Indícios apontam que havia 'Abin paralela', diz novo nº 2 da agência
Inquérito da Polícia Federal apura a suspeita de uso indevido da Abin para monitorar pessoas consideradas adversárias de Bolsonaro
Agência de notícias
Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 08h41.
O novo número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Marco Cepik , afirmou nesta quarta-feira, 31, que todas as descobertas feitas até agora pela Polícia Federal apontam o funcionamento de uma "Abin paralela" durante o governo Jair Bolsonaro (PL). Cepik foi nomeado para o cargo de diretor adjunto do órgão anteontem, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitir Alessandro Moretti, que era ligado a Bolsonaro.
"Todos os indícios que se tem é de que havia, sim, (uma estrutura paralela na Abin)", disse Cepik em entrevista à GloboNews. "Temos que aguardar o final dos processos investigatórios nas instâncias para verificar a comprovação não apenas de que se houve, mas de quem estava ali." Para o novo diretor, o software FirstMile, que é capaz de detectar um indivíduo com base na localização de aparelhos que usam as redes 2G, 3G e 4G, era feito para "bisbilhotar pessoas" e não era condizente com as funções da Abin.
Inquérito da Polícia Federal apura a suspeita de uso indevido da Abin para monitorar pessoas consideradas adversárias de Bolsonaro. Na semana passada, a PF vasculhou endereços do ex-diretor do órgão e hoje deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ). Na última segunda-feira, nova fase da investigação atingiu o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente.
'Captura'
Cepik disse que as instituições foram "fortemente atacadas" durante o governo Bolsonaro. Para ele, houve uma "tentativa de captura" de órgãos estratégicos na gestão anterior. Cepik ainda rechaçou a suspeita de conluio entre atuais servidores da Abin e investigados. Moretti caiu por supostamente ter dificultado as apurações da PF sobre monitoramentos ilegais.
Segundo o diretor adjunto, a Abin criou uma sindicância no ano passado, assim que as primeiras informações sobre o software espião utilizado pela agência repercutiram. "A ideia de que há um conflito entre Polícia Federal e Abin ou que há um grande conflito de pessoas dentro do governo não me parece correta. Não existe a Abin do Lula, não existe a Polícia Federal do Lula, existem as instituições republicanas voltando a funcionar", afirmou Cepik.
Perfil
Lula queria um nome técnico para a Diretoria Adjunta da Abin, e seguiu a indicação do diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa. Cepik ocupava o cargo de diretor da Escola de Inteligência da Abin desde abril de 2023. Doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desde 1995, Cepik é um dos maiores pesquisadores do País nas áreas de inteligência de Estado e governança digital.
Foram de Cepik as propostas adotadas pela transição de governo que reformularam a estrutura da Abin na atual gestão. Ele sugeriu, por exemplo, que postos de comando, então ocupados por militares, voltassem ao controle de civis.