte, que vão até as 18 horas, que os trabalhos na presidência do impeachment começavam.
Na reta final, chegou a se distrair em um debate constitucional com os outros ministros: "Desculpem, estou com uma questão importante do impeachment", justificou-se. Desde quinta-feira, 25, Lewandowski dedica o dia todo às sessões no Senado.
A nomeação ao Supremo pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006, e sua atuação no processo do mensalão - do qual foi revisor e fez contraponto ao relator Joaquim Barbosa - renderam a Lewandowski, 68 anos, uma imagem de magistrado ligado ao PT.
O ministro virou até boneco inflável levado nas manifestações contrárias ao governo Dilma. O "Petrolowski" é um boneco com a imagem do ministro segurando uma balança - o prato que carrega a estrela do PT pesa mais do que o que leva a bandeira do Brasil.
No dia seguinte à fase da pronúncia, o gabinete de Lewandowski recebeu ligações de parlamentares pró-impeachment, que o elogiaram.
"Parece até que ele está do nosso lado", cochichou um tucano graúdo. "Para ele, é mais um processo", disse um assessor no tribunal sobre a metodologia de trabalho. Outra fonte de sua confiança refez a frase: "Para ele, é 'o' processo".
A assessores próximos, Lewandowski confidenciou: o impeachment é um processo histórico e qualquer desvio da linha da isenção e da legalidade ficará registrado no futuro.
Consciente do tamanho do impeachment na história - e em sua biografia - Lewandowski externou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o desejo de que o processo se encerrasse antes de sua saída da presidência do STF, no próximo dia 12. Pediu a mesma celeridade na votação do projeto que reajusta o subsídio de ministros da Corte.
Se de um lado Lewandowski cuida para não pender aos apelos de aliados de Dilma, de outro, preocupa-se em não dar margem à tese de que há um golpe no afastamento da petista.
Ao Congresso, Lewandowski costuma apelar por um "acordo de damas e cavalheiros". Descendente de suíços e com educação rigorosa, o ministro relatou a assessores que um dos momentos de maior desconforto é cortar o microfone de parlamentares que se excedem, como fez com Gleisi Hoffmann (PT).
Quinta-feira, 26, chegou a suspender a sessão por 5 minutos após bate-boca entre senadores. Também se irritou com o fato de senadores terem aproveitado o momento de questionar testemunhas para defender posições políticas.
"Nós temos que evitar isso. Eu tenho procurado não ser o censor dos eminentes integrantes desta elevada Casa, mas vejo que, se assim continuarmos, vamos ingressar madrugada adentro, vamos ocupar todo o final de semana", disse após fala do tucano Cássio Cunha Lima.
Ao Senado, Lewandowski fez um único pedido: um local para usar no curso do processo. A sala de Jorge Viana (PT), vice-presidente da Casa, foi cedida. Lá conversa com assessores, come e se abriga das selfies do senador Magno Malta (PR).
No Instagram, Malta teve mais de mil curtidas em uma das fotos com "Lewandovsky" - como escreveu.
Há especulação sobre um acordo com o Planalto para a aposentadoria precoce. Em troca, estaria a indicação a um órgão internacional.
Assessores dizem que ele continua no STF - e com currículo atualizado, no qual deixa para trás os votos de absolvição de petistas no mensalão e conclui o impeachment de Dilma.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.